Desdobramento da Igreja do Nazareno é um sinal de crescimento da Igreja – Superintendente

0

No novo Distrito Norte agora criado, São Vicente é onde se regista maior número de seguidores. A nível nacional, dados apontam para pouco mais de oito mil membros, “sem contar” com as crianças e tantos outros que fazem parte da Igreja. Leniza Monteiro Soares vai liderar um Distrito com 22 Igrejas organizadas e cerca de 3.500 membros. Sobre o desdobramento, ela não tem dúvidas: “é um sinal de crescimento da Igreja, como um organismo vivo”

O desdobramento da Igreja do Nazareno em Cabo Verde em dois Distritos é um processo que vem se desenrolando, a partir de um estudo realizado pela própria Igreja, há anos, e que recomendava, exatamente, esta medida, entretanto efetivada na histórica Assembleia Distrital, realizada na Boa Vista. “É uma estratégia para crescimento e melhor administração”, confirmou a agora Superintendente, a primeira a liderar a Igreja no Barlavento.

Na sua primeira entrevista a um Jornal, após eleição, Leniza observa que este desdobramento reverterá em benefício para o País. “Não é uma questão de divisão mas sim de multiplicação”, explicou.

Nascida no Mindelo, na ilha de São Vicente, em março de 1980, Leniza Ruth Lima Monteiro Silva Soares é, aos 39 anos de idade, a primeira Superintendente do Distrito Norte da Igreja do Nazareno, em Cabo Verde, e a primeira mulher a liderar uma Igreja nestas ilhas.

A sua eleição deu-se numa assembleia distrital histórica realizada entre os dias 25 e 28, em Sal Rei na Boa Vista. Foi ali que se tomou a decisão de efetivar o desdobramento da Igreja em Cabo Verde, há cem anos, em dois Distritos, uma estratégia para uma maior aproximação, confirmou. Refira-se que a decisão de criar dois Distritos havia sido votada durante a 65.ª Assembleia Distrital, realizada na Ribeira Grande de Santo Antão.

Em casa, Leniza encontrou os ensinamentos cristãos e seguiu as pisadas do pai, Daniel Monteiro, Pastor, que hoje já não exerce, e que foi missionário em várias ilhas e até no estrangeiro, nomeadamente, em Moçambique, África do Sul e São Tomé e Príncipe. Ele foi para ela o “primeiro Pastor” e sua entrega “cativou” a menina Leniza que e em 2009 ordena-se como Pastora.

A par do seu pai, sua mãe também teve papel importante na sua decisão religiosa. “Eles são meus mentores e conselheiros em tudo”, confessou.

À data da sua eleição para Superintendente, Leniza que é casada, há onze anos, com Anilton Soares, natural do Maio, e com quem tem dois filhos, lidera a Igreja do Nazareno na Ribeira Grande de Santo Antão.

Dada à condição de Pastor do seu pai, ela fez os estudos primários e o liceu em várias ilhas, com passagens por Assomada, São Filipe, Mindelo e Moçambique.

Licenciada em Psicologia, pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Portugal, Leniza estudou Teologia no Seminário Nazareno de Cabo Verde, no Mindelo, tendo feito a formatura, em 2010, na Igreja de Achada Santo António, na Cidade da Praia.

Desde criança ela foi ativa na Igreja, tendo exercido vários cargos, nomeadamente, a de Secretária dos Juniores, foi Presidente da Juventude das Missões, membro da Junta Consultiva Nacional, e da Junta dos Estudos Ministeriais, da Junta do Seminário Nazareno e professora no mesmo, professora na Escola Dominical de crianças e adolescentes e Secretária do Distrito de Cabo verde até à data da sua eleição para Superintendente Distrital Norte.

OPAÍS.cv – O que muda, efetivamente, com esta separação da vossa Igreja em dois distritos, Norte e Sul?

Lenisa Monteiro Soares – É um processo que vem se desenrolando a partir de um estudo realizado pela Igreja há alguns anos, onde uma das recomendações era o desdobramento do distrito de Cabo Verde em dois. É uma estratégia para crescimento e melhor administração.

Certamente algumas coisas mudam pois haverá estratégias específicas e contextualizadas de acordo com as caraterísticas do Norte e do Sul.

Não a vemos como uma separação, mas sim um desdobramento. Continuamos uma só Igreja e os dois Distritos funcionarão numa parceria para o bem do trabalho em todo o País.
Haverá tudo em dobro em termos de liderança em todos os níveis da Igreja.

Cremos que isso reverterá em benefício para o País. Não é uma questão de divisão mas sim de multiplicação.

Estava preparada para assumir este cargo ou foi “supresa” para si a sua própria escolha?

Preparada não estava e ainda estou a digerir tudo isso. É claro que havia tal possibilidade sim, pois todos os Presbíteros podiam ser escolhidos e sendo eu Presbítero da Igreja, era uma probabilidade.

Com o anúncio da minha eleição fiquei assustada, mas o suporte de toda a Igreja e a certeza de que foi uma escolha de Deus, me trouxe paz.

