Francisco pede uma “nova economia” e regresso à “política nobre” no mundo

Na sua nova encíclica o Papa diz que a fraternidade é essencial para que haja verdadeira liberdade

O Papa Francisco defende, na nova encíclica “Fratelli Tutti”, que foi publicada este domingo, uma nova economia e a redescoberta da nobreza da política para construir um mundo mais fraterno.

A encíclica é dedicada precisamente ao tema da fraternidade e da amizade social e reúne num só documento muito do pensamento e das afirmações e escritos do Papa sobre estes temas, ao longo do seu pontificado.

Como que para justificar a necessidade deste seu apelo, o Papa começa por elencar, num longo primeiro capítulo, muitos dos problemas que afligem o mundo atual, incluindo os problemas causados por uma globalização que “unifica o mundo, mas divide as pessoas e as nações”, impondo “novas formas de colonização cultural e pela radicalização da política, que “deixou de ser um debate saudável sobre projetos a longo prazo para o desenvolvimento de todos e o bem comum, limitando-se a receitas efémeras de marketing cujo recurso mais eficaz está na destruição do outro”, tornando impossível a solidariedade.

Francisco deixa ainda uma palavra sobre as ameaças que resultam da era digital que faz desaparecer “o direito à intimidade” e que, por mais vantagens possa ter, é insuficiente para unir os homens. “Fazem falta gestos físicos, expressões do rosto, silêncios, linguagem corpórea e até o perfume, o tremor das mãos, o rubor, a transpiração, porque tudo isso fala e faz parte da comunicação humana”, lê-se.

Apesar de elencar todos estes problemas, Francisco termina o primeiro capítulo com um sinal de esperança muito atual.

Francisco dedica vários parágrafos da sua encíclica a criticar o modelo económico e político neoliberal que diz ter falhado nas suas previsões de acabar com a pobreza no mundo e promover a igualdade. “O mercado, por si só, não resolve tudo, embora às vezes nos queiram fazer crer nesse dogma de fé neoliberal”, diz o Papa, acrescentando que “a fragilidade dos sistemas mundiais perante a pandemia evidenciou que nem tudo se resolve com a liberdade de mercado”.
O Papa lamenta que não se tenha aproveitado a crise de 2008 para procurar novos modelos económicos, apostando nas antigas estratégias. Este é um tema caro a Francisco, que tinha convocado para este ano um encontro no Vaticano precisamente dedicado à procura de novas soluções económicas, mas que teve de ser adiado por causa da pandemia.

O capítulo termina com um apelo à revalorização da política, por ser um instrumento essencial para promover a fraternidade. “Um indivíduo pode ajudar uma pessoa necessitada, mas, quando se une a outros para gerar processos sociais de fraternidade e justiça para todos, entra no campo da caridade mais ampla, a caridade política. Trata-se de avançar para uma ordem social e política, cuja alma seja a caridade social. Convido uma vez mais a revalorizar a política, que é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas de caridade, porque busca o bem comum”.

Francisco conclui dizendo que “a política é mais nobre do que a aparência, o marketing, as diferentes formas de maquilhagem mediática. Tudo isto semeia apenas divisão, inimizade e um ceticismo desolador incapaz de apelar para um projeto comum.” A encíclica do Papa prossegue, focando nos três capítulos finais os caminhos pessoais de conversão para alcançar e aprofundar a fraternidade.

“Fratelli Tutti” é a terceira encíclica publicada durante o pontificado de Francisco.