Camuflado vs camaleão

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Em certas situações no mundo animal um ser vivo pode adotar a camuflagem como um modo de se proteger de seus predadores e de conseguir obter as suas presas. Isto é, usou de camuflagem para não ser visto reconhecido ou percebido. Este é o camuflado.

Agora chamar uma pessoa de camaleão é quando ela muda frequentemente de opinião, modo de vestir ou de se portar; trata-se de uma pessoa inconstante, volúvel. Esses dois termos são constantemente pronunciados no mundo político. E será que na nossa sociedade ou no nosso contexto político teremos factos ou fundamentos que consubstanciem isso?

A ver vamos!

Mas antes demais devo dizer que o nosso país é um Estado de Direito Democrático que  salvaguarda o direito de liberdade nas suas mais amplas formas. Centremos por agora na liberdade política. O artigo 29 da nossa Constituição garante a todos o direito de liberdade de pensamento, de expressão e de associação. No corpo do mesmo artigo também vem estipulado que ninguém pode ser obrigado a declarar a sua ideologia ou filiação política.

Ora, recentemente chegou ao conhecimento público as listas dos concorrentes de diferentes partidos para a disputa das eleições legislativas que se aproximam. Para a região de São Vicente e na posição número 3, com surpresa ou não, surge o ex- concorrente para as últimas eleições autárquicas o Nelson Lopes. Este candidato a deputado nacional foi o rosto de Movimento + Soncent em Outubro passado. De ideologia política bem diferente do agora partido em que seu nome é integrante nesse novo embate político. O agora candidato a deputado foi uma das vozes que pedia o término da hegemonia do MpD e do PAICV em São Vicente e no geral em todo Cabo Verde. Justificando na altura inúmeras razões pelas quais não se revia nesses dois maiores partidos políticos de Cabo Verde. Assumindo-se portanto como um independente.

Para o círculo eleitoral de Santiago Sul aparece-nos nos mesmos moldes o Romeu de Lurdes. Porém integra como cabeça de lista o ressuscitado PTS, aliás, convém dizer no meio de uma enorme polémica com os demais dirigentes fundadores do mesmo partido.

Esse ex- concorrente à presidência da CM da Praia no passado Outubro solicitava ao eleitorado que deveriam votar numa alternância política e apostar nos mais jovens para derrubar o monopólio administrativo que os dois maiores partidos vinham dividindo a seu bel prazer há já algumas décadas.

Por último e voltando ao círculo eleitoral de São Vicente, surge-nos o ex-deputado do PAICV o Dr. Amadeu Oliveira, integrando a lista do segundo maior partido autárquico da região, a UCID. No seu discurso de apresentação entra várias razões que o agora candidato justificou para a sua integração na lista do referido partido, alegou que “já txiga hora de nô muda”, “basta des 2 partid” “és tá isgutod”, etc.

Ora, a liberdade de associação política que o artigo 29 da nossa Constituição nos faculta a todos, a meu ver, quando é ser exercida por uns e que em anteriores momentos/contextos manifestaram ou até assumiram determinadas ideologias políticas contrárias às recentes escolhas, é de uma incoerência e descredibilidade política total!!

Para alguns, principalmente nos jovens políticos esta atitude revela-se uma grande imaturidade. Caso para se dizer que não estão preparados para esta lide.

Ora, o jogo/batalha política faz-se por etapas! E num campo só! Quem muda de campo ou de equipas são os desportistas profissionais, não os políticos!

Um político que muda de partido não teve e nunca terá uma ideologia política assente, firme! E talvez afirmar que ele não está a ser honesto consigo mesmo! Nesse caso como é que ele irá ser honesto com o povo? Esse seu comportamento inspira segurança? Confiança?

Um político que se preze não deve ter nenhum desses termos associados ao seu nome e/ou ao seu percurso: nem camaleão, nem camuflado!!



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