AGOSTINHO ABADE: Há muito pioneirismo com entusiasmo de desenvolver projetos

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Patrão do Oásis Atlântico, grupo hoteleiro com presença no Sal, Mindelo e Praia, Agostinho Abade conversou com OPAÍS acerca dos investimentos em Cabo Verde e anunciou um novo pacote de investimentos que também incluem Marrocos, onde Oásis tenciona inaugurar um hotel no próximo mês de junho

O novo plano estratégico do grupo Oásis contempla investimentos no Tarrafal de Santiago, em que o projeto já foi apresentado no passado mês de janeiro, ao mesmo tempo que prevê a expansão do negócio em São Vicente e no Sal. Já a ilha da Boa Vista vai depender da dinâmica do mercado, indicou Agostinho Abade que admite que o mercado turístico de Cabo Verde vai registar quebra de competitividade, com as sucessivas crises que estão a afetar a Europa.

Numa conversa descontraída e muito informal, Agostinho Abade recorda-nos como surgiu a paixão por Cabo Verde. Foi por ocasião de uma passagem de ano, ele e um grupo de amigos foram à ilha do Sal e tudo começou. Duas décadas e meia depois, Oásis está de pedra e cal, garante o seu patrão para quem, apesar de o Oásis perseguir sucesso o seu grupo não “toca e foge”.

OPAÍS – O Dr. Agostinho Abade começou no turismo em Cabo Verde já la vão uns 25 anos. O que lhe despertou o interesse por Cabo Verde?

AGOSTINHO ABADE – Começou com uma visita num fim de ano, com mais dois casais amigos, e foi paixão à primeira vista. Digamos que o que despertou foi a morabeza, as pessoas no Sal ondem estivemos, gostamos tanto que ficou o bichinho e foi crescendo.

Era a primeira vez que vinha a Cabo Verde…

Era. Um amigo convidou-nos para a passagem de ano, adoramos!

Quisemos comprar um ativo que era da companhia de fomento, só um ano e meio depois é que soubemos que eles só vendiam tudo, então compramos, e a partir daí veio o hotel Porto Grande, em São Vicente, vem depois a compra dos hotéis do Estado, em seguimento a criação do Grupo Oásis Atlântico, e vem este crescimento e esta estabilização em Cabo Verde.

Porto Grande é o vosso primeiro hotel em Cabo Verde.

Sim, o primeiro.

Entretanto, o governo já tinha levado a hasta pública a privatização dos hotéis do Estado que tinham sido ganhas por emigrantes, mas parece que o dinheiro nunca apareceu, e como viu a forma como nós cumprimos o desejo do governo de ter o novo Porto Grande reaberto a tempo da FIC, achou que nós tínhamos capacidade, analisamos o dossiê, negociamos e cá estamos.

E esta paixão foi crescendo, crescendo…

Sim, cresceu, cresceu, através da cultura, da história, de muitos amigos e temos hoje um conhecimento profundo da realidade Cabo-verdiana.

25 anos depois, como está o grupo Oásis?

Atingimos uma plataforma de crescimento e sustentabilidade financeira boa, temos a nossa base principal em Cabo Verde e temos dois hotéis em Fortaleza, Brasil. São unidades alugadas, mas em Cabo Verde os hotéis são nossas propriedades. Vamos ter um terceiro polo de expansão, em Marrocos, onde através de um empresário local vamos abrir, em junho, um novo hotel com capacidade para 614 quartos.

E em Cabo Verde, como está a expansão?

Recentemente elaboramos o nosso projeto de longo prazo, para 10 anos, e ali consta como intenção triplicar a atual dimensão do grupo. Um dos eixos de expansão é Tarrafal de Santiago. Temos também um projeto grande de um terceiro hotel no Sal, e outros dois para a Boa Vista, um em Sal Rei e outro em Chaves, e a expansão do hotel Porto Grande.

Para Tarrafal, o que se quer em concreto?

Tarrafal é um processo que tem várias vertentes para nós. Pouco já foi feito até agora mas um trabalho coletivo pode permitir lançar Tarrafal como um forte destino.

Tem que haver a perceção de que Santiago é uma ilha e a região Sul está mais desenvolvida mas não será para um turismo de sol e mar, mas sim de congressos e de eventos. Na região Norte, Tarrafal é a grande aposta.

Será um turismo há semelhança do Sal e Boa Vista?

Não, não, não só. Será de sol e mar mas não exclusivo. Pensamos num turismo de cultura, de natureza e trekking e um turismo sénior em que o Tarrafal tem condições boas para este nicho.

A Cidade do Tarrafal, sobretudo a parte central, tem condições para atrair os turistas. E os nossos investimentos poderão e deverão fazer surgir diversos empreendimentos de artesanato, de restaurantes, de bar, da cultura, de música ao vivo…

Portanto é um investimento que permite alavancar a economia local…

Exatamente. E um investimento que vai permitir consumir produtos da Região. E com a concessão dos transportes marítimos à Transinsular e a resolução dos transportes aéreos, pensamos que há condições para que os hotéis do Sal e da Boa Vista possam consumir mais produtos Cabo-verdianos e menos produtos importados.

Que contributo o Oásis poderá dar ao País nesta nova fase do turismo nacional?

O que tem sido sempre. Prometemos um grupo que respeita as autoridades e as leis, não somos um grupo que toca e foge. Não estamos aqui para atingir um certo patamar para depois vender e ir embora. Prometemos muito entusiamo, como sempre. É claro que as empresas querem ganhar dinheiro mas há muito pioneirismo com entusiasmo de desenvolver projetos.

Neste momento estamos a desenvolver com a Câmara Municipal do Sal uma nova centralidade em Fátima, para albergar em condições sociais mais corretas as pessoas que vão de outras ilhas para trabalhar no Sal. Já temos o master plan global e vai nascer o Bairro Oásis e a nossa intenção é crescer, mas dando aos nossos trabalhadores oportunidades de melhor alojamento e já estamos a pensar num projeto semelhante para a Boa Vista.

Já agora, qual a previsão para os vossos investimentos em Sal Rei e Chaves?

Depende sobretudo do mercado.

Acho que Cabo Verde vai agora atravessar uma fase de não muito crescimento no turismo. Há alguma crise, sobretudo político, na Europa, menos crescimento económico, o Brexit, as eleições antecipadas em Espanha, Itália e a França no meio de uma confusão e em paralelo a isto o aparecimento de mercados muito mais baratos que Cabo Verde. Em termos de competitividade, Cabo Verde vai perder um bocadinho e diariamente está a perder. Basta ver que uma família passa uma semana no Egito ou na Turquia por metade do preço que paga em Cabo Verde.

Há aqui um receio do Oásis…

Há um receio de que o crescimento do turismo não seja tão rápido como queremos. É que ninguém vai construir hotéis se não há turismo. E Cabo Verde é um destino caro mas há outros pormenores que o torna mais caro, nomeadamente, a taxa de IVA, de entre outros.
Voltando ao Tarrafal tudo aponta para em junho de 2020 se ter a primeira fase concluída.
Dentro de três meses, no máximo, avançamos com o projeto da antiga Alfândega e o projeto da encosta vai avançar logo que tivermos acesso porque há-que ter acesso para camiões levar material lá acima.

Os apartamentos são em bungolows.

O eco resort vai ser mesmo um eco resort, é um turismo ecologicamente sustentável, tudo em bungolow, exceto a parte centrl onde fica a receção, restaurante principal e salas de reuniões, que terá alvenaria, mas uma construção num conceito aberto, com muita explanada.