A psicóloga clínica, Rute Agulhas, e o psiquiatra José Gameiro posicionam-se contra a detenção da mulher e defendem que ela precisa de cuidados e tratamentos
O assunto da mulher, supostamente de origem Cabo-verdiana, e que na terça-feira da semana passada abandonou um recém-nascido num ecoponto, em Santa Apolónia, Lisboa, continua na ordem do dia.
Após se conhecer que um grupo de advogados tenta a libertação da mulher, alegando que a prisão preventiva não é a melhor medida, agora é a psicóloga clínica, Rute Agulhas, e o psiquiatra José Gameiro, que se posicionam contra a detenção, decretada na passada sexta-feira, pelo Tribunal.
Conforme observa o psiquiatra, o ato da mulher é um “desespero” ao passo que a psicóloga clínica deixar um recém-nascido num caixote de lixo “é muito para lá de uma situação limite”.
Estes dois especialistas consideram que a prisão preventiva é exagerada, pois a mulher precisa é de cuidados, o que não vai encontrar numa Cadeia.
O psiquiatra José Gameiro defende que a mulher deveria estar num lugar mais “recolhido”, onde lhe pudesse ser prestado apoio. “Ir para a prisão não me parece que seja de todo a melhor solução, é um ambiente hostil e onde estará, provavelmente, a partilhar cela com várias outras reclusas envolvidas em crimes de tráfico de droga, por exemplo”.
“A nossa Sociedade é muito punitiva”, referiu o clínico, enquanto que a psicóloga admite se poder estar perante uma situação de depressão severa, “em que tudo é visto de forma negativa, a esperança na vida desapareceu e matar o filho é salvá-lo do mundo cruel”.
Avaliar a mãe
A psicologia considera ser urgente, no momento, avaliar a mãe e tentar perceber como algo assim aconteceu.
Segundo observa, deve-se “olhar” para este caso “de forma macro, fazer uma reflexão social”.
A mãe, acrescenta, “é também uma vítima das circunstâncias”.
Entretanto, a mãe do menino tem familiares em Portugal. Segundo se apurou, pelo menos, tem mãe e irmãos, ou seja, a criança tem avós e tios, mas não é crível que o menino lhes venha a ser entregues.
O Embaixador de Cabo Verde em Portugal, Eurico Monteiro, confirma que os avós e os tios da criança “vivem em Portugal” e que a Embaixada já os contatou.
Eurico Monteiro diz que “não sabemos o que terá acontecido para ela não viver com eles, ou se os familiares tinham ou não tinham informação sobre o paradeiro dela. De qualquer modo, estranharam a informação de que ela estava a viver na rua”.
Com Expresso e Público