Adeus “TCHIBIA”. Morreu um soldado da Liberdade!

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Faleceu na cidade da Praia o senhor Alcebíades Aristoteles da Silva, mais conhecido por TCHIBIA. À sua maneira, este natural da ilha do Fogo foi o maior resistente ao regime do partido único e suas mazelas.

Não o fazia de forma clandestina. Ele desafiava as autoridades aberta e constantemente.

De forma pública, sem se esconder de ninguém, combatia o Paigc, depois o Paicv, praticamente, todos os santos dias. Ele urdia sozinho várias formas de luta. Lutava à sua maneira.

Durante o regime que ele classificava de ditadura, tinha por hábito permanecer à porta do Tribunal da Praia e tentar aperceber quem iria ser julgado em processos crimes. Não poucas vezes, ele, voluntariamente, oferecia aos réus o seu préstimo como testemunha do processo. Pedia-lhes apenas que lhe contasse o essencial e dizia-lhes o resto deixem comigo.

Curioso é que ele entendia essa ajuda voluntária aos réus como uma forma de ajudar as pessoas a defenderem-se contra o regime.

Ele nunca esperava que os agentes do regime, a quem chamava de cachorrinhos da Polícia Política, fosse ter com ele. Era ele que os provocava permanentemente.

Na língua do Fogo, falava mal contra o regime, contra as autoridades políticas do Paigc/Paicv. O seus alvos preferidos eram o Aristides Pereira e Pedro Pires.

O Tchibia passava a sua vida a tentar mobilizar as pessoas contra o regime. Não perdia uma única oportunidade, para lançar veneno contra o regime de partido único. Nessa tarefa, foi sempre incansável.

O Tchibia era uma figura pública e todos o identificava como o homem contra o regime. Por causa disso, muitos fugiam dele. Mas, ele não se importava.

Por causa da sua rebeldia contra o regime, que ele classificava de ditadura e opressor, foi julgado e condenado a seis meses de prisão. Cumpriu com muito orgulho a pena na Cadeia Civil da Praia, aonde é hoje o Hotel Trópico. Três meses depois, com a metade da pena cumprida, o carcereiro, portando nas mãos os documentos vindos dos Tribunais, abre a porta da cela e convida Tchibia para arrumar as suas coisas pessoais, porque ia ser libertado condicionalmente.

Aconteceu o que ninguém esperava. O Tchibia reagiu de forma violenta à ordem que acabava de lhe ser comunicada pelo carcereiro.

“Senhor carcereiro, com todo o respeito, eu não vou aceitar esta ordem. Eles querem me perdoar, mas eu não aceito. Fui condenado a seis meses de prisão, já cumpri três, faltam-me mais três meses, eu prefiro morrer do que aceitar essa ordem; eles querem humilhar-me, eu não aceito favores desses carrascos e opressores”.

O carcereiro, não esperando tal reação, pois que era a primeira vez que ouvia tal coisa da boca de um condenado, um pouco desorientado, disse ao condenado que ele tinha de cumprir a ordem do Tribunal. “Tudo o que não quero é ter problemas com o Tribunal; o senhor não me vai criar problemas; faça o favor de arrumar as suas coisas e tem que sair da prisão imediatamente; ordens são ordens”.

O Tchibia voltou à carga, gritando para o carcereiro  “eu não vou sair e ninguém me tira daqui; fui condenado a seis meses de prisão, já cumpri três meses e ainda faltam-me mais três meses; eu já sei quem me preparou essa merda; conheço essa malandragem; foram os malandros do Paigc que ordenaram os juízes para me libertarem, não pode ser outra coisa, foram esses malandros…conheço essa gente manhosa que veio da Guiné-Bissau…”.

O carcereiro já perdido da cabeça volta a insistir com o Tchibia. Este continuou a sua resistência. “Eu não vou sair; já lhe disse que não aceito favores de ditadores, daqueles malandros…querem me perdoar três meses, mas eu não quero, não aceito favores nem do Aristides Pereira e muito menos do Pedro Pires, esse ditador sem alma…”.

