Banco Central revê em baixa crescimento para 2022

Conflito na Ucrânia e a tensão geopolítica estão na base da revisão do Banco de Cabo Verde, anunciada esta sexta-feira, 5

O Banco de Cabo Verde, BCV, anunciou hoje a revisão em baixa e uma moderação do crescimento económico para 2022, no intervalo de 3,5% a 4,5%. O conflito na Ucrânia e a tensão geopolítica estão na base da revisão.

O Governador do BCV explicou que, com a guerra da Rússia na Ucrânia, as perspetivas económicas para este ano estão “fortemente influenciadas” pelos elevados níveis de incerteza e o aumento dos riscos e tensões geopolíticas e financeiras. E perante este cenário, o BCV prevê uma “moderação” do crescimento económico entre 3,5% e 4,5% para este ano. A anterior previsão apontava um prognosticado entre 4,7 e 5,6%.

“As projeções, face às divulgadas em outubro, refletem uma revisão em baixa do crescimento do PIB, como consequência da perda do poder de compra induzida pela subida da inflação e da revisão, em baixa, do crescimento das economias dos principais parceiros económicos do País”, sustentou Óscar Santos.

Antes do conflito da Ucrânia, notou o Governador do BCV, a economia Cabo-verdiana “seguia no caminho certo da recuperação”, com o PIB a crescer 7% em 2021, depois da recessão histórica de 14,8% em 2020, devido à pandemia da Covid-19.

Com o cenário atual, o BCV prevê ainda uma taxa média de inflação de 7,3% em 2022 – em finais de 2021 foi de 1,9% -, refletindo os elevados preços de matérias-primas energéticas e não energéticas e a sua transmissão aos preços internos. “O conflito, apesar de regional, teve consequências globais, alimentando, por exemplo, o aumento da inflação jamais visto nas últimas duas décadas”, reforçou.

Óscar Santos referiu que os primeiros sinais da inflação surgiram com a reabertura gradual das economias, num contexto de aumento da procura que não foi acompanhada pelo aumento da oferta, provocando roturas nas cadeias de abastecimento globais.

O responsável máximo do regulador do sistema financeiro em Cabo Verde considerou que a inflação poderá ter atingido o seu “pico”, esperando que comece a descer a qualquer momento, a não ser que a guerra na Ucrânia se prolongue por muito mais tempo.

Para os próximos seis meses, o BCV avançou que a política monetária deverá continuar “marcadamente acomodatícia”, considerando que as atuais pressões inflacionistas resultam, em grande medida, de choques na oferta internacional e não propriamente do aumento exacerbado da procura interna. Por isso, entendeu que uma eventual intervenção poderá não surtir o efeito desejado, mas considerou que os estímulos monetários são ainda fundamentais para promover a concessão de crédito à economia.

Por outro lado, garante o Governador, o ‘stock’ de reservas internacionais líquidas de Cabo Verde continuará a garantir pelo menos cinco meses de importações de bens e serviços projetados para 2022.