Coragem e fraternidade. Dom Ildo escreve sobre viagem do Papa ao Iraque

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O Bispo de Mindelo acedeu ao convite de OPAÍS.cv e escreveu sobre a viagem que o Papa Francisco promoveu ao Iraque, entre os dias 5 e 8 últimos. Dom Ildo Fortes destaca uma viagem com “significado enorme” para a Igreja e para a humanidade de um Pontífice que se move “unicamente pelo amor e solidariedade”. Confira o texto exclusivo para o nosso Jornal

 

todas a suas viagens apostólicas tem sido aos lugares mais difíceis do globo

A viagem do Papa Francisco ao Iraque tem um significado enorme para a história da Igreja e da humanidade e creio que nem podemos imaginar o alcance desta viagem apostólica e missionária.

O Papa Francisco já nos habituou a este estilo único e surpreendente, o que o move é unicamente o amor e a solidariedade. Aquilo que não passa pela cabeça de ninguém, ele tem a coragem de tornar realidade. O seu modo de ser e agir, em nada politicamente correto, quando se trata de ir ao encontro do irmão, ninguém consegue deter ou mudar. Ele é a voz profética e incómoda diante das situações de maior calamidade ou injustiça social. Se repararmos, todas a suas viagens apostólicas tem sido aos lugares mais difíceis do globo ou onde as pessoas mais sofrem, sempre em busca de diálogo e levando uma palavra de conforto e reconciliação.

O Papa Francisco é o homem dos pobres e dos que sofrem; ele é o estilo radical de Jesus e põe em prática aquilo que é a orientação fundamental da igreja: opção preferencial pelos pobres. Os últimos e os esquecidos ocupam um lugar de honra no coração do Papa Francisco é por isso que Ele foi ao Iraque.

Há razões especiais para esta visita

Há razões especiais para esta visita. O Papa não esconde a sua preocupação pelos cristãos que foram perseguidos e dizimados pelo Estado Islâmico, uma organização de terrorismo puro, agindo como pretexto religioso e que na verdade não deixa de ser uma leitura fundamentalista do Corão, para quem o infiel, ou seja aquele que não acredita em Alá e no seu profeta Maomé, deve ser morto.

Por outro lado, uma das motivações que levou o Papa ao Iraque é prosseguir com o diálogo inter-religioso. Este diálogo inter-religioso começou de maneira muito peculiar e original com o Papa São João Paulo II: ninguém esquece o precioso e histórico encontro de Assis com os principais líderes religiosos do mundo. Assistimos em muitas partes do mundo a um certo modo de atuar em nome do Islão que tem manchado a dignidade da religião e vai semeando pânico e terror, no Médio Oriente, mas também, concretamente, na África, deixando um rasto de morte e violência tremenda; assim o diálogo sincero e o acolhimento recíproco por parte dos líderes religiosos é muito importante neste momento e o Papa Francisco o tem feito muito bem.

Desta viagem ao Iraque ficou notável a simplicidade do seu encontro com o Grande ayatollah Al-Sistanis. Os chefes das religiões precisam de ser os primeiros a dar o exemplo de serem instrumentos de paz e harmonia; precisam fomentar e fazer crescer o clima de perdão no mundo, porque as religiões devem estar ao serviço da paz e do bem da humanidade. Quando em nome de Deus ou da religião se alimenta a violência e se faz a guerra, isso é uma traição à própria religião como dizia Francisco nesta sua viagem.

um bálsamo de conforto e alegria aqueles milhões de irmãos nossos que vivem sob ferro e fogo

Outra razão clara que levou o Papa ao Iraque foi precisamente para estar próximo das pessoas que têm sofrido muito com a guerra e com as violências. O Papa da ternura e da esperança foi levar um bálsamo de conforto e alegria aqueles milhões de irmãos nossos que vivem sob ferro e fogo, fugindo à guerra, à morte e à violência. A guerra sempre horrível, em si mesma, é sumamente mais injusta quando os que mais sofrem são os inocentes. E isto está acontecendo no Iraque. A presença do Papa ao Iraque foi obviamente uma clara e grande mensagem para o mundo e para os poderosos; para aqueles que regem os destinos do mundo e fazem a guerra. O Papa quis dizer aos governantes a guerra não é a saída para o desenvolvimento da humanidade. Sem o diálogo e o respeito pelos direitos fundamentais das pessoas, sem a capacidade de perdoar, jamais conseguiremos um mundo em harmonia.

Infelizmente, algumas potencias mundiais, com o pretexto de combater as ditaduras e os regimes opressivos, aproveitam a situação para tirar proveito dos seus interesses, criando mais misérias e caos com as suas políticas: assim foi no Iraque e noutros lugares do mundo. A situação perturbada e descontrolada que se tem vivido no Iraque devido ao surgimento do auto proclamado Estado Islâmico que se instalou e cresceu muito naquela região, é também consequência da grande incúria e indiferença dos governos mundiais que na devida ocasião não intervieram para ajudar a estabelecer a paz naquelas paragens, porque supostamente tratava-se apenas de alguns cristãos que eram perseguidos por radicais islâmicos.

Só quando a situação conheceu outros contornos e passou a ser uma ameaça para os países do ocidente é que se começou a dar uma especial atenção ao que acontecia no Iraque, mas já foi tarde demais. Muitas vidas e muitas cidades teriam sido poupadas se não fosse a hipocrisia e o comodismo de muitos. O Papa, com isto tudo, foi ao Iraque, terra de Abraão, levar a esperança e acreditando na promessa da paz.

Nos diversos encontros que teve, sem esquecer aqueles que teve com as autoridades, o Papa sublinhou bem alto que a fraternidade é mais forte que o fradicídio, que o terrorismo e a morte não têm a última palavra e que a Igreja e as religiões deverão ser um testemunho de amor e perdão.

O Papa Francisco, deixou o Iraque com uma palavra que tocou os corações: O Iraque ficará sempre comigo, no meu coração.