Não restam dúvidas: estamos diante do rearranjo da Nova Ordem Mundial, e a incerteza é a única realidade. Com o desmoronamento dos edifícios de dominação estatais criados após a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, é certo que uma nova arquitetura de poder e dominação será erguida. Essa disputa foi desencadeada com a guerra na Ucrânia, opondo, de um lado, o G7 (e seus aliados) e, do outro, a Rússia (suportada pelos BRICS).
Para Cabo Verde, a imprevisibilidade e o caos não são aspectos favoráveis, não apenas pelo fato de não termos o mínimo controle sobre a incerteza instaurada — seja em decorrência da guerra na Ucrânia, da pretensão dos países emergentes com a desdolarização ou da ascensão de novas forças militares globais —, mas principalmente pela transferência do centro do poder global, tanto em transações comerciais quanto em influência política, do Atlântico Norte Ocidental para a Ásia Indo-Pacífica.
Diante dessa mudança, muitas outras questões estão se tornando extremamente relevantes. Tanto na dimensão micro, no nível individual — com novas necessidades de consumo, novas orientações e exigências sociais e novos comportamentos se impondo, gerando complexidades e desestruturação nas principais instituições de relações sociais, como a família e a convivência comunitária —, quanto na dimensão macro, envolvendo a competição entre Estados e grandes blocos econômicos.
A Quarta Revolução Industrial que vivenciamos demonstra ter o mesmo impacto transformador da Primeira Revolução Industrial. Ela não apenas altera as relações individuais e sociais, mas também possui força suficiente para redesenhar a grande arquitetura de poder estabelecida após o fim da Segunda Guerra Mundial. O que se antevê é um mundo multipolar, com o novo núcleo de poder concentrado na Ásia.
Querendo ou não, Cabo Verde está obrigado a repensar sua diplomacia e a se recolocar dentro desse novo tabuleiro de forças e competições. Pelo que se observa, será preciso “cabeça fria”, muita perspicácia e pragmatismo ao analisarmos o cenário atual: com o bloco ocidental, liderado pelos EUA, perdendo poder no comércio e na força militar, além de abrir mão das instituições globais; com a Europa perdida, caminhando para uma crise não apenas comercial, mas também existencial; e com uma União Africana sem pujança militar e economicamente irrelevante. Portanto, o que está por vir parece ser assustador. Especialmente se considerarmos que, no seu melhor ano agrícola, Cabo Verde produz apenas 20% do que consome. O que temos em mãos, de partida, é o mar de Cabo Verde — mais de 800.000 km², uma área maior do que a Ucrânia (o segundo maior país europeu, perdendo apenas para a Rússia).
Diante desse cenário, aqueles que detêm o poder de decidir nosso futuro — ainda que vivamos em uma sociedade hiperindividualista — devem fazê-lo de forma pragmática e racional. Isso porque qualquer decisão leviana e mal calculada tem o potencial de arruinar tudo o que foi construído até agora, considerando um único ponto fundamental: o país não produz o suficiente para sobreviver ao caos que se instalou.
Para virar à esquerda, vire à direita e para virar à direita, vire à esquerda. A Melhor solução.
Comentários estão fechados.