Carta Pastoral do Bispo de Mindelo

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Estimados irmãos e irmãs,

A nossa Diocese pretende avançar nos próximos três anos rumo à celebração dos 20 anos da sua criação, que será em 2024. Nestes últimos anos, apesar das dificuldades que o mundo todo conheceu e continua a viver, nós temos muitas graças para dar a Deus pelas inúmeras maravilhas que Ele nos fez experimentar, sobretudo no sector da família, da formação cristã e da «fantasia da caridade».

A salientar neste passado próximo, temos a consolidação da nossa Escola de Formação Cristã para Leigos, a promoção de algumas dinâmicas de evangelização e acção pastoral, a Comissão para a Proteção de Menores, a Comissão para os Migrantes e Refugiados, a constituição do Conselho Presbiteral, a criação das Vigararias Forâneas a ser realidade já no início do ano novo pastoral, o Conselho Diocesano de Pastoral que deverá estar a funcionar no ano pastoral 2022-23, a figura do Ecónomo Diocesano e a natural reestruturação do Conselho para os Assuntos Económicos, a plataforma digital do Secretariado Diocesano da Catequese, a construção do nosso seminário diocesano, bem como outras infraestruturas de importância para a Diocese e para as Paróquias. Queremos celebrar em espírito de gratidão tudo isso e olhar para o futuro que Deus nos oferece com muita esperança.

Igreja Casa e Escola de Comunhão, Viva e Missionária é o nosso lema para o triénio 2021-2024. Esta temática evoca o lema que orientou a Diocese a partir de 2004 quando iniciava a aventura da nova Igreja Local sob a liderança pastoral do meu predecessor e primeiro Bispo desta Igreja, Dom Arlindo Furtado. Acrescentamos a tónica missionária que é aquilo para onde aponta a Igreja toda neste século XXI.

O Papa São João Paulo II, introduzia a Igreja no terceiro milénio com estas palavras: «fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão: eis o grande desafio que nos espera no milénio que começa, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo» (Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte no termo do Grande Jubileu do ano 2000, nº 43). O Pontífice, que viria a criar a Diocese

de Mindelo, em 14 de Novembro de 2003, estava ciente que era imperioso lançar a Igreja para um novo dinamismo pastoral e alertava para a importância de promovermos a comunhão eclesial antes de tudo. Assim, diz ele que antes de programar iniciativas concretas, é preciso promover uma espiritualidade da comunhão, elevando-a ao nível de princípio educativo em todos os lugares onde se plasma o homem e o cristão, onde se educam os ministros do altar, os consagrados, os agentes pastorais, onde se constroem as famílias e as comunidades (cf. Ibidem).

O propósito de espiritualidade de comunhão tem marcado os nossos planos pastorais e significa em primeiro lugar ter o olhar do coração voltado para Deus Trindade – mistério de amor, que habita em nós e reflete-se no rosto dos irmãos que estão ao nosso redor. Espiritualidade da comunhão é sentir o irmão como «um que faz parte de mim», como «minha carne» (cf. Isaías 58, 7; FT 84), para saber partilhar as suas alegrias e os seus sofrimentos, para intuir os seus anseios e dar remédio às suas necessidades, para oferecer-lhe uma verdadeira e profunda amizade.

Num tempo, como o nosso, fustigado por tantos medos, inseguranças e sofrimentos, as palavras devem traduzir-se em gestos de solidariedade e de amor. O amor é capaz de criar e imaginar, novos caminhos, novas acções, novas realidades e novas relações. Diz uma canção composta durante a Quarentena: «Não estamos sós no meio da tempestade; Ainda há luz neste mar alto; Ainda há anjos de verdade / Quando eu voltar, abraça-me por dentro (…); Vem salvar-me por inteiro, no futuro ninguém quer só metade».2 Haja firmeza para rejeitar as tentações e acédias egoístas que de uma maneira ou de outra nos insidiam, porque sem este esforço sincero para viver em comunhão, de pouco servirão os instrumentos exteriores da comunhão. Aliás, sublinha o Papa polaco, estes revelar-se-iam mais como estruturas sem alma, máscaras de comunhão, do que como vias para a sua expressão e crescimento.

As estruturas criadas e a serem criadas são espaços de comunhão que deveremos aproveitar bem e promover para o bem de toda a Igreja. Devem ser uma expressão dos laços de comunhão entre o bispo, presbíteros e diáconos, entre os Pastores e o conjunto do povo de Deus, entre clero e religiosos, entre associações, grupos e movimentos eclesiais (cf. NMI 45).

