Cabo Verde, um farol no Atlântico Central

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Artigo de opinião publicado no Diário de Notícias, por Ribeiro e Castro

Cabo Verde teve eleições presidenciais neste domingo e, mais uma vez, ao encerrar o longo ciclo eleitoral, dá exemplos notáveis de democracia em África. Dá gosto seguir, acompanhar e apoiar a democracia cabo-verdiana.

Nas autárquicas de 2020, o MpD voltou a ganhar, embora com o PAICV a recuperar municípios e a encurtar e distância entre os dois principais partidos. Em Abril passado, o MpD repetiu a vitória de 2016 com maioria absoluta, sob a liderança de Ulisses Correia e Silva, o primeiro-ministro. Domingo, José Maria Neves, afecto ao PAICV, foi eleito Presidente da República para os próximos cinco anos. Vamos ter coabitação em Cabo Verde, neste quinquénio. Em Cabo Verde, respira-se democracia. Nada é estranho ou extraordinário, tudo faz parte da natureza e do carácter do país e do seu povo.

Carlos Veiga, afecto ao MpD, que ficou em segundo lugar, marcou muito o início deste caminho de democracia pluripartidária, iniciado em 1991. Venceu as primeiras eleições livres e chefiou o governo durante os anos 1990. É uma grande figura do país. Foi exemplar a forma como aceitou a derrota e felicitou o vencedor, José Maria Neves. Tem, aliás, no currículo outra prova rara, mais difícil e amarga, mas poderosa porque fundadora: em 2001, nas eleições presidenciais que elegeram Pedro Pires, Veiga perdeu a segunda volta por um quase nada: 0,01% da votação popular. Quantos países da Europa ou das Américas reconheceriam facilmente o vencedor apenas por pouco mais de uma dezena de votos, e vindos da emigração? Lembremos a eleição de George Bush (disputada com Al Gore) e as eleições de Trump, a que ganhou e a que perdeu. Em Cabo Verde, aquela margem minimíssima não perturbou a democracia, antes fortaleceu a sua seiva. É um facto só à altura dos genuínos democratas e de estadistas de eleição.

A democracia cabo-verdiana ficou sempre mais robusta, ciclo após ciclo. Ulisses Correia e Silva, primeiro-ministro, e José Maria Neves. Presidente, encontrarão por certo os melhores caminhos para elevar Cabo Verde e servir os cabo-verdianos e o seu progresso e bem-estar. De partidos diferentes e alternativos, ambos são políticos muito experientes e com provas dadas. José Maria Neves foi o primeiro-ministro antes de Correia e Silva, tendo vencido todas as eleições legislativas que disputou. Conhece bem os desafios prioritários, assim como as tarefas do governo e suas principais dificuldades. Por certo agirá para as aliviar. Correia e Silva está no início do segundo mandato e acaba também de receber clara confirmação popular. Está tudo de feição para que os mandatos de ambos revertam em reforço das instituições e constituam novo exemplo brilhante de Cabo Verde no continente e no mundo.

Quando trabalhei no Parlamento Europeu na definição e decisão da Parceria Especial UE/Cabo Verde, que celebra já 15 anos em 2022, foquei-me em que a democracia e o Estado de direito são o principal activo político de Cabo Verde, nos planos interno e externo. Interno, porque é esta democracia viva que beneficia e potencia o aproveitamento pleno dos recursos humanos do país, o seu maior capital. E externo, porque projecta para a Europa, as Américas, África e todo o mundo uma aura de crédito e de prestígio internacional que muito favorece o seu desenvolvimento. Os cabo-verdianos são um povo inteligente; e a sua maior inteligência colectiva está na sua democracia pujante.

É uma pena que Guiné-Bissau, Angola e Moçambique tardem tanto em seguir também este exemplo. A Guiné e Angola nunca realizaram sequer eleições autárquicas. Angola e Moçambique ainda não se livraram totalmente da cultura de partido único. Todos tardam em aceder àquele patamar em que as nações se consolidam, as sociedades prosperam e os países respiram saúde e liberdade. Não é difícil. Basta olhar o farol e seguir esse rumo.