A situação só ficou resolvida com o reforço dos agentes policiais que vieram da esquadra da Praia. Com o uso da força expulsaram o Tchibia da prisão.

Em varias ocasiões e por várias vezes o Tchibia foi preso pelos agentes da Polícia Política. Lembro-me pelo menos uma vez em que aquela tenebrosa polícia mandou prender o Tchibia, ficou detido num dos quartéis militares da Praia por alguns dias, onde foi duramente torturado, tendo-lhe partido os braços, costelas e outros graves ferimentos.

Não me lembro se Tchibia esteve também preso na altura em que a Polícia Política mandou prender várias pessoas na cidade da Praia, com o argumento de que estavam a preparar um golpe de Estado. Estou quase certo que sim. Mas, não tenho a certeza. Há fontes que podem confirmar isso.

Pois que os arquivos da temida Polícia Política desapareceu milagrosamente com a queda do governo de Pedro Pires!

Desapareceu…e pronto…lá se foi um arquivo vivo de 15 anos da história negra deste país! Da história de como o regime perseguia, prendia e torturava os cidadãos cabo-verdianos. Sei e outras pessoas também sabem em que mãos para o tão precioso arquivo da perseguição.

Sei que foram várias as torturas sofridas pelo Tchibia, várias as prisões realizadas contra ele, mas este resistente/combatente da ilha do Fogo nunca mudou de carácter, de postura e de princípios que defendeu com muita honra.

É claro que os assuntos tratados nesta nota corresponde uma pequena parte da história do combatente, que é natural da mesma Terra que Pedro Pires, mas que viveu a maior parte da sua vida na cidade da Praia.

Faleceu um resistente. Um firme combatente contra o regime do partido único. Tudo o que Tchibia almejava era a liberdade e a democracia para o seu país.

Lutou e venceu!

Lembro-me de uma longa entrevista que o Tchibia concedeu a um jornal do MPD.

Lembro-me ainda da alegria que brotava dos olhos deste combatente com a vitória do MPD no dia 13 de Janeiro de 1991. Ele chorava perdidamente de alegria!

Que se preserve a história deste combatente! Glória e paz à sua alma. Aos familiares e amigos os meus respeitosos pêsames.



4 COMENTÁRIOS

  1. Poucos sabem, um pouco por culpado MpD, que Tchibia for preso e turturado durante semanas pela polícia política da ditadura do paicv, sob a alegação de estar a preparar um golpe de estado em Cabo Verde, com ajuda de três amigos na Vila Nova e Achada São Filipe. As armas, segundo a acusação, eram catana e vara paus. Até onde vai a loucura do paicv. Os jovens que hoje correm atrás do paicv, não têm a ideia do sofrimento que este grupo político terrorista já provocou às famílias crioulas. Tchibia foi preso, quando o pai da Janira era ministro da justiça, Janira da opadcv e JMN xefao da jaaccv.

  2. TCHIBIA, para alem da tortura que sofreu nas maos de carrascos a mando dos poderosos do regime negro do Paigc/cv com o silencio cumplice do Ministerio Publico e da hierarquia da Igreja Catolica de entao a min, a dor maior tristeza que vi nesse HOMEM foi, o branqueamento e a promocao, que os seus carrascos tiveram na II Republica sob a administracao do MpD.

    Imaginem o desgosto deste HOMEM quando ouviu de que Pedro Pires e pai da democracia caboverdiana.

    Imaginem o desgosto deste HOMEM que sofreu pelos direitos e Justica dos caboverdianos vendo carrascos dele na Presidencia da Republica e, passo seguinte iluminando e “prestigiando” uma convencao democrata algures ocorrido nas ilhas.

    Tanto humilhacao mas venceste TCHIBIA.

  3. Rumores pululam que o Sr Fernadinho B. Teixeira tera transferido muita quantia para a conta do pai ja falecido. Investigacao precisa-se e urgente..!

  4. Perguntem ao Rui Araújo, o tal democrata que hoje dá lições de democracia e escreve no Santiago Magazine, quais foram os crimes do Tchibia. O maior crime deste país foi não ter acabado com esta organização criminosa que é o paicv.

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