Foi escolhida de entre um grupo de Presbíteros. E foi uma eleição renhida.

Para a eleição, todos os Presbíteros são potenciais candidatos. Os Delegados recebem uma cédula de voto em branco, onde escrevem o nome da pessoa que entendem devia ser.

Para haver eleição, o candidato deve ter 2/3 dos votos. Foram precisas cinco voltas. Na quarta volta éramos três candidatos e na quinta, houve eleição.

Como pretende exercer as funções de Superintendente?

A sede do Distrito Norte será em São Vicente, contudo, como eu resido em Ribeira Grande de Santo Antão, onde sou Pastora, neste primeiro ano ainda permaneço ali para fazer uma transição. Até porque tenho família, Igreja, trabalho também no Ministério da Educação, há uma série de coisas para tratar antes duma eventual mudança para São Vicente. Entretanto, farei deslocações para as outras ilhas para estar mais próxima das nossas 22 Igrejas do Distrito. Afinal, a maior proximidade da liderança é uma das razões que motivou o desdobramento em dois Distritos.

Este desdobramento da Igreja em duas regiões indica o crescimento da Igreja Nazarena em Cabo Verde. Podemos falar de números de seguidores no Barlavento. Em que ilha se regista maior dinâmica de crescimento?

Com certeza é um sinal de crescimento da Igreja, como um organismo vivo. A Igreja em Cabo Verde conta no presente com 8.400 membros inscritos nos livros, sem contar com as crianças e tantos outros que fazem parte da Igreja, sendo que para ser membro a pessoa deve ter a idade mínima de 15 anos e maturidade para uma decisão própria.

Em Barlavento somos cerca de 3.500 e São Vicente é a ilha com o maior número, com seis Igrejas organizadas.

O que se pode esperar da sua liderança?

O que se pode esperar? Vi, ouvi e senti uma grande expetativa por parte de toda a Igreja.

Não tenho promessas a fazer, pois Deus é quem governa a Sua Igreja. Da minha parte, pretendo ser obediente a Deus acima de tudo, estar disponível para todos e procurar manter uma boa comunicação entre nós.

Não gosto de complicar as coisas, procuro ser prática.

Aprendi, na Bíblia, que tudo deve ser feito com decência e ordem, viver com excelência e é assim que que eu vivo e continuarei com a ajuda de Deus e cooperação de todos.

O fato de ser mulher está a suscitar reações de vária ordem, na nossa Sociedade. A verdade é que estamos perante a primeira mulher a liderar uma Igreja em Cabo Verde. Há mesmo quem fale em equidade de género neste aspeto. É bem isto ou não é bem assim?

Realmente estou a ver que isto está a causar algum ‘rebuliço’ e nem tenho a noção do quanto. Mas a nossa Igreja encara esta eleição com naturalidade porque desde o início as mulheres estiveram presentes na liderança. Em vários órgãos tem havido mulheres na liderança, tanto fora como aqui em Cabo Verde. Por exemplo, a nossa Igreja é liderada, a nível global, por uma junta de Seis Superintendentes Gerais, e em 1989 foi eleita a primeira mulher para esta Junta. No presente momento, temos uma outra mulher como Superintendente Geral que, foi a Presidente da Assembleia onde aconteceu a minha eleição.

De qualquer forma, é verdade que sou a primeira Cabo-verdiana a ser eleita Superintendente de um Distrito, a primeira na África Ocidental e a quarta em toda a África. Cabo Verde faz história e muito me honra ser parte dela. Somos quase 20 Pastoras aqui em Cabo Verde e algum dia, isso aconteceria de certeza.

É equidade de género, a sua eleição?

Não. É igualdade de oportunidades pois todos nós somos necessários e apreciados por Deus. O Apóstolo Paulo diz aos Gálatas 3:28 “Não há Judeu nem Grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo”.

Voltando à sua liderança, quem são os seus diretos colaboradores nesta nova missão?

A Igreja tem uma estrutura bem organizada e cada Distrito conta com várias Juntas ou Comissões específicas para cada área. Mas há a que chamamos de Junta Consultiva que é presidida pelo Superintendente do Distrito, constituída por três Presbíteros e três leigos, membros que não são Pastores. Há um Secretário e Tesoureiro do Distrito, líderes para Jovens, para Missões, Escola Dominical e tantos outros. Temos uma grande e boa equipa.

O que lhe fascina na missão?

A oportunidade que Deus me tem dado de participar de Sua grandiosa Obra. De coisas pequenas, Deus faz grandes coisas. De onde não se vê nada, Deus faz tudo. Maior do que tudo, é poder participar da transformação de vidas pelo poder de Deus. Coisas que o homem não pode explicar mas Deus faz possível. Viver com Deus é fascinante e há novidades todos os dias.

Leia ainda:

Eleição da Superintendente do Distrito Norte da Igreja do Nazareno foi renhida

Uma mulher lidera Igreja do Nazareno no Barlavento

Igreja Nazareno. Cessado distrito de Cabo Verde. David Araújo mantém-se líder no Sul

Nazarenos em assembleia “histórica” na Boa Vista