Sendo filho de emigrante cabo-verdiano, desde princípios dos anos setenta do século vinte, mas também emigrante, dada a minha condição de trabalho, já lá vai para mais de 16 anos, enquanto consultor internacional, entre os Estados Unidos e um conjunto de países africanos, sobretudo onde também reside uma importante diáspora cabo-verdiana, estou em condições de afirmar, com propriedade, que essa condição me permite fazer um juízo de valor, sobre os impactos na nossa vasta e dispersa diáspora, das políticas públicas promovidas pelos dois (2) mais importantes candidatos (Dr. Carlos Veiga e Dr. José Maria Neves), enquanto ex-Primeiros Ministros, à presidência da república, nas eleições presidenciais de 17 de Outubro próximo. Por uma questão de facilidade de leitura, resumiria, no quadro seguinte, algumas medidas de política por eles desenvolvidos:
Número |
Dr. Carlos Veiga, 1991-2000 |
Dr. José Maria Neves, 2001-2016 |
Obs. |
1 | Atribuição de direito de votar e ser eleito nas eleições legislativas e presidenciais | Nenhuma medida adicional nessa matéria | Durante 15 anos (1975-1990), enquanto o país esteve sob a liderança do PAIGC/CV/Pedro Pires, não havia esse direito e os emigrantes eram tratados de estrangeirados |
2 | Supressão das autorizações de saída e da obrigatoriedade dos com dupla nacionalidade de pedirem vistos para entrarem no seu próprio país | Manteve essa medida | |
3 | Direito a dupla e plurinacionalidade aos emigrantes, seus filhos e netos | Nenhuma medida adicional nessa matéria | |
4 | Facilidade de Investimento Directo dos Emigrantes | Nenhuma medida adicional nessa matéria | |
5 | Atribuição de bolsas estudo para formação superior, média e profissional aos jovens cabo verdianos e descendentes na diáspora africana, pela primeira vez, na história de Cabo Verde | Reforçou essas medidas | |
6 | Atribuição de subsidio de pensão social aos idosos cabo-verdianos na diáspora africana, pela primeira vez na história de Cabo Verde | Reforçou essas medidas | |
7 | Direito de se levar para Cabo Verde, uma viatura para uso familiar e todo o recheio da casa, sem pagar direitos aduaneiros | Nenhuma medida adicional nessa matéria |
Só por esta tabela, se pode concluir quem é mais amigo da diáspora. Ou seja, os dois candidatos a PR nas eleições que se avizinham, devem ser avaliados não só por aquilo que fizeram, enquanto PMs, mas também por aquilo que propõem fazer, caso um deles for eleito PR. Das apresentações públicas das respectivas candidaturas e no que à diáspora diz respeito, vimos a do Dr. Carlos Veiga, muito alicerçada naquilo que é a essência da nação cabo-verdiana, a qual ultrapassa as nossas fronteiras e é congregadora das vontades de todos e de todas os/as cabo-verdiano (a)s, independentemente do ponto do globo em que se encontram, e, a do Dr. José Maria Neves, insistindo, nos países por onde tem passado, no apelo à não colocação de todos os ovos no mesmo balaio, referindo-se à necessidade, segundo ele, de ter um PR de côr política diferente da do Governo saído das eleições do dia 18 de Abril passado, sem nenhuma fundamentação técnica plausível.
Em 2011, aquando das eleições presidenciais desse ano, e, enquanto PM, fazia sentido, segundo ele, apoiar o candidato do seu partido, por ele escolhido e que saiu derrotado, face ao actual inquilino do Palácio do Plateau, o Dr. Jorge Carlos Fonseca. Nessa altura, colocar todos os ovos na mesma cesta era tudo normal. Temos que ser sérios na política, e, essa insistência só lhe desacredita aos olhos do eleitorado cabo-verdiano.
A apresentação das linhas mestras da sua candidatura que ele vem fazendo, está eivada de uma confusão de papéis entre os poderes e as competências de um PR e de um PM, plasmados na Constituição da República que ele não votou em 1992, enquanto deputado do PAICV na oposição, na altura. Quem não se revê na Constituição do seu país, não pode ser um bom Presidente. Quem confunde, propositadamente, os papéis dos dois órgãos do poder, para poder enganar os menos informados não dá confiança. Quem insulta, em plena marcha dos seus poucos apoiantes, num dos bairros de Lisboa, uma senhora, só pelo facto desta ter dito que ele tem contas a prestar para com os cabo-verdianos, não dá confiança e se revela um autêntico arruaceiro e um anti-democrático.
A verdadeira intenção de JMN, caso fôr eleito PR, é ser um foco de conflito e tensões permanentes com o actual Primeiro Ministro, Dr. Ulisses Correia e Silva, fazendo desgastar a imagem do governo por este liderado, e, por essa via, fazer ressuscitar, em 2026, o moribundo PAICV, de que foi líder, até bem pouco tempo. Neste momento, face aos desafios do pós COVID-19, Cabo Verde precisa, mais do que nunca, de uma estabilidade política e institucional, para se poder materializar o Programa do actual Governo, sufragado nas urnas, nas eleições legislativas de Abril último.
Quem está em melhores condições de conferir tranquilidade, unidade e coesão da nação, para enfrentar com sucesso, esses desafios, é o Dr. Carlos Veiga, o qual não só foi co-autor da actual Constituição, mas também por ser um homem com um profundo conhecimento das medidas de reforma da justiça, da administração pública, da economia e das políticas para a diáspora cabo-verdiana.
O desempenho do Dr. Carlos Veiga, enquanto Embaixador de Cabo Verde nos Estados Unidos, de 2016 a 2019, foi marcado, de entre outras coisas, por uma prática de profunda amizade cultivada entre ele e a comunidade cabo-verdiana aqui radicada, pelo quase estancamento da repatriação de cabo-verdianos em conflito com a lei deste país, por ter promovido, junto do Governo de Cabo Verde, um programa de acolhimento, no país, daqueles que tiveram o azar de serem repatriados, da celebração do acordo SOFA entre os dois governos, da descentralização e da melhoria dos serviços consulares a várias cidades americanas, com maior concentração de cabo-verdianos, etc.
A candidatura do Dr. Carlos Veiga, no país e na diáspora, tem recebido um apoio crescente, de uma grande parte de cabo verdianos e cabo-verdianas, de vários quadrantes sociais, de várias gerações de emigrantes e de todas as ilhas do arquipélago, o que pressupõe que ele poderá obter, para além de Cabo Verde, uma grande vitória, também na diáspora, no dia 17 de Outubro de 2021. Por isso, o meu voto, nesse dia, é no Dr. Carlos Veiga! Força, Doctor. Estamos juntos!