A realidade paralela de algum sindicalismo

Em todo o mundo os trabalhadores e as suas organizações sindicais lutam para conseguir as melhores condições de trabalho e os melhores salários possíveis. É natural e essa é a essência do sindicalismo.

Porém, estas exigências são feitas dentro da razoabilidade e nas negociações chegam-se a entendimentos com cedências de parte a parte.

Em Cabo Verde, alguns sindicatos estão a pedir um aumento brutal de 36 porcento (%) e não estão disponíveis a negociar menos do que isso.

Ora, isso mostra falta seriedade por parte de quem apresenta estas exigências. Não há paralelo em nenhuma outra latitude. Os aumentos de salários têm por intuito repor o poder de compra, levando em conta os valores da inflação. Mesmo em contextos de crise, como a que estamos a viver, não temos uma inflação na ordem dos 36%. A inflação prevista para 2024 ronda os 5%.

Quem governa tem a responsabilidade de procurar soluções para aqueles que trabalham e que devem ver reposto o seu poder de compra, mas também tem que olhar para aqueles que não trabalham e não têm rendimentos.

Ao aceitar a brutal proposta de um aumento de 36% a mais de seis mil trabalhadores, o governo teria que  cortar nos apoios sociais,  acabar com a isenção de propinas, voltar a pagar seis contos às cozinheiras das cantinas escolares, como acontecia antes de 2016, reduzir o número de beneficiários da pensão social, acabar com a tarifa social de água e eletricidade, repor o IVA a 15% na eletricidade e água, aumentar os impostos, e assim por diante.

Esta proposta não é razoável e não está a ser feita para ser aceite, até porque, durante as negociações, os sindicatos recusaram até três promoções automáticas para os professores, que iriam dar um aumento significativo aos docentes, com efeitos a partir de julho de 2024.  Não aceitaram porque estes sindicatos não querem aceitar, vivem numa bolha, numa realidade paralela que os impede de entender o mundo com razoabilidade.