Legumes, frescos, peixes e carnes: a obtusa ideia da JHA

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Nos presentes dias da pandemia da COVID-19, cientistas de todo o mundo têm feito, não raro, propostas que visam, por um lado, retardar a proliferação desta epidemia, por outro, dar tempo aos serviços de saúde de se prepararem adequada e atempadamente para a enfrentar.

Num outro campo, profissionais da área da economia, da gestão e do empresariado têm animado a audiência mundial com discussões interessantes sobre os estímulos económicos a dar ao setor para a um tempo, preservar o emprego e proteger os mais vulneráveis do ponto de vista social.

Cabe dizer, alto e bom som, que ninguém tem uma bola de cristal, pois, esta crise tem uma dupla dimensão: a da saúde pública, na qual o ideal de preservar a vida humana se afigura, inquestionavelmente, como a prioridade das prioridades do poder político, conjugada com a crise de gêmeos inseparáveis: a crise da oferta e  procura, por causa dos confinamentos obrigatórios que afecta tanto os consumidores como os produtores.

No nosso pequeno país, o Governo tem tido um comportamento prudente, sensato e, a ajuizar pelos últimos dados vindos a lume, tudo indica que a situação venha a ser controlada. Obviamente que isso perturba os apóstolos da desgraça, quanto mais não seja porque desejam apenas o palco, à jeito ou à força.

Sente-se que neste frenesim a oposição está perdida e atordoada. Quer aparecer mas não sabe como. Hoje, o palco pertence ao Governo, que tem o dever de iniciativa. Ou seja, nesta situação, quem deve estar ao volante é o Governo e ninguém mais.

Obviamente, se as medidas do Governo tiverem sucesso, como é de se esperar, a oposição quererá delas tirar uma lasquinha de proveito, nem que essa lasquinha não sirva para fazer umas fresquinhas. Mas sempre pode dizer I told you so.

E, neste momento de estado de emergência, em que as pessoas circulam pouco, é mais difícil tirar fotografias, pelo que o único jeito é publicitar as fotos mais antigas e esforçar-se ao máximo para aparecer no jornal da noite ou de domingo. O que vale, a qualquer preço, é dar palpites para se criar a sensação de que “estamos a governar”.

Tudo isso vem a propósito dos conselhos que a líder do PAICV quis dar aos presidentes das câmaras municipais de Cabo Verde na conferência de imprensa do dia 8 de Abril último e  que ontem foram retomados pela mesma durante uma interpelação ao Governo a pedido do Paicv.

Chamuscada após ter comparado a crise financeira de 2008 com a atual crise sanitária provocada pela Covid-19, nem sequer teve meias-medidas como sempre. Voltou a falar  para todos os presidentes das câmaras municipais de Cabo Verde, como se fosse primeira-ministra, um sonho que persegue, mesmo sabendo que as medidas por ela avançadas foram copiadas “ipsis verbis “na página da Câmara  Municipal de Lisboa.

Escusava-se, por ridículo, de o fazer. Tamanho o descrédito!

Ela, a JHA, julga que deve colocar-se num pedestal superior, muito superior mesmo ao do atual primeiro-ministro e quando mais alto melhor. Pensa ela, erradamente. Assim, propôs medidas que acha serem robustas, pensadas, testadas para todas as câmaras, pois, segunda ela, “pensamos que é possível (e é preciso!) as Câmaras Municipais irem um pouco mais longe e fazerem um pouco mais!». A JHA deve saber que não estamos na época do achismo ou do pensismo. O momento requer ponderação, saber, audácia e assertividade nas decisões.

Essa de “ir mais longe” foi utilizada pela companhia de seguros IMPAR alguns anos atrás. Importa, porém, destacar que o que me surpreendeu na proposta janiriana não são as medidas de isenção de taxas e rendas, sendo certo que estas competências estão reservadas às assembleias municipais, mas sim o menu da dieta que sugeriu aos mais vulneráveis, composto por legumes frescos, peixes e carnes. Curiosamente, na receita, apenas faltavam canja e pastel, dei comigo a pensar e a rir-me!

Na ótica de JHA, os presidentes das câmaras municipais, aos quais, há bem pouco tempo, apelidava de delegados de governo, devem passar a funcionar como uns fisiocratas a quem se dão ordens para se dedicarem essencialmente à compra, ao açambarcamento e à distribuição de legumes frescos, carnes e peixes. E já, agora, canja e pastel e para abrir o apetite que tal um “croguinho” de Luís Cabelo.

Ainda bem que os conselhos da JHA não tiveram eco junto dos presidentes de Câmaras. Pudera quem quer ser presidente rabidante de legumes frescos!