Da Diplomacia Tradicional a uma Nova Diplomacia

Na atualidade a diplomacia pública é claramente assumida como campo de ação da diplomacia de Cabo Verde através da “promoção da cultura e dos cabo-verdianos junto dos públicos estrangeiros (Dubai 2020)” e “a maioria das embaixadas e consulados estão presentes no espaço digital, através de sites e contas nas redes sociais, onde são divulgadas as iniciativas de promoção da nossa imagem, bem como, as posições nacionais sobre política externa.

O que nos remete para a tese de Lequesne (2012) segundo a qual, a diplomacia pública “desempenha quatro funções, a saber:

a) Proceder à difusão aberta de informação sobre as posições oficiais do seu Estado junto de outras sociedades, seja por difusão escrita, seja pela utilização da Internet;

b) Contactar regularmente a comunicação social (correspondentes estrangeiros) através dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros;

c) Favorecer a troca de posições com o público, seja pela organização de debates de ideias, seja pela utilização de novas tecnologias de Informação e Comunicação (blogues e redes sociais);

d) Desenvolver uma política de intercâmbios culturais (educação, cultura, desporto,…) seja pela via direta dos Ministérios ou dando dinheiro públicos a organizações”.

Como o próprio autor refere, “nenhuma destas funções é inédita”, pelo que, será prudente afirmar que a diplomacia pública não trará novas funções para a atividade diplomática. A sua mais valia reside na evolução das funções já existentes.

Influenciar as Decisões e os Comportamentos

Considerando que a diplomacia pode ser definida como a atividade destinada a influenciar as decisões e os comportamentos dos Estados através do uso de meios pacíficos, estaremos assim, com o desenvolvimento da diplomacia pública, perante duas dimensões: i) uma evolução nas funções tradicionais da diplomacia e ii) o alargamento do seu universo (já não apenas o Estado, mas também a Sociedade Civil).

As evoluções da natureza das funções da diplomacia talvez não justificassem, por si só, a criação do “novo” conceito de diplomacia pública, mas este é claramente justificado pela inclusão da nova dimensão. Algo completamente diferente, e porventura excessivo, é atribuir a esta nova dimensão, ou “adaptação” de “uma componente da diplomacia tradicional” (Marques, 2019) a categoria de nova diplomacia.

Com o avanço e inovação das Tecnologias de Informação e Comunicação e a revolução tecnológica atualmente, a diplomacia tradicional foi forçada a migrar do local ou do palco principal. Grandes palácios e embaixadas, registaram-se em uma rede social e escolhem um nome de usuário que o torne facilmente identificável com " X" pessoa ou Ministério em particular. Entretanto, a partir desse momento, cada tweet se tornará uma declaração com o mesmo caráter de relevância de um discurso proferido em uma coletiva de imprensa.

A verdade é que, como sustenta González Parias (2019), desde o surgimento do Estado-Nação como forma de organização política, a política externa tornou-se o mecanismo legítimo através do qual eles interagiam e os diferentes Estados estavam relacionados.
Portanto, a política externa tem sido tradicionalmente um monopólio exclusivo deles. No entanto, graças ao avanço das TICs, abriram-se novas possibilidades, não só na hora de projetar e colocar política externa em movimento, mas também na tentativa de quebrar o monopólio que tradicionalmente o Estado tem na conceção e direção dessa política.

Convencionalmente, a diplomacia tem como principais objetivos representar, negociar, proteger e promover os interesses de um Estado perante terceiros. Hoje não se fala em uma nova diplomacia com diferentes objetivos, mas continuam a ser os mesmos, numa era em que a Internet, as redes sociais e outros diferentes processos de comunicação, ganharam destaques.

A Incerteza Geral dos Mercados

Os processos, como a inovação tecnológica, a globalização, as sociedades abertas, o surgimento de transparência, cidadãos conectados, o aumento das negociações multilaterais, o retorno da geopolítica ou a incerteza geral dos mercados não mudaram as quatro funções básicas mencionadas acima, que são o esboço da diplomacia.

É por isso que se argumenta que não há diplomacia velha diante de uma nova diplomacia tecnológica. O que encontramos é um contexto, agenda e organizações em mudança. É aí que ganha o significado do conjunto de novas competências que fornecem capacidades para a compreensão do ambiente estratégico, para o cumprimento da missão diplomática e para a atenção aos cidadãos.