Capacitar os jovens para a participação política

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Em Cabo Verde, a participação massiva dos jovens na política foi sempre um grande desafio. Na atualidade política do país, urge fazer uma reflexão e avaliação do fenómeno da perda de interesse dos jovens pela participação política o que passa, necessariamente, pela criação de condições para que os mesmos possam ter uma participação ativa nas juventudes partidárias.

Apesar de tudo, se os jovens limitam a sua capacidade de argumentação e discussão, não defendem as suas ideias nas escolas, nos seus bairros ou nem sequer têm um posicionamento na sociedade, quem serão, então, os substitutos dos nossos atuais representantes e governantes?!

É, por isso, forçosamente necessário, capacitá-los para estarem preparados na linha da frente, para serem líderes e jovens de referência com um papel importante nas tomadas de decisões, o que passa por conhecer o sistema político vivenciado no país, a dinâmica dos partidos políticos, bem como as suas ideologias. Isso deverá servir de base.

Deve-se criar estratégias, estudos de caso e análises da juventude para daí obter indicadores que permitam avaliar o seu posicionamento na política, apesar de que, muitas das vezes, os mesmos admitem serem bastantes criticados e marcados só pelo facto de serem militantes associados a um partido político e defenderem uma determinada ideologia.

O medo pode, efetivamente, ser um obstáculo, pois a imagem que a sociedade muitas vezes tem da vida política é que ela está impregnada de corrupção, havendo por isso necessidade de desmistificar essa ideia para que os jovens possam ganhar mais confiança.

Para uma boa preparação dos jovens e devida capacitação para a vida política penso que se deve criar, primeiro, uma cultura de participação nas escolas, isto é, introduzir e apoiar um enquadramento democrático participativo junto da instituições de ensino, tais como associações de estudantes e outras iniciativas estudantis, de maneira a permitir e garantir que os alunos se envolvam mais diretamente nos processos de decisão dentro das mesmas.

Outrossim, há que estabelecer a criação de um enquadramento jurídico para as Associações de Estudantes de modo a garantir a sustentabilidade da vida democrática estudantil. É importante que esta esteja regulada jurídica e estatutariamente para que os estudantes criem consciência política e tenham um espaço onde possam expressar as suas opiniões. Mas, para assegurar que as associações de estudantes estejam totalmente integradas na comunidade escolar é importante, ainda, formar professores e diretores de escola para que percebam o papel da participação dos estudantes e o seu devido valor nos destinos das escolas.

Administrativamente, deve-se introduzir também um guia que contenha ferramentas para alunos e associações de estudantes, no qual deverão ser incluídos os direitos e as opções disponíveis para os estudantes e as iniciativas estudantis, tais como informações sobre como melhorar a capacidade de funcionamento das associações de estudantes.

A fim de envolver mais os jovens no processo de decisão política em Cabo Verde penso que poderá ser necessária implementar programas piloto, reduzindo a idade de voto para 16 anos e fornecendo uma preparação adequada, que compreenda também uma educação cívica de qualidade. Essa redução da idade de voto para 16 anos oferece a possibilidade de tornar o processo político mais inclusivo, criar um diálogo inter-geracional, responsabilizar mais os jovens, representar melhor os seus interesses e fornecer uma base sólida para uma educação política mais extensa. Desta forma, as organizações de juventude tornar-se-ão mais ativas e influentes. Irão receber maior reconhecimento, enquanto ao mesmo tempo estabelecem uma ponte entre os jovens cidadãos e os decisores políticos. Estes últimos irão, desde logo, beneficiar de um maior espetro de eleitores e uma maior consideração pelos interesses dos jovens. Desta forma o voto deverá ser considerado mais um direito do que uma obrigação.

Os programas de formação conjunta a nível local, nos bairros, podem ter bastante utilidade porque permitem estabelecer um entendimento comum acerca das políticas de juventude, participação e tomada de decisão compartilhada, para além de aumentarem a confiança entre todos os parceiros envolvidos.

Seja como for, os decisores políticos, a todos os níveis, devem implementar uma cultura política contínua de comunicação aberta e inclusiva através de diferentes métodos dirigidos a jovens, a fim de garantir a transparência e a responsabilização dos próprios. Deste modo, há que criar debates regulares e informais com a juventude local, de maneira a que os jovens possam conhecer os representantes públicos num ambiente mais acessível. A finalidade destes encontros informais em várias localidades é permitir, por um lado, que os jovens se possam envolver em debate direto com os próprios decisores políticos; motivando-os a participar nas eleições; e, por outro lado, permite alargar o conhecimento dos decisores políticos sobre a área da juventude e aumentar a sua popularidade entre a população mais jovem.

Por último, nessa senda formativa, os jovens a nível local devem, sempre, serem eles próprios a ter a iniciativa de escolher os temas com os quais se sentem à vontade. As sessões de debates devem ser promovidas pelas organizações de juventude e deve haver o objetivo comum de alcançar tanto os grupos de jovens organizados como o contingente desorganizado dos jovens no interior dos bairros.