A ditadura colonial foi também dura, odiosa e repugnante, mas ela se manifestava, sobretudo, contra aqueles que se rebelavam através de acções contra o sistema instituído.
Se compulsarmos devidamente os dados e as informações daquele regime – que todos nós odiamos e contra o qual muitos caboverdeanos lutaram – chegaremos à conclusão de que a ditadura colonial não tinha em Cabo Verde as estruturas que o partido único dispunha no país. O regime colonial dispunha sobretudo da PIDE/DGS, a polícia política do regime, que procurava controlar tudo e reprimia os focos de resistência e de descontentamento. Mas, quantos agentes a PIDE tinha em Cabo Verde? É claro que havia outras estruturas do regime, mas a repressão directa e o controle foram exercidos pelas estruturas e agentes da PIDE. Estou em condições de afirmar que o regime colonial não controlava de todo as instituições judiciais em Cabo Verde. Ainda muito jovem, lembro-me de um célebre julgamento de um grupo de presos políticos da PIDE, que foi realizado na Praia e onde todos eles foram absolvidos. Entre esses presos estavam familiares meus. Foi nesse julgamento que tivemos a corajosa defesa do célebre advogado Dr. Rozinha!
Contrariamente, no regime do partido único os juízes eram selecionados a dedo pelo governo e pelo seu chefe Pedro Pires! No regime do partido único havia múltiplas estruturas de repressão e de defesa do regime. Em primeira linha, havia o Estado inteiro, que foi instalado para controlar todo o território nacional e toda a movimentação dos caboverdeanos dentro e fora do país. Havia estruturas da Polícia Política no exterior, que serviam para controlar os estudantes, o movimento das organizações de oposição sediadas no exterior, e os emigrantes. Havia a temida Polícia Política, com redes montadas por toda a sociedade e instituições públicas e privadas do país. O controle era extensivo e severo!
Não foi por acaso que em 1991 o Paicv roubou todos os arquivos da antiga Polícia Política e até hoje nenhuma autoridade teve a coragem de exigir a sua devolução ao seu dono: o Estado de Cabo Verde. Assim, o povo caboverdeano ficou cerceado de conhecer uma boa parte das podridões e as crueldades do antigo regime! Eles sabem e sabiam o que de mal fizeram ao povo das ilhas!
Havia as temidas estruturas das Milícias Populares, montadas em todo o território nacional!
Havia os Tribunais Populares que punham os ignorantes a julgar e a castigar os cidadãos! Assim, o controle e a repressão das estruturas do regime do partido único eram mais duras, mais intensas e mais destruidoras dos cidadãos e das famílias caboverdeanas do que da época colonial. Por exemplo, na época colonial não havia a célebre autorização de saída, que era um calvário para os caboverdeanos que queriam viajar para o estrangeiro. E quem dava essa autorização era a Polícia Política! No regime do partido único julgavam-se cidadãos pelos ignorantes juízes dos Tribunais Populares! Os ignorantes agentes das Milícias Populares controlavam a vida das pessoas nos Bairros em todo o país! Essas estruturas cometeram vários crimes contra a população indefesa! O altamente condenável caso de 31 de Agosto de 1981 ilustrou e demonstrou tanto aos caboverdeanos e à Comunidade Internacional como era duro, implacável e torturador o regime imposto a partir do dia 5 de Julho de 1975. A Cruz Vermelha Internacional teve que vir a Cabo Verde, para fiscalizar a situação dos presos políticos do 31 de Agosto, tantas foram as denúncias das organizações da oposição sediadas no exterior. Essas denúncias foram feitas junto das Nações Unidas. Os mais jovens não viram, não viveram e ainda ninguém lhes contaram quão duro e triste foram os dias e as noites vividos durante a ditadura dos ditos “libertadores”! Foi um regime inspirado no regime cubano e em outras ditaduras socialistas da época! Em boa hora chegou o 13 de Janeiro de 1991. O povo das ilhas, após uma luta paciente e pacífica, que demorou 15 anos, libertou o povo das ilhas das mãos sangrentas dos ditos “libertadores”! O povo das ilhas trouxe ao povo das ilhas o presente mais lindo que um ser humano possa ter : a VIDA – a liberdade e democracia! Daí a importância da luta do povo destas ilhas e tendo na vanguarda os que, corajosamente, durante 15 anos não tiveram medo de enfrentar o duro regime implantado nas ilhas pelos ditos “libertadores”! Bem haja o 13 de Janeiro de 1991!
Bem, aqui há um aspecto am esclarecer. Quando se fala do período colonial há que referir a ditadura colonial fascista uma introdução de Salazar quando subiu ao poder. Anteriormente, havia toda a situação colonial com a sua carga de exploração dos recursos e subordinação de certas camadas da sociedade. Os cabo verdianos podiam reclamar , pertencer a partidos políticos e até exigir a independência. Com a ditadura de Salazar tudo isso acabou. Voltando ao tema, a ditadura de Pedro Pires foi pior por que já tinha havido o 25 de Abril e os cabo verdianos adquiriram hábitos de liberdade de expressão e outros direitos da democracia. Com o PAIGC tudo isso acabou e a polícia política de Pedro Pires era pior do que a PIDE. Aqui o articulista tem toda a razão
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