Europeus nos estádios sem máscara e África sem poder comprar vacinas

O enviado especial da União Africana para a aquisição de vacinas lamentou hoje que a Europa não venda vacinas a África, assinalando a grande diferença entre os dois continentes, quando “os europeus já podem ver futebol nos estádios sem máscaras”

“A União Europeia tem fábricas de vacinas, tem centros de produção em vários países, mas nem uma dose saiu de uma fábrica Europeia para África”, criticou Strive Masiyiwa durante a conferência de imprensa semanal do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), na qual vincou que o pedido é para comprar vacinas, e não para doações.

“Não se pode dizer que nos apoiam, os países Europeus já vacinaram tantas pessoas que agora podem ver futebol nos estádios sem máscaras, enquanto os Africanos, pelo contrário, têm menos de 1% de vacinação”, apontou o responsável.

Respondendo a uma questão sobre o fato de a vacina produzida na Índia ficar de fora do certificado digital que permite o livre trânsito na Europa, o responsável disse que a decisão era preocupante.

“Os Europeus financiaram a Covax, portanto como é que chegámos a um ponto em que dão dinheiro à Covax, que vai à Índia para comprar vacinas e depois dizem-nos que não são válidas”, questionou Strive Masiyiwa, acrescentando: “Fomos falar com os produtores Europeus, dizem-nos que estão no limite da produção e referem-nos para a Índia, por isso agora é a altura certa para a Europa abrir as suas fáricas para que possamos comprar vacinas, porque o que queremos é comprar vacinas, não são doações”.

Em causa está o fato de a vacina produzida na Índia sob licença da AstraZeneca, a mais usada em África, ter ficado de fora do certificado digital aprovado pela UE, que entra hoje em vigor. “Olhando para os dados científicos, não há razão para esta decisão, por isso apelamos à UE para se afastar de políticas que minem e tornem difícil o combate à pandemia”, acrescentou o responsável do África CDC, John Nkengasong, durante a conferência de imprensa de hoje, dizendo que espera “que a UE reverta a sua posição muito rapidamente”.