Festas de Nossa Senhora em São Nicolau sem peregrinações e ajuntamentos

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Prevenção, esperança, serenidade e confiança na providência e no amor de Deus, que é o Senhor do tempo e da história. É esta a mensagem dirigida aos fiéis pelo Pároco das Paróquias da Ribeira Brava, em São Nicolau, por ocasião do mês de maio, em que solenidades como Nossa Senhora de Fátima e do Monte Cintinha acontecem na ilha

Maio é um mês muito peculiar para a Igreja e para a família. Começa-se, no primeiro domingo, a celebrar o Dia das Mães, ao que segue algumas festas Marianas, como Nossa Senhora de Fátima, dia 13, a Família, 15, e culmina com a grande solenidade de Nossa Senhora do Monte Cintinha, mas maio é ainda o mês em que se recorda várias aparições de Nossa Senhora, é o mês em que os cristãos são convidados a rezarem, ainda mais, o terço.

Ao contrário dos anos anteriores, em que chegavam fiéis e peregrinos de várias partes do País e da nossa Diáspora, este ano, por causa do Covid-19, as atividades públicas, sobretudo para o 13 de Maio e para Monte Cintinha, com muitas pessoas, não serão possíveis.

Em entrevista ao OPAÍS.cv, a partir da Ribeira Brava, o Padre Eliseu Lopes fala em celebrações que vão acontecer de forma “muito restritivas”, com presenças de “poucos fiéis, sem peregrinações e sem aglomerações de pessoas”.

O Sacerdote e Pároco de Nossa Senhora do Rosário em que as festas de Nossa Senhora de Fátima e do Monte Cintinha são expressivas já pode partilhar a sua “tristeza” com os fiéis por não poderem celebrar, juntos, sobretudo estes dois momentos fortes da Igreja, mas acredita que não faltará um outro momento para assinalar, com o povo, o aniversário da elevação de Monte Cintinha a Santuário.

OPAÍS.cv – Como vão ser as festas de Nossa Senhora de Fátima e do Monte Cintinha, num contexto de Covid-19?

Padre Eliseu Lopes – Na Verdade, as festas de Nossa Senhora de Fátima e de Monte Cintinha, festas de Maio, são duas das maiores aqui em São Nicolau, não só porque albergam muita gente, mas também porque muitos são os peregrinos e devotos de Nossa Senhora que se juntam para “pagar” promessas a Maria, num ato de devoção e de fé.

Ora, em boa verdade, podemos dizer que a festa em si, será igual aos outros anos. Quando falamos em “festa”, entende-se o espírito com que se celebra, isto é, o seu espírito e significado genuíno e profundo, sobretudo no que se refere à parte espiritual. Porém, naturalmente, este ano, dada à situação da pandemia do novo coronavírus em que vivemos, vão ser celebradas de forma muito restritivas, com presenças de poucos fieis, sem peregrinações e sem aglomerações de pessoas, até porque elas acontecem em pequenas zonas, porém não podemos deixar de celebrar as festas religiosas nos seus dias litúrgicos próprios.

Para Nossa Senhora de Fátima, na comunidade de Morro Brás, tivemos dias de Novenas, celebrações e orações na Capela, com um grupinho de pessoas, procurando manter e cumprir as restrições. Os jovens locais estão a ensaiar para animar a Missa de amanhã, quarta-feira.

Novena em Cachaço. Não há peregrinação. Missa sem ajuntamento

Para Nossa Senhora do Monte Cintinha, em Cachaço, a novena vai iniciar no dia 15, sexta-feira, mas a festa em si, tinha vindo a ser preparada há muito tempo, todos os meses com peregrinações e outras atividades, mas tivemos que interromper, devido à Covid-19. Também para esse dia, 24 de maio, não vai haver peregrinação, como de costume, será celebrada uma Missa no Santuário no mesmo dia, sem ajuntamento de fiéis.

No dia das respetivas festas, não vamos ter grande número de pessoas, naturalmente, pois elas estão conscientes de que não podem ir, não vamos fazer procissão solene nem haverá o habitual almoço em conjunto e convívio. A seguir à Missa, cada família se junta na sua casa, para almoçar e conviver, em família.

Capela do Santuário de Monte Cintinha, em Cachaço.

E se tiver uma forte adesão dos fiéis, como a Igreja vai posicionar para garantir, pelo menos, o distanciamento recomendado?

Estou em crer que tal não vai acontecer. Primeiro, porque as pessoas têm acatado as orientações das autoridades sanitárias, mas também as orientações que a própria Igreja vem dando neste sentido de não aglomerações nas festas religiosas, distanciamento, as pessoas idosas ficar em casa.

A Igreja, em todo o momento ela é responsável e ela sabe discernir qual é o melhor para os fiéis, e sobretudo ela se preocupa com o bem e com a saúde das pessoas, antes de mais.

A mensagem que passamos aos fiéis é que eles fiquem em casa, que este ano não vai haver peregrinações por grupos nem famílias e aonde estão podem estar em sintonia espiritualmente com a comunidade que celebra e que vive a fé nesse dia. É uma nova forma de criar comunhão hoje, espiritualmente. Haverá outros momentos para estarmos juntos e partilharmos a fé. São momentos novos, mas que temos que saber acolher e ter paciência.