 

Ribeiro e Castro – Advogado e ex-líder do CDS



9 COMENTÁRIOS

  1. Grande amigo de Cabo Verde e uma das competências do CDS e de Portugal. Sempre atento ao que se passa no nosso país; sempre disponível e amigo. Obrigado por mais esta boa análise, cheia de estímulo e de estima.

  2. O receio, entre nós, Sr Dr. RC é o JMN e o bando que o acompanhou nessas eleições, jogar no lixo tudo isto que levou anos a ser construído a perder. JMN não respeita os adversários, não respeita a democracia. Suas ligações ao regime do Maduro e aos barões da maçonaria não auguram bons tempos. Como bom marxista que ele é, vale para JMN os interesses dele e do grupo que representa. Por detrás da fala mansa, está um sujeito muito perigoso e uma ameaça à estabilidade do nosso sistema de governo. Por exemplo, prometeu um grande programa de habitação popular e social, mesmo sabendo que o presidente não controla o orçamento geral do Estado. Ele quer e deseja encurralar o governo para cumprir promessas que o próprio governo não fez em abril de 2021.

  3. José Mário Craveirinhos,
    Depois de ler um excelente artigo de opinião, aliás de quem sabe estar e fazer política, enaltecendo a maturidade democrática de Cabo Verde, o que nos orgulha imenso, lá vem o teu “post” desarticulado, insipiente e odioso, borrar a pintura. Esquece essas eleições, aceite democraticamente os resultados e deixe de debitar baboseiras.

  4. Osvaldo, deixe de ser bobo e puxa-saco. Usa a tua a cabeça e não tome emprestado a cabeça dos outros. Vá a escola e aprenda a discordar. Eu não comentei sobre o mérito ou demérito do artigo, muito menos questionei o resultado das eleições. Poderia até nem estar de acordo com o artigo. Por acaso até estou a 100%. E isso já é crime, falar sobre o caráter do PR? Por acaso virou crime pensar ou expressar, ou só posso exprimir aquilo que te agrada? Eu me exprimi sobre o caráter do vencedor e não sobre a justeza ou não do resultado das eleições que não está em causa. Ou seja, falou o Sr. Dr. RC, todos temos de bater palmas. Isso de bater palmas é emprego preferido de idiotas. É estranho que o artigo enaltece justamente a nossa diversidade e pluralidade democráticas, nossa capacidade de conviver com as nossas diferenças, e lá vem “esta coisa”, de nome Monteiro, achar que não são horas de ser diferente. Da próxima peço a sua licença para exprimir, seu idiota. Eu é que escolho a hora e o local para exprimir e não preciso nem da tua licença e muito menos do teu agrado ou consentimento. Toma juízo!

  5. obrigado Pela clarividente análise que embora seja uma opinião, mas creio que foi bastante objetiva do ponto de vista eleitoral e democrático.

  6. Excelente análise do Dr Ribeiro e Castro. Concordo em pleno com as observações do Sr José Mário Craveirinhos.

  7. Muito bem Ribeiro e Castro.
    Agora, falta, na democracia caboverdiana o POVO democratica e soberanamente em proximas eleicoes, sobretudo, as legislativas escolher a terceira via politica e mandar para as minorias parlamentar e democratica (oposicao) o Mpd e o Paicv, provando o amor a terra destes e banindo os oportunistas destes dois partidos que tao mal fizeram as ilhas e ao povo do farol atlantico.

  8. Em cabo Verde falta-nos investir e muito na cultura da Tolerância e Respeito pelas opiniões contrárias. Discordar da opinião do outro não tem que necessariamente levar-nos para agressão e insulto. Se Carlos Veiga agiu como agiu o melhor tributo é seguir esta pisada.

  9. Eu como um jovens de guetto, das periferias de Portugal e Cabo Verde felicito a eleição do nosso novo presidente! Mas se os nossos governantes não apostarem seriamente na saúde e segurança dos nossos irmãos não vai adiantar ter boa democracia e sermos bem visto Ca forra!

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