Gestão de expectativas em contexto de dificuldade

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“Pensar é fácil, agir é difícil, mas agir de harmonia com o que se pensa é o que há de mais difícil no mundo”, Goethe

As expectativas são uma parte fundamental da vida.

Elas criam e desenvolvem a motivação que está na base de tudo quanto fazemos ou não fazemos.

Elas criam e recriam o nosso imaginário, modelando o nosso futuro, em função daquilo que nos motivam, sonhamos ou desmotivam.

Vivemos de expectativas, geramos e gerimos expectativas, mas também frustramos, mantemos ou renovamos as expectativas.

Não há expectativas quando não se sonha!

Para percebermos os mecanismos que envolvem as expectativas, teremos de conhecer as suas componentes essenciais quais não sejam: o sonho, o esforço e a probabilidade.

Assim, quanto maior é o esforço, maior a chance de concretizar os desejos, pois a probabilidade de concretizar o que se sonha aumenta.

Esta equação que se objetiva a longo prazo, apela para a consistência e coerência das ações e para harmonia entre a teoria e a prática, não havendo espaço, aqui, para voluntarismo.

São precisos ideais suficientemente fortes que prendam atenção e geram motivação e determinação para as realizar, bem como a inteligência e capacidade para as gerir. Não há nada na vida que se consegue com facilidades ou sem o trabalho. E esta regra deveria ser ensinada a todos, e deveria fazer parte do caderno de encargos de todos aqueles que pretendam ser protagonistas de qualquer coisa.

Este princípio deveria estar sempre na mente dos dirigentes, sobretudo políticos, que deveriam evitar a pregar facilidades como emprego para todos, aumento de salário todos os anos, acesso gratuito a tudo, enfim a prometerem um paraíso terrestes que sabem perfeitamente que não existe.

Não podemos prometer o que não podemos dar, nem alimentar expectativas que sabemos que são utopias não realizáveis.

As lideranças modernas devem conhecer bem quais os sonhos de cada liderado para que possa obter a sua adesão plena, em função da compatibilização de interesses. Devem apontar os desafios a serem superados, e, ao mesmo tempo, desenvolvendo nas pessoas a necessidade aprender a trabalhar, a enfrentar problemas, bem como gerir os desânimos e as deceções que aparecem e são sempre inevitáveis.

As expectativas são geradas e geridas de acordo com os interesses de quem as gera e em conformidade com as necessidades dos que vivem com elas.

A nível político, sobretudo em períodos de campanha eleitoral, a criação de expectativas, em relação a partidos e políticos, é algo que acontece com normalidade. As expectativas ou nascem das promessas, discurso e estilo de liderança que são expostos ou elas florescem do próprio recetor que constrói as suas expectativas a partir das suas reinterpretações do conteúdo que lhe foi disponibilizado.

E quanto mais as expetativas são elevadas, não sendo ou não tendo sido elas realizadas no plano prático, a frustração é maior, podendo as frustrações ser de natureza conjuntural ou, pelo contrário, de carácter irreversível.

O desencanto, quando assume caráter irreversível, pode conduzir a mudança de atitude com relação ao gerador de expectativas. Este é um dos grandes problemas que se colocam a quem não quer frustrar as expectativas dos seus apoiantes e que os quer manter e alimentar os seus sonhos e as suas motivações.

A gestão de expectativas, nos tempos que correm, coloca-se como um dos grandes desafios a quem tem a responsabilidade de governar, sobretudo quando se governa em conjunturas difíceis. E quando se ganha eleições, num quadro de uma frustração generalizada com a governação anterior, recai sobre a governação seguinte uma enorme expectativa o que pode ser bom e mau ao mesmo tempo.

Bom, porque o governo consegue ter uma base social de apoio muito elevado o que lhe concede um certo estado de graça durante algum tempo; mas mau, porque, passado o estado de graça, a cobrança é bem maior e a frustração também.

Uma boa gestão de expectativa passa por se introduzir paulatinamente os fatores da realidade no discurso político. Os fatores da realidade, se introduzidos com inteligência, podem não frustrar as expectativas e podem contribuir para uma adesão consciente aos objetivos e metas apontados.

Falar verdade aos eleitores de que a situação é difícil e que é necessário fazer sacrifícios ou que não há dinheiro para aumentar salários ou que a economia, tal como está, não vai gerar o número e a qualidade de empregos desejáveis, dizer isso expressamente, não é tarefa fácil, sobretudo partindo de quem sobre o qual recaiam enormes expectativas.

Mas é preferível frustrar, aparentemente, as expectativas com verdades, ainda que dolorosas, do que adiar a ilusão para um tempo em que o próprio descobre que foi enganado ou que auto-iludiu.

Contudo, para além da necessidade de se produzir um discurso de verdade, é preciso, simultaneamente, erigir-se um discurso de esperança: um discurso forte, convincente e contagiante, visando manter a ideia de mudança e de um rumo para uma vida melhor, fazendo com que as pessoas sintam ou se convençam que a sua situação vai mudar.

O discurso político não pode resultar e nem sair do nada. O discurso terá de ser construído, tendo como alicerce e referência a agenda política.

Sem agenda política, não há discurso político nem comunicação política que seja coerente, persistente e adaptado a diversas circunstâncias.

A agenda política é um casamento ótimo entre o programa de governo ou as suas grandes opções, de um lado, e os dados que resultem de sondagens, junto da opinião publica e dos eleitores, do outro. Os ingredientes essenciais de uma agenda política integram elementos de caráter estrutural e estratégico, ao lado, de elementos de natureza conjuntural e táticos.

Assim, a agenda política não deve esquecer das grandes opções da governação, cujos resultados e impacto levam algum tempo a ter efeitos, como não deve, de todo, ignorados aspetos táticos que são, nem mais nem menos, que as ações corretivas decorrentes das indicações permanentes da realidade política e social.

Deste modo, os aspetos táticos tratam da gestão do curto prazo, cujas informações e indicações são fornecidas pelas sondagens, através das quais ficamos a saber, como está o estado de alma do eleitor ou, ainda, como estamos a ser por si percecionados.

Informações sobre o grau de satisfação do eleitor com o desempenho do governo, o grau de confiança no governo e no seu líder, as informações relativas as perceções sobre o emprego, economia, segurança, saúde, etc., constituem aspetos referenciais sobre os quais o discurso político e a comunicação governamental devem dar a devida atenção.

Se as indicações de sondagens são positivas as ações e o discurso devem ser mantidos, e, porque não, aperfeiçoados. Sendo os dados desagregáveis, pode-se indagar em que grupos se está a conquistar ou a perder votos, se vêm da transferência de votos dos partidos da oposição ou se dos novos eleitores ou se, ainda, da abstenção.

Contudo, se as informações de sondagens são negativas é preciso saber as razões por que se está a perder votos e para quem ou se eles estão a ir para a abstenção. Em função do que for identificado, é preciso ajustar a estratégia comunicacional e medidas de políticas que atendam ou minimizem os efeitos negativos sobre o eleitorado.

A gestão de expectativas em conjuntura difícil exige dos governos e dos seus integrantes um saber e uma capacidade para fazer as leituras certas e corretas das diferentes envolventes, e, em função dessa leitura, produzir ações e discursos compatíveis.

Gerir expectativas significa administrar o tempo, a confiança e esperança de pessoas que acreditem ou acreditaram que um governo ou uma entidade, no qual depositou a sua esperança, é capaz de realizar o seu sonho.