Logo no primeiro ano de elevação de Monte Cintinha a Santuário não se vai poder ter uma grande celebração religiosa e muito participada. Haverá possibilidade de adiar para outra altura?

É verdade!

Infelizmente, no primeiro ano em que foi elevada à categoria de Santuário, este ano, pela Festa da Ascensão do Senhor, dia da Festa, não vamos poder celebrar com “pompas e circunstancias”, como se costuma dizer e como é hábito aqui em São Nicolau, a festa de Nossa Senhora do Monte Cintinha. Já partilhamos esta “tristeza” com os fiéis.

A princípio sonhávamos que fosse possível, mas infelizmente não será. Já comunicamos e sensibilizamos as comunidades neste sentido de que não será possível, no seu próprio dia. Mas que oportunamente havemos de fazer uma celebração para comemorar esse dia. Tomara Deus que esta pandemia acabe logo e assim, havemos de marcar uma data para, aos pés de Nossa Senhora, celebrar e agradecer-lhe!

É certo que estamos em tempos de indefinições e incertezas, mas quiçá, lá para o mês de outubro, também mês de Nossa Senhora, nós haveremos celebrar, todos juntos, no Santuário a grande Festa… É o que todos esperamos, mas naturalmente vamos estipular, uma data noutra altura para reunir ali os peregrinos. Porém, para colmatar a ausência de fieis no dia da festa, convidamos todas as famílias e as pessoas a se dirigirem ao Santuário, pois nos dias normais o Santuário estará aberto para acolher as pessoas e famílias que lá queiram ir, para cumprir suas promessas e honrar Maria. Só não podem faze-lo no dia e em grande número.

A mensagem é sempre de prevenção, esperança, serenidade e confiança na providência e no amor de Deus, que é o Senhor do tempo e da história.

Que mensagem aos Paroquianos e devotos de Nossa Senhora neste tempo particular?

A mensagem é sempre de prevenção, esperança, serenidade e confiança na providência e no amor de Deus, que é o Senhor do tempo e da história.

A Igreja está sempre ao lado dos homens, o que o homem experimenta a Igreja também a experimenta. As alegrias e tristezas dos homens de hoje são também as da Igreja.

A Igreja já passou por muitos momentos conturbados da história, mas sempre sai mais coesa e unida. A Igreja costuma chamar família de “Igreja doméstica” e este é o tempo “favorável” para voltar a valorizar a família e os momentos em família, vivendo os seus valores.

A mensagem aos devotos de Nossa Senhora e fiéis em geral é a que nos disse o Papa Francisco: as restrições da pandemia nos forçaram a viver a dimensão doméstica da fé, inclusive do ponto de vista espiritual. O Papa pede-nos que rezemos o terço em casa, nas chamadas igrejas domesticas, hoje através de meios de comunicação social, internet, contemplar Cristo no Seu rosto para encontramos as forças para vencer esta pandemia.

Já agora, alguma recomendação aos fiéis no sentido de evitarem ir àquelas duas celebrações?

Basicamente seria deixarem as devoções e promessas para outra altura. Podem fazer isso em suas casas, se quiserem podem ir noutra altura. A celebração será transmitida na página do Facebook da Paróquia e na Rádio. E temos passado mensagem para não irem.

Como as Paróquias sob sua tutela viveu o período de estado de emergência, sem as celebrações comunitárias?

Foi um momento muito duro e difícil, humanamente falando. Porque estamos habituados a celebrar com o povo. Nós os Padres, vivemos e existimos para estar ao serviço do povo e com o povo. E não poder celebrar com o povo sobretudo no tempo Pascal, auge da fé cristã, foi uma experiência dolorosa, mas por outro lado foi ocasião para fazermos a comunhão espiritual, na mesma fé. Saber e sentir que o outro está ali, mesmo sem estar presente fisicamente, porque as circunstâncias não permitiam.

Durante o estado de emergência, graças a Deus, as nossas Igrejas continuaram abertas, mas as celebrações aconteciam em privado, com um mínimo de fiéis possíveis, número muito reduzido para garantir a celebração. Procurávamos incentivar os fieis a assistirem na televisão, na rádio e noutros meios que a própria Paróquia encontrou para chegar aos fiéis.

Como foi a retoma das celebrações com o povo no último fim-de-semana?

A retoma aconteceu, porém não na totalidade. Ou seja, houve mais gente nas celebrações do que antes do estado de emergência, mas procurámos cumprir com as normas das autoridades sanitárias, mas sobretudo com as normas do Bispo da Diocese, que tem dado pistas e orientações aos seus fieis neste sentido.

Procuramos fazer o distanciamento, evitar contatos, não estar mais de um terço da capacidade das nossas Igrejas, desinfetar as Igrejas e mais orientações. Mas foi uma sensação de alegria, emoção e gratidão poder ver que as pessoas voltaram e perceber que estão com sede de Deus e da experiência de fé. Assim como as pessoas precisam de sair para ir às compras, aos bancos, também precisam de alimentar a fé.

Para possibilitar a participação de todos, tivemos que acrescentar mais celebrações nas igrejas Paroquiais, para poderem participar em horários diferentes.