CARLOS VEIGA: Hoje não há não alinhados

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Primeiro-Ministro de Cabo Verde entre 1991 e 2000, Carlos Veiga diz estar otimista com a realização da Cimeira da CPLP no nosso País tendo revelado que Cabo Verde tem a oportunidade de pôr em prática os seus pontos de vista sobre o que é a CPLP

Em declarações ao OPAÍS, à margem da Cimeira da CPLP que decorre hoje e amanhã, quarta-feira, na ilha do Sal, Carlos Veiga, focou a questão da mobilidade e sublinhou ser uma questão “muito importante”.

“Se queremos uma comunidade de povos esta questão da mobilidade é muito importante”, disse, admitindo que se houver vontade política a questão fica resolvida.

Sobre o lema da presidência de Cabo Verde na Comunidade, Carlos Veiga estimou ser “muito boa” porque foca temas candentes.

Por outro lado, revelou uma forte convicção. Hoje não há não alinhados e nas relações internacionais “temos que dar e receber”.

OPAÍS – Como é que está a olhar para a dinâmica desta Cimeira, na ilha do Sal?

Carlos Veiga – Estou a olhar com muito otimismo. Cabo Verde tem aqui uma responsabilidade mas também uma oportunidade de pôr em prática os seus pontos de vista sobre o que é a CPLP.

Há muitos anos que Cabo Verde deu um primeiro passo sobretudo na questão da mobilidade ao estabelecer o estatuto do cidadão lusófono, unilateralmente, mostrando que é um caminho possível.

Se queremos uma comunidade de povos como todos desejamos, esta questão da mobilidade é muito importante.

As pessoas são importantes, a cultura destas pessoas é importante como traço de união entre todos os povos que falam português, portanto, acho que o tema da presidência de Cabo Verde na CPLP foi muito bem escolhido e Cabo Verde tem agora a oportunidade de mostrar a sua capacidade de organização, está a mostrar a sua capacidade de liderança de organizações regionais, está aqui uma grande oportunidade. Estou otimista e acredito que Cabo Verde vai fazer uma boa presidência.

A mobilidade, praticamente a questão se coloca com Portugal e Brasil, uma vez que está em curso processo de isenção de vistos com os outros países da CPLP. Acredita que esta questão fica resolvida durante a nossa presidência na CPLP?

Portugal está na União Europeia, e isto tem um pouco a ver com a nossa relação com a UE e com o Mundo.

Hoje não há não alinhados, não há dois blocos. Hoje, é preciso tomar posição e saber onde estamos.

Portugal tem os seus condicionamentos pelo facto de estar na UE, nós temos uma Parceria Especial com a UE, por este lado não vejo grandes dificuldades, também não vejo dificuldades com o Brasil. Se houver vontade política é possível encontrar soluções equilibradas tendo em conta os interesses de todos.

Tem que ser sempre assim. Nas relações internacionais nós temos que dar e receber. Não podemos só ficar a receber e não dar nada. Tem que ser uma troca, em que a gente cede mas também recebe, concedemos mas também nos concedem. É este espírito que tem que presidir.

A agenda de Cabo Verde que privilegia as pessoas, as culturas e os oceanos é uma boa agenda?

Muito boa, muito boa.

A questão dos oceanos é um problema candente, penso que foi uma boa escolha. As pessoas são a base, são elas que dão força à Comunidade, e a CPLP tem esta vantagem, nos sentimos bem juntos uns dos outros. Estamos entre pessoas que se entendem muito facilmente.

Foi Primeiro-Ministro, relacionou de perto com a CPLP, passados esses anos todos nota melhorias a nível da organização?

Sim, não se pode negar isso.

Fomos aprendendo ao longo do tempo, com a experiência e vai permitir que num determinado momento se possa dar saltos mais alto, mais longo, e eu creio que pode acontecer esta oportunidade agora com a presidência Cabo-verdiana na CPLP.