Até Pelé, o futebol inventado pelos ingleses, os ídolos eram brancos

Pelé foi o primeiro futebolista negro aplaudido de pé no campeonato do mundo da Suécia. Pelé é muito mais do que os golos e dribles. É um novo paradigma.

A perenização do nome de Pelé – o maior jogador de futebol de todos os tempos – através da denominação do Estádio Nacional, não é só pelo facto de Pelé ser um génio do futebol. E defendo essa atribuição por três razões.

Como sustentação da primeira razão, transcrevo um texto que alguém me enviou, e que ajuda a enaltecer a dimensão de Pelé e o seu impacto mundial:

«Até chegarmos ao Pelé, o futebol, inventado pelos ingleses, era desporto cujos ídolos eram brancos.

Pelé foi o primeiro futebolista negro aplaudido de pé no campeonato do mundo da Suécia. Pelé é muito mais do que os golos e dribles. É um novo paradigma. Assim como Martin Luther King ajudou a mudar a perceção do homem negro pela conquista de direitos, Pelé mudou a perceção de que o homem negro e de origem pobre, não pode atingir sucesso. Demonstrou mais do que isso: ser o melhor dos melhores e ser idolatrado por pretos, brancos e amarelos».

Como bem diz Júlio Correia: «efetivamente, Pelé foi, além de um extraordinário ponta-de-lança e goleador, alguém que conseguiu quebrar vários paradigmas de elitismo e de racismo no futebol, brasileiro e não só, pelo seu mérito de desportista que batia todos os recordes e fez o Mundo, nos anos 60 e 70, considerá-lo Rei e admirá-lo como uma das grandes personagens do seu tempo. A partir de Pelé, foi possível franquear as portas do futebol aos postulantes de toda a parte do mundo e, só por isso, ele foi um dos sujeitos de grandes mudanças efetivas e simbólicas, hoje estudadas na sociologia política e na sociologia do desporto. E só por isso, em qualquer parte do mundo (no Brasil e não só) grandes homenagens a Pelé fazem sentido. Pelé foi e é mais do que os golos (marcou muitos) e dribles. É um símbolo, um paradigma».

A segunda razão, tem a ver com a história das relações entre Cabo Verde e o Brasil, que não pode ser contada em relação a outros países que têm ídolos como a Argentina do Maradona, por exemplo.

Tomo mais uma vez, por empréstimo, um extrato do texto do Dr. Júlio Correia: «é também uma homenagem ao Brasil, país com o qual temos ligações estreitas e ancestrais que muitos desconhecem. O Brasil foi povoado por muitos escravos de Cabo Verde e/ou passados por Cabo Verde nos séculos XVI, XVII e XVIII, muitos brasileiros e muitos cabo-verdianos tiveram contactos comerciais, culturais e políticos em tempos recuados e alguns Inconfidentes Mineiros foram exilados em Cabo Verde. Houve no século XIX um Partido Pró Brasil em Cabo Verde, que pleiteava a independência alinhada à Constituinte do Rio de Janeiro, por altura da independência daquele país em 1822; a marinha mercante brasileira manteve uma ligação regular pelo Porto de São Vicente nos primórdios do século XX e, como é sabido, os Claridosos foram influenciados pelos Regionalistas Nordestinos Brasileiros. Por outro lado, núcleos de progressistas brasileiros apoiaram a luta de libertação liderada por Cabral e o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a Independência de Cabo Verde, e o segundo país a oferecer mais bolsas de estudos aos quadros cabo-verdianos (a nata da diplomacia cabo-verdiana, por exemplo, foi formada no Instituto Rio Branco), para além da cooperação e da parceria ativas com Cabo Verde. E mais, o peso geoestratégico de Cabo Verde neste atlântico médio apenas ganha sentido porque existe este país amigo e esta potência no hemisfério sul que se chama Brasil».

A terceira razão decorre da iniciativa de atribuição do nome de Pelé ao Estádio Nacional, que coloca e já está a colocar Cabo Verde com um nível de notoriedade dos mais elevados, jamais conseguidos no Brasil e com reflexos na Europa. As vantagens serão enormes a nível desportivo e do interesse de um país – Cabo Verde – que é pouco conhecido, por exemplo, no Brasil.



4 COMENTÁRIOS

  1. O cliché da imitação do Brasil

    Meu irmão brazuca, aqui na terra as más línguas dizem que andamos a imitar o Carnaval do Brasil. Vê bem, o Entrudo chegou ao Brasil em 1723 pela mão de portugueses vindos das ilhas dos Açores, Madeira e Cabo Verde, o que faz com que a História do Entrudo/Carnaval nos nossos países seja quase coincidente. Em

  2. A questão não está na figura de Pele. Está na. Forma como a decisão é tomada. Mas, aqui, o autor comete um erro. Em 1958, poucos praienses sabiam o que acontecia em Santa Catarina, pior ainda o que acontecia em S. Vicente. As notícias eram telegráficas e na Praia apenas uns 20 % das famílias da Praia tinham um receptor de rádio de válvulas ao tempo. Os transistores chegaram a Cabo Verde nos anos sessenta. Dizer que os ídolos eram brancos é falso. Os amantes do futebol tinham acompanhado o campeonato do Mundo de 1959 e 1954 e o campeonato brasileiro era do conhecimento dos cabo verdianos por causa dos paqueres brasileiros que passavam por S. Vicente e daí para todo o arquipélago. O Primeiro-ministro julgando que maioria absoluta é poder absoluto decide e os seus seguidores apoiam. Ora os nomes a infra estruturas devem der encaradas no mais amplo consenso. Domingos Ramos da nome ao Liceu da Praia, por que o MPD quer, o mesmo em relação ao aeroporto. Os alunos do Liceu da Praia há muito pedem a mudança de nome e tem uma associação com o nome Liceu Adriano Moreira. Aqueles que acham que maioria absoluta é poder absoluto seguem os primeiro Ministro. Os democratas que acham que o povo é quem mais ordena, são contra. Que razão impede dar o nome de Pele ao primeiro estádio a ser inaugurado neste ano de 2023. Agora, a maior infraestrutura desportiva ter o nome de um estrangeiro ? O Estádio Nacional de Portugal não tem patrono, chama se estádio do Jamor. O nome ficaria como Estádio Nacional e mais tarde, teríamos uma oportunidade de homenagear um Nacional.

  3. brasil

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    Vê bem, o Entrudo chegou ao Brasil em 1723 pela mão de portugueses vindos das ilhas dos Açores, Madeira e Cabo Verde, o que faz com que a História do Entrudo/Carnaval nos nossos países seja quase coincidente.

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