A Invasão da Ucránia pela Rússia: os Impactos em Cabo Verde

Sou obrigado a fazer referência ao Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de
Sousa que disse, na sequência da reunião do conselho da república, “que pelo
que já aconteceu, a guerra terá custos enormes na vida de todos”.

Sem querer alarmar à população, mas este não é momento de vendermos
facilidades aos Cabo-verdianos! É importante estarmos cientes que o tempo
que temos pela frente será de dificuldades acrescidas.

O mundo está perante uma guerra de dimensão, duração e consequências
imprevisíveis que acrescenta ainda mais riscos a uma economia mundial
debilitada, que já vinha lutando contra a escalada de preços, consequências
das crises energética e logística que derivaram da pandemia.
Agora temos uma nova vaga, muito mais agressiva que surge da guerra e das
sanções que a Rússia tem sido alvo.

Isto tudo gerou um impacto financeiro imediato na aldeia global, com os
mercados financeiros a caírem a pico, o preço do petróleo a disparar e vários
outros bens, nomeadamente, os cereais e minérios como o alumínio e nikel,
fundamentais para a industria automovel, produzidos tanto pela Rússia como
pela Ucrânia.

Rússia é simplesmente um dos maiores produtores de energias (petróleo e
gás) do Mundo. Representa 10% do Mercado Mundial de Petróleo. A União
Europeia importa da Rússia cerca de 50% do seu gás natural e ¼ do seu
petróleo.

Ucrânia e Rússia juntos representam 30% da produção mundial de cereais.
Enquanto a guerra se manter, isso tudo estará interrompido com
consequências graves para a economia mundial que, como disse inicialmente,
já estava debilitada e a lutar contra a galopante escalada de preços.
Neste contexto, Cabo Verde, como pequena economia mundial, que depende
quase, exclusivamente, da exportação da Europa, é impactado diretamente

pela escalada de preços a nível internacional e já sentimos os primeiros
impactos, com um aumento exponencial do preço do óleo.
O Governo anunciou que está a desenhar algumas medidas para mitigar os
efeitos da guerra e a escalada dos preços. Temos a plena consciência da
pouca margem que tem! A folga orçamental é reduzida ou quase inexistente,
quer para novas despesas como para abrir mãos de receitas, mas temos de
encontrar espaço e recursos para proteger os Cabo-Verdianos, sobretudo
aqueles que estão mais perto do limiar da pobreza.

Estamos também cientes de que a resolução definitiva deste problema só será
possível com uma atuação a nível global. Para conter a escalada precisamos
das duas uma: injeção do petróleo que possa compensar a saída da Rússia do
mercado; ou o fim da guerra e retoma da normalidade. Caso contrário teremos
a escalada dos preços até se atingir o equilíbrio com a procura. As projeções
não são nada positivas ou animadoras.

A esperança reside nos Estados Unidos da América onde o Presidente, Joe
Biden, anunciou o recurso às suas reservas e fez um grande apelo aos
parceiros para aumentarem a oferta. Mas temos de esperar!

Nós aqui em Cabo Verde, temos uma única certeza, continuar a ser resilientes,
canalizar toda a nossa energia, toda a nossa inteligência e recursos para fazer
face a mais esta priocupante crise, que pelos vistos é de ainda maior impacto.
O momento é para a contenção nas despesas e para uma maior poupança.
Com a graça de Deus saberemos vencer, mais uma vez, esta dificuldade.