Chefe de Estado e Presidente do MPLA fez um discurso para o interior do Partido e foi claro ao reiterar combate à corrupção e nepotismo
No discurso de abertura da reunião do Comité Central do MPLA, João Lourenço, pediu ao Partido que esteja atento e que denuncie as más condutas dos militantes que usam e abusam do poder, e recomendou a fiscalização das “ações do Presidente do Partido, da República, e do Executivo”, para que não caiam nas mesmas tentações.
O Presidente angolano denunciou a existência, no seio do Partido de “militantes que – a coberto do partido, e da sua condição de dirigentes – lesam gravemente o interesse público, cometem desmandos, arbitrariedade e abusos do poder em detrimento de pacatos cidadãos, evocando a figura caricata do “camarada ordens superiores” que deve ser banido e deve passar a ter nome e rosto”.
Na abertura da reunião que termina neste sábado, o Presidente do MPLA sublinhou a necessidade de intensificar o combate à corrupção, alertou para a participação direta do Partido que lidera no combate e na denúncia aos casos de nepotismo.
O líder do MPLA virou o discurso para a empresária Isabel dos Santos, que gere negócios em Diamantes e Cimento, e para o gestor José Filomeno dos Santos, mas sempre sem os nomear.
“O Partido deve ser o primeiro a levantar sua voz sempre que surgem sinais preocupantes de constituição dum império económico de uma família, uma pessoa, seja quem for, sobretudo quando são usados fundos públicos em empreendimentos, e depois aparecem privatizados. O Partido deve condenar e impedir que as empreitadas das grandes obras públicas tais omo portos, pontes, aeroportos, cimenteiras, sejam entregues aos nossos filhos ou familiares, se não obedecerem às regras de concurso público”.
João Lourenço alertou ainda que “o Partido não deve aceitar nunca o monopólio de um único grupo económico na comercialização de um produto valioso como os diamantes, o que pode ter como consequências a fuga das multinacionais”, referindo-se às referentes declarações de Isabel dos Santos.
“De forma pouco responsável”, se confiou a “um jovem inexperiente” a gestão de biliões de dólares do País, referindo-se a José Filomeno dos Santos, que era Presidente do Fundo Soberano – no valor de 5.000 milhões de dólares, o Partido “não pode ficar indiferente, e tem de bater o pé perante tamanha afronta aos verdadeiros donos desses recursos, o povo angolano”.
“Quando tivermos coragem de assumir esta postura, então o País sairá a ganhar, porque, se o exemplo vier de nós, temos a certeza de que toda a Sociedade nos seguirá”, disse João Lourenço.
“Neste combate contra a corrupção, aqueles que vêm perdendo privilégios auto-adquiridos ao longo de longos anos deviam ter a sensatez e humildade de agradecer a este povo generoso por lhes ter dado essa possibilidade, e não se fazer de vítimas, porque a única vítima do seu comportamento ganancioso foi o povo angolano”, frisou.
João Lourenço deixou ainda um recado à empresária Isabel dos Santos que, numa série de mensagens publicadas na rede social Twitter, na véspera da viagem do Presidente a Portugal, afirmou que “a situação está a tornar-se cada vez mais tensa em Angola, com a possibilidade de se juntar à crise económica existente uma crise política profunda”. A isso, respondeu João Lourenço que “só mesmo a falta de patriotismo pode levar um cidadão nacional a desencorajar o investimento privado estrangeiro no seu próprio País. Surpreende-nos o facto de cidadãos angolanos invocarem, quem sabe mesmo desejarem e até mancharem uma provável instabilidade política num País como Angola, já bastante martirizado por anos de conflito, mas tratando-se de um assunto de segurança nacional, com certeza vamos acompanhar com a seriedade que o assunto requer”, declarou.
RFI