8 de Março. Dia Internacional das Mulheres: Dia de festa ou para reflexões?

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Esta data, na qual se comemora o Dia Internacional das Mulheres, tem todo um contexto histórico à volta, por isso deve ser levada em consideração.

Segundo a história, foram cerca de 129 mulheres queimadas vivas em Nova Iorque por reivindicarem melhores condições de trabalho, em 1827. Este episódio representou um marco na luta das mulheres, sendo lembrado e comemorado desde 1920 em vários países, incluindo em Cabo Verde.

No entanto, foi somente em 1975, data importante também na história de Cabo Verde, quando a Organização das Nações Unidas instituiu o Ano Internacional da Mulher, que o 8 de Marco ficou reconhecido mundialmente como uma data ligada aos “direitos igualitários”.

É ainda crucial relembrar um outro acontecimento trágico: no dia 25 março de 1911, 146 trabalhadoras, sobretudo jovens imigrantes, teriam morrido num incêndio, depois de a administração ter ordenado o encerramento dos portões da fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

Há vários registos históricos de grandes manifestações coletivas de mulheres operárias, organizadas tanto em 1908, em Nova Iorque, como nos anos subsequentes. Em 1912, em Lawrence, em Massachusetts, designadamente, milhares de mulheres marcharam pelas ruas da cidade.

Ao erguerem cartazes com a inscrição Bread and Roses, clamavam por salários dignos (pão) e melhores condições de vida (rosas). A verdade é que não há consenso acerca do acontecimento mais diretamente associado à evocação do 8 de Março, embora ninguém duvide que a data assinala o percurso combativo e coletivo de muitas mulheres, assim como as principais conquistas sociais, políticas e económicas já alcançadas. Além da celebração das conquistas, a data sugere a relevância dos diagnósticos que evidenciam a persistência de discriminações nas várias esferas da vida social, as violações dos direitos humanos que ocorrem por todo o mundo, além das várias sombras mais próximas e recentes.

A respeito do nosso País, Cabo Verde, é importante frisar a situação de enorme vulnerabilidade laboral e social em que se encontram muitas mulheres. Observando os últimos dados disponibilizados pelo INE juntamente com o Instituto Cabo-verdiano para a Igualdade e Equidade de Género, entre o ano 2005 e 2019 houve uma diminuição da proporção de violência física nas mulheres, cerca de 10 pontos percentuais.

A instituição por sua vez tem realizado várias ações no País para o combate à VBG, incentivando à denúncia dos casos, mas também pedindo uma aposta na educação para a tolerância, respeito, Paz e não violência.

Nesta mesma linhagem, de acordo com o relatório anual sobre a situação da Justiça, referente ao ano judicial 2020/2021, elaborado pelo Conselho Superior do Ministério Público, transitaram para o atual ano judicial, iniciado em 31 de julho, um total 2.025 processos de crimes de VBG, dados que considero ser preocupante e vergonhoso. Tudo isto, para afirmar que mais que metade das nossas mulheres em idade ativa não tem assegurada a sua independência económica.

Eu como uma jovem, mulher e ainda Cabo-verdiana são estas algumas dimensões que espero ver integradas numa reflexão estratégica sobre o futuro do País. Entretanto, olhando de fora é justo recordar as vozes, as manifestações, a coragem, a tenacidade de todas as mulheres que não desistiram e de todas as que não se resignam.

É também este o sentido do dia 8 de Março.