Cultura, Noosfera, Dignidade Humana

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Em Cabo Verde, e ao mais alto nível, CONFUNDE-SE frequentemente cultura com…artes & espectáculos.

A coisa possui um alcance trans-partidário.

Há vários anos, eu já tinha feito esta pergunta, numa célebre conferência oficial realizada aqui nesta querida cidade da Praia:

Quem representa, verdadeiramente, a CULTURA francesa?

Montesquieu ou a bailarina de esquina em Paris?

A cultura é a expressão da alma humana, do “homo faber”, se quisermos, que, refazendo-se sem descanso, segundo a lei da complexidade crescente (que tanto preocupou T. de Chardin), é-sendo-no-mundo, esse vasto laboratório onde se concretiza, paulatinamente, o seu plano de existência.

Mas a cultura supõe, desde o início, uma hierarquia.

Recorta-se entre os signos e o referente.

É, na sua máxima intensidade, a desocultação do Ser, e a afirmação da sua dignidade.

Isto é, a descoberta-irrupção da NOOSFERA, em que o Espírito se eleva, no âmago do mistério e alimentado já pela constitutiva linguagem, sobre a Natureza, abrindo-se, a partir daí, mil possibilidades (científicas, tecnológicas, literárias, jurídicas, de organização política, estéticas, etc.) de realização ao ser humano. Os “human rights”, possuindo embora um fundo ético, acabam por ser um objecto cultural.

Supõe, pois, uma determinada “imagem do homem”, que tudo determina e (re)configura.

A cultura (do Latim “colere”, verbo cujo expressivo significado é cultivar, cuidar e fazer crescer) é um movimento de ascese, reflexão, crítica e síntese, bem exposto, aliás, em duas ideias matriciais da filosofia grega: Logos e Aletheia.

Ora, só uma intencionalidade superior e coerente, plasmada numa autêntica consciência-de-si, é capaz de LIBERTAR o Homem das necessidades e da contingência do mero existir.

Não é por acaso que alguns países alcançaram um patamar elevado de prosperidade e Civilização, enquanto outros, na permanente armadilha de crenças e crendices, e copiosas magias, se mantêm no lamaçal do despotismo, atraso, fanatismo, ignorância e desumanidade, sob a batuta de pequenos chefes e demagogos provincianos.

No cume do renascimento cultural, e no momento crucial da construção da Modernidade, um processo gradual, exigente e de larga escala, G. Pico della Mirandola viu esta verdade melhor do que ninguém e, numa fórmula sublime, afirmou:

“Vós sois deuses, filhos do mesmo Deus”.

(continua…)