A esta dimensão da comunhão, inerente à natureza cristã, associa-se a dimensão missionária. Discípulos missionários é próprio daqueles que pertencem ao Senhor. A comunidade cristã não pode subtrair-se à actividade missionária porque esta permanece sua tarefa prioritária. Nesta caminhada para os 20 anos da Diocese, queremos enfatizar ainda mais esta realidade urgente e importante. Assim como há mares e marés, temos pela frente correntes favoráveis, mas também ventos contrários que, todavia, não nos demovem da orientação a seguir. A inesperada crise provocada pela pandemia de Covid-19 converte-se numa boa oportunidade para o anúncio do Evangelho, pois, mais que nunca, precisamos de quem nos dê razões de esperança para viver (cf. 1 Pe 3, 15) e continuar em frente: Cristo é luz e sentido da vida para todo o homem, em toda e qualquer circunstância. Cristo, ontem, hoje e sempre permanece «Caminho, Verdade e Vida» (Jo 14,6); voltar a Deus e ao Evangelho é a saída plausível e a Igreja tem de estar à altura e pronta para propor aos homens do seu tempo, de maneira ousada e convicta, o tesouro precioso e a Verdade que transporta.

A organização do nosso triénio fica assim distribuída:

1 (2021-22) – Igreja Casa e Escola de Comunhão. A identidade laical e a «fantasia da caridade»

2 (2022-23) – Comunidade lugar de pertença e vivência da fé. Cultura vocacional

3 (2023-24) – A Igreja em Missão. Celebração do jubileu dos 20 anos da Diocese. Memória e esperança

Pensamos chegar ao final do triénio com a realização de uma grande assembleia diocesana a ser preparada desde já e envolvendo todas as comunidades e estruturas da diocese; para isso constituímos uma comissão para o efeito. Colocamos igualmente a hipótese de um Congresso Eucarístico até 2024. Até lá, há um caminho a fazer e que comporta a renovação de todos os secretariados e serviços diocesanos que assim se justificarem. Às vezes é bom renovar e integrar gente nova que sempre traz novas dinâmicas e ideias; todos temos a aprender uns com os outros.

Não deixa de ter um lugar privilegiado na nossa programação pastoral, o apoio aos nossos jovens e desejando muito que possam participar no grande evento mundial, a Jornada Mundial da Juventude – JMJ Lisboa 2023. Uma Igreja consciente e jovem, assim deve ser a nossa. Também, na sequência do intenso trabalho que temos vindo a fazer com as famílias, seria muito bom que algumas famílias pudessem participar no X Encontro Mundial das Famílias que acontece em Roma, em junho de 2022. O Papa Francisco sugere uma modalidade de participação mais ampla neste encontro, convidando cada diocese a “ser o centro de um encontro local para suas próprias famílias e comunidades”. O Secretariado Diocesano da Famílias, os Párocos com os seus Secretariados da Família, os movimentos da família que reúnem actualmente centenas de casais, hão de canalizar esforços nesse sentido.

Também nos associamos desde já e com muita alegria na preparação dos 500 anos da Diocese de Santiago de Cabo Verde que será em 2033. Nessa ocasião, a nossa diocese estará a celebrar os seus 30 anos. Um sacerdote e uma leiga da nossa Diocese já foram indigitados e integram a comissão inter-diocesana para essas comemorações que se encontra em pleno funcionamento. Evidentemente, mais pessoas e toda a Diocese estará envolvida neste grande acontecimento que toca toda a Igreja em Cabo Verde, a sociedade, a cultura e outras instâncias do país.

É com estas intenções e propostas gizadas no último encontro diocesano dos agentes de pastoral e com a plena consciência que o Espírito de Deus faz caminho connosco, que vamos entrar no novo ano pastoral. Temos em mente, no coração e traduzidos já em diversos e criativos planos pastorais, a vivência intensa do Ano de São José e o Ano da Família Amoris Laetitia, que se estendem até 8 de Dezembro 2021 e 26 de Junho de 2022, respectivamente.

São José, o Guarda do Redentor e Patrono da Igreja Universal, continue a vigiar com o seu olhar atento e confiante sobre toda a humanidade e proteja as nossas comunidades com o seu solícito coração de Pai!

 

Mindelo, 28 Agosto de 2021 – Memória Litúrgica de S. Agostinho

† Ildo Fortes

Bispo de Mindelo