Deixem-se de tretas!

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Tenho o maior respeito pela figura histórica de Amílcar Cabral, quanto mais não seja pelo facto de ter sido o arquiteto e o timoneiro do processo que conduziu à Independência Nacional, um feito da maior relevância na história do nosso Cabo Verde.

Contudo, não esperava que a proposta de Resolução do Paicv no sentido de o Estado decretar as comemorações do seu Centenário fosse aprovada pela Assembleia Nacional. Primeiro, porque me parece de duvidosa constitucionalidade. Segundo, porque a iniciativa foi conduzida de modo a não ser aprovada.

Na minha opinião, aquilo foi mais uma oportunidade que o Paicv encontrou de passar a falsa ideia de que o MpD desvaloriza a figura de Amílcar Cabral, quando foi com um Governo do MpD que se erigiu a primeira estátua de Amílcar Cabral no país! Estivesse o Paicv realmente interessado, escolheria uma via mais consentânea com o Estado Democrático e com a Constituição da República e procuraria o necessário consenso para o efeito.

A verdade é que o Paicv de hoje não está interessado em desapropriar-se de Amílcar Cabral, como parecia com o seu precursor, o Paigc. Quem tem idade e memória deverá estar lembrado de que, durante os primeiros 15 anos da República, o Partido Único, que podia fazer tudo, não se lembrou sequer de um busto de Amílcar Cabral, e que na década de oitenta o ‘herói do povo’ praticamente deixou de fazer parte dos discursos políticos e era lembrado apenas pela Rádio Nacional nos feriados de 20 de janeiro de que eu particularmente aprecio por, entre outras razões, ser oportunidade para ouvir uma das mornas mais bonitas, Cabral Ca Morri, do meu amigo Daniel Rendall.

O Paicv precisa libertar Amílcar Cabral e deixar essa figura histórica ‘viver a sua época’ nova de pluralismo e democracia!



3 COMENTÁRIOS

  1. Boa Betu. Cabral agora serve para alguns “melhores filhos da nossa terra” ganhar muita plata com ele. Ouvir depoimentos de altos responsáveis do PAIGC sobre o assassinato de Cabral, fica claro que a partir de uma certa altura Cabral vivo ou morto pouco interessava.
    E o período logo depois da Independência foi prova disso. A Unidade Guiné Cabo Verde foi o que se viu, O Pensar com as nossas próprias cabeças como foi interpretado e o Suicídio da Pequena Burguesia como defendia Cabral, como foi interpretado.
    É só ver como essa pequena burguesia se suicidou para se transformar na Burguesia a sério.

    • Se continuássemos a ser Região Autónoma de Cabo Verde, estaríamos bem melhor… Imaginem se Cabral vivesse até aos 100 … Estaríamos como a Guiné-Bissau

  2. A iniciativa do Paicv tinha como propósito criar um facto politico, construindo um clima ruidoso e daí provocar que fosse chumbada permitindo depois que cada um e de acordo com o ponto de vista, fizesse a interpretação a mais conveniente. Do meu ponto de vista foi para atacar o PR, O José Maria, uma vez que não havendo um consenso parlamentar o brilho dos acontecimentos perderá força, circunstância que apanhou o PR de surpresa, pois há muito augura um momentos desses para, do alto da sua magistratura, fazer o brilho que necessita para se afirmar no plano Nacional como Estadista a imagem do Amilcar Cabral. O Semedo sabe que não pode facilitar um inimigo que bastas vezes tem deixado a entender que o seu putativo candidato do Partido nas próximas eleições internas será o Nuias…precisamente no momento em que surge a Janira a lançar, também ela, o seu Candidato. São muitos inimigos.

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