Invisuais sem acesso a livros e documentos didáticos em formatos acessíveis

Os deficientes visuais em Cabo Verde não têm, ainda, acesso a livros e documentos didáticos em formatos acessíveis para facilitar os seus estudos, pelo que necessitam de auxílios de outrem para estudar

Uma realidade que mudaria com a ratificação do Tratado de Marraquexe, em 2018, que visa a garantia do acesso à bibliografia mundial em formatos acessíveis, no entanto, o acesso a materiais de caráter pedagógico é “muito limitado”, adiantou Carlos Monteiro, que se formou em direito com auxílio de colegas, já que não existem livros em formatos acessíveis para os deficientes visuais.

Nos últimos tempos, prosseguiu, tem havido algumas publicações de obras acessíveis, porém não há, ainda, bibliografias para fins pedagógicos, mas realçou que com a ratificação do Tratado de Marraquexe abre-se portas para esta possibilidade.

Após todo o esforço para se profissionalizar, outro desafio recorrente na vida dos deficientes visuais é lidar com o preconceito que dizem haver ainda no mercado de trabalho, que, segundo Carlos Monteiro, está “bem assente” na Sociedade, contudo continuarão a lutar pela inclusão, de modo a atingirem seus objetivos. “Se formos ver quantas pessoas com deficiência visual entraram no mercado de trabalho nos últimos anos, chegamos à conclusão de que há esse preconceito sim. É claro que se fala muito da inclusão, mas acho que estamos a caminhar (…), e vamos continuar a lutar, a gritar para atingir os nossos desafios, porque se formos ver ontem era impossível de estudar, hoje já estamos a concluir os nossos estudos”, sustentou Monteiro.

Por outro lado, o Presidente da Associação dos Deficientes Visuais de Cabo Verde, ADEVIC, Marciano Monteiro, fez uma retrospetiva “positiva” sobre esta matéria, justificando-se pelo fato de que antes as pessoas com deficiência visual não tinham acesso à escolarização, contudo, ressaltou que enfrentam ainda alguns obstáculos, nomeadamente o preconceito.

Dos demais desafios, acrescentou, os recursos financeiros e os recursos humanos, tendo afiançado que há necessidade de capacitar técnicos, sobretudo os professores, para estarem preparados para responderem às demandas das pessoas com deficiência visual.

A ADEVIC, assegurou, tem vindo a trabalhar no sentido de ultrapassar estes desafios.

Para se fazer face ao preconceito, segundo este responsável, há necessidade de dar continuidade às ações de sensibilização e demonstrar que as pessoas com deficiência visual têm potencial para contribuir para o desenvolvimento do País.

Neste sentido, Monteiro apelou às instituições públicas e privadas e à Sociedade em geral para continuarem a trabalhar para que as pessoas com deficiência possam beneficiar das mesmas oportunidades dos demais cidadãos.

Quanto aos livros em formatos acessíveis, o Presidente da ADEVIC destacou as melhorias “pouco palpáveis”, contudo ressalvou que com a ratificação do Tratado de Marraquexe, os caminhos estão abertos para uma nova possibilidade, porém, sublinhou, que há necessidade de trabalhar mais, principalmente na sua divulgação.

Por sua vez, a Curadora da Biblioteca Nacional, Matilde Santos, assegurou que o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, através da Biblioteca Nacional tem levado a cabo algumas ações para a implementação de bibliotecas inclusivas.

Para este desiderato, ressaltou, já realizaram algumas ações, nomeadamente a coleção de obras disponíveis em braille, com destaque para as obras infantis.

No que tange a obras didáticas em formatos acessíveis, Matilde Santos, afirmou que a ratificação do Tratado de Marraquexe em 2018 é um passo dado pelo Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas que tem feito tudo para cumprir esse tratado.

No entanto, admitiu que ainda “há muita coisa por fazer”, garantindo que, não obstante as adversidades continuarão a trabalhar no sentido de dar acessibilidade a todos, pelo que acredita que a médio prazo conseguirão “novos avanços” nesta matéria.