13 de Janeiro não precisa de nenhuma outra coisa – Padre Fidalgo

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“O 13 de Janeiro tem de ser visto como data autónoma. Representa muita coisa e não precisa de nenhuma outra coisa”. Esta é a convicção do Padre António Fidalgo de Barros, uma das vozes que denunciou muitas das atrocidades do Partido Único, que vigorou em Cabo Verde entre 1975 e 1991

Ao OPAÍS.cv, por ocasião do 30.º Dia da Liberdade e Democracia, o Frei Capuchinho que dirigiu o Jornal Terra Nova naqueles tempos delicados, observa que o dia hoje assinalado “veio completar” o que faltou ao 5 de Julho, Independência nacional, que segundo observou, “nasceu coxo”.

“O 13 de Janeiro veio completar aquilo que faltava à Independência, o 5 de Julho (de 1975) que nasceu coxo”, disse, admitindo que “é preciso afirmar com muita força” e se deve aceitar o 13 de Janeiro “de forma descomplexada”.

No dizer no nosso entrevistado, o 13 de Janeiro “é importante” precisamente por ser “símbolo de um esforço, de luta” que houve em Cabo Verde e na emigração “e de várias formas”.

O Padre Fidalgo nota que desde a independência, em 1975, até o 13 de Janeiro de 1991, foram “15 anos de caminhada para esse dia importante”.

“Temos esse corolário e não se pode desvalorizar porque não foi apenas as eleições. O 13 de Janeiro representa todos esses anos de luta”, vincou, lamentando que no período de Partido Único tenha havido “sofrimento” e a violação dos Direitos humanos. “Alguém morreu, alguém foi torturado”, lamentou, para de seguida sentenciar que o 13 de Janeiro também representa “a vitória sobre todos esses males”.

Para o Padre Fidalgo que com seus editoriais no Jornal Terra Nova dava combate às atrocidades do Partido Único, PAIGC/CV, “não vale a pena” estar-se a “desvalorizar” os primeiros anos e os anos seguintes ao 13 de Janeiro de 1991 até chegarmos aos 30 anos hoje completados. “Todos esses anos são a continuação do 13 de Janeiro, com altos e baixos, naturalmente. A bandeira do 13 de Janeiro, ninguém ousou deitá-la abaixo”, precisou.

Instado sobre a data e a liberdade religiosa em Cabo Verde, o nosso entrevistado sublinhou e enalteceu a liderança do então Bispo de Cabo Verde que “não se sujeitou” ao regime de então. Segundo observou, Dom Paulino Évora, “cultivou com toda a normalidade” as relações institucionais com o poder político de então, “respeitou mas não capitulou e não levou a Igreja a capitular. Não se sujeitou e não deixou que a Igreja se sujeitasse de qualquer forma”, recorda.

Com o anúncio de que o regime de Partido Único ia cair, lembra o Padre natural da Ilha do Fogo, a Igreja “viu a necessidade” de consciencializar os cristãos para darem um “bom contributo” para o novo momento que se anunciava.

“Os cristãos foram consciencializados com base na Doutrina Social da Igreja”, assegurou, destacando o papel da então Caritas Diocesana que produziu informação precisa sobre aquelas eleições.

“A Igreja manteve sempre a sua independência e dignidade, mas preservou as relações institucionais”, realçou, lembrando que mesmo depois da abertura política a Igreja continuou a sua missão de evangelização respeitando o Evangelho que ao ser anunciado “incomoda muita gente”.

“Dom Paulino deu o tom à vida cristã que devia dar nestes tempos”, recorda, admitindo que a Igreja Católica se sente orgulhosa do seu contributo ao País, particularmente no momento da transição ao multipartidarismo.

“A Igreja tem uma ação muito profunda nas comunidades, apesar de não fazer barulho/propaganda do que faz”, realça, sublinhando que a ação social e de consciencialização da Igreja “continua” ainda hoje.



2 COMENTÁRIOS

  1. Este sim, este o Nosso Herói Máximo. Que Deus lhe dê saúde. Este é o HOMEM, que Djarfogo, gentilmente emprestou a Cabo Verde. Enfrentou um exército, um regime despota, curiosamente, liderado por um outro de Djarfogo, mas ganhou. ‘David e Golias’, Fidalgo versus Pires. Abraço rijo Nho Padre.

  2. Ami, un staba rapazinho, na Praia, ta obiba kes murmúrios de conversa, em medo e escondido, de cada publicação de journal terra Nova, o mais solicitado na altura. Daí, começou a minha admiração, que bem posteriormente, veio a tornar-se em amizade, e com a família Barros, nos Estados Unidos de América.

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