EMBAIXADORA ANA GRAÇA: O que se está a passar no Mundo é muito grave

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Os movimentos crescentes populistas, o aumento da xenofobia, a questão dos refugiados, das emigrações são temas que evidenciam os muitos desafios que as Nações Unidas têm atualmente pela frente

A Representante da ONU na Cidade da Praia observa que há novas maneiras de conflitos mundiais e que são “mais complexos” que ao tempo da Segunda Guerra mundial, e lamenta o surgimento de movimentos de “alguma intolerância”, daí defender que a própria ONU tem um papel “cada vez mais relevante” no concerto das Nações.

Em conversa com OPAÍS, à margem de uma recessão na sua residência, no âmbito do Dia das Nações Unidas, a Embaixadora Ana Graça falou também do “muito trabalho” que é necessário fazer para que os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentáveis possam ser alcançados no prazo fixado.

À frente da representação da ONU em Cabo Verde há cerca de 5 meses, a diplomata considera que o “mais importante” em matéria de cumprimento dos ODS é que cada País faça uma análise de quais é que são os objetivos mais prioritários e o que é preciso para alcançar os mesmos.

OPAÍS – Está à frente da ONU em Cabo Verde há praticamente cinco meses, como está a encarar este desafio de representar a instituição no nosso País?

Ana Graça – Tem sido, verdadeiramente, um prazer estar ao serviço das Nações Unidas e de Cabo Verde nesta função. Tive uma recessão muito calorosa por parte de toda a gente.

Fiz (no meu discurso) uma referência especial aos funcionários das Nações Unidas mas também todo o trabalho, as parcerias e as conversas que tenho tido com o Governo (local e central), com o Parlamento, Sociedade civil e o próprio setor privado, as conversas têm sido muito encorajadoras e muito positivas.

Tem sido cinco meses para mim e inicialmente de um processo de aprendizagem, de ouvir também as aspirações das pessoas e do País e depois de continuarmos a trabalhar em estreita parceria como temos feito ao longo destes 40 anos.

Este é um momento de desafio para as Nações Unidas.

Sim, sem dúvida que é, sobretudo ao nível global. Basta ver o que se passa nos Estados Unidos, na Europa, os movimentos crescentes populistas, o aumento da xenofobia, a questão dos refugiados, das emigrações, o que se está a passar em vários países do Mundo é muito grave.

Há novas maneiras de conflitos que são mais complexos, embora não se compara com o que se passou com a Segunda Guerra mundial mas vê-se o surgimento de conflitos mais complexos e que têm levado a movimentos de alguma intolerância preocupantes no resto do Mundo, de maneira que o multilateralismo, e neste caso as Nações Unidas, acho que têm um papel cada vez mais relevante pelo mandato que têm, um mandato de neutralidade e de lutar para a redução da pobreza em todos os países.

Os ODS, Cabo Verde, já disse a Senhora Embaixadora, está bem posicionado a nível da região Subsariana, é possível concretizar todos os 17 objetivos?

Não sei se será possível concretizar todos. Aquilo que é mais importante é que cada País, efetivamente, faça uma análise de quais é que são os objetivos mais prioritários, indo de encontro aos respetivos planos de desenvolvimento nacional, ver quais é que são os objetivos mais prioritários para o País e faça uma analise do que é que é preciso fazer para alcançar estes objetivos e quanto é que custa. Depois é trabalhar em grandes parcerias, com novas formas de financiamento, com mobilização de parceiros desde o setor privado à ajuda pública ao desenvolvimento a novos tipos de financiamento para alcançar os objetivos que são prioritários para cada contexto em cada País.

Do conjunto dos 17 ODS, o que seria importante mesmo concretizar?

Para as Nações Unidas existem, naturalmente, objetivos que são essenciais porque estão na base de todos os outros.

Quando falamos do acesso universal à educação, à cobertura universal de saúde, igualdade de género… sabemos que são objetivos essenciais para que os demais que dizem respeito à redução da pobreza, ou redução das desigualdades sejam alcançados.

A nível global acredita que é possível cumprir todos os 17 ODS?

Há muito trabalho a ser feito para que seja alcançada de forma igual e há muitos recursos que têm que ser mobilizados a nível global, portanto penso que é possível, há toda a esperança mas é um desafio muito muito grande, bastante maior do que a agenda dos Objetivos do Desenvolvimento do Milénio.