Não comungando da sua ideologia, MpD respeita a memória de Cabral

O paicv – órfão de liderança e de referências – apresentou de forma apressada, no Parlamento, uma resolução para “proclamar” 2024 como o ano do centenário de Amílcar Cabral, ao estilo do que foi feito na Coreia do Norte aquando do centenário de Kim Il Song.
O paicv sabia que o MpD não ia dar para aquele peditório que, aliás, suscita sérias dúvidas da sua constitucionalidade. Mas, o objetivo do paicv não era homenagear Cabral, mas provocar o chumbo da dita resolução, até porque não dispõe de maioria parlamentar, para depois dizer que o MpD é contra Amílcar Cabral, como deixou a entender o seu presidente e a sua corte de milícias digitais.
Ora, os factos são teimosos e desmentem o paicv em toda a linha. O partido que mais contributos deu para a preservação da memória de Amílcar Cabral é o MpD.
Vejamos: foi o MpD que construiu o memorial de Amílcar Cabral na Várzea, aquando da comemoração do XXV aniversário da independência nacional. O paicv deixou aquele monumento em estado de sítio. Uma autêntica lixeira e lugar para tudo, menos para homenagem a Cabral. Foi novamente o MpD que requalificou o espaço, dando-lhe a merecida dignidade.
O busto de Amílcar Cabral, na Praça Central de Assomada, também foi lá colocado pelo MpD.
Mas, o mais importante de tudo foi a atribuição da nacionalidade cabo-verdiana, por decreto (ver D-L N°28/2000 de 4 de julho), a Amílcar Cabral. Este facto, o paicv não conta às suas milícias. Convém ninguém saber que, afinal, quem atribuiu a nacionalidade cabo-verdiana a quem eles apelidam (erradamente) de “Pai da Nacionalidade” – quando, de facto, a Nação é muito anterior a Cabral –, foi o MpD, presidido por Carlos Veiga.
É este mesmo paicv que é acusado, pelo seu então presidente, de os seus antigos dirigentes (na altura no paigc) terem assassinado Cabral por causa de intrigas e inveja.
É este mesmo paicv que, agora, tudo faz para passar a ideia que o MpD é anti Cabral. Mas, na verdade, o MpD, pese embora não comungar da ideologia de Cabral, respeita a sua memória e o seu trajeto, não com conversa fiada, mas com ações concretas, como as aqui descritas.


2 COMENTÁRIOS

  1. É isso mesmo caro Dr. Euclides Silva, diga sim, diga tudo que sabe sobre Amílcar Cabral, que assim está a ajudar os nossos conterrâneos dentro e fora do país, principalmente os nossos jovens, a compreender melhor sobre Amílcar Cabral, o seu legado e as suas histórias, sobre tudo as verdadeiras causas do seu assassinato e quem orquestrou.

    Para um Cabo-verdiano da minha idade, que em 1975 se encontrava a estudar 3ª classe, fiquei até data de hoje a questionar sobre o desaparecimento físico de Amílcar Cabral, sobre o “mudus operandis” que culminou com a sua morte, convenci-me que Cabral foi assassinado pelos seus camaradas.
    Independentemente de quem orquestrou o assassinato, nem o PAIGC, nem o PAICV conseguiram sacudir a água do seu capote quanto ao crime.

    Vir armar-se em defensor de Amílcar Cabral com expedientes de uma resolução apresentada ao Parlamento ardilosamente montada, sabendo que não dispõe de maioria e mais do que isso, sabendo da falta de consenso existente entre esses dois partidos quanto à comemoração das datas importantes para o país, com o PAICV a tentar colher louros sobre 5 de julho de 1975 e com o MpD a tentar colher louros sobre o dia 13 de janeiro de 1991, só podia ser uma brincadeira de mão gosto, na medida em que, não tendo o PAICV a maioria do parlamento, era a razão suficiente para não socorrer deste expediente, a não ser por claramente explicadas no artigo.

    Felizmente que a alma não fala, porque se falasse, certamente que Amílcar Cabral já teria dado um basta nos algozes do PAICV sobre a forma como tem brincado com a sua sua memória.

    Caramba! Como é que o PAICV tem a coragem de alegar algo sobre Amílcar Cabral? Um partido que nunca fez absolutamente nada para honrar e dignificar a sua memória, que não seja propaganda para enganar os mais jovens como sendo partido de Cabral.

    Eu, como bom Cabo-verdiano que sou, não fiquei satisfeito com o desfecho da votação que chumbou a resolução, mas, confesso que por tudo que se conhece da discussão sobre Amílcar Cabral, essa proposta não devia ser apresentada pelo PAICV, pelo grande risco de ser validado, não pelo não reconhecimento da memória de Amílcar Cabral, mas sim, pela forma manhosa como foi apresentada. Mas pronto, compreende-se que o PAICV queria tirar o seu quinhão sobre a valorização da memória de Amílcar Cabral ou pelo menos, tentar fazer crer que MpD é contra a dignificação da memoria do nosso herói, para tirar dividendos.

    Para o PAICV, a bala saiu está a sair pela culatra. Já saiu no parlamento e continua a sair na sociedade Cabo-verdiana, porque todo bom Cabo-verdiano sabe muito bem quem mais fez pela memória de Amílcar Cabral, apesar das ideologias diferentes.

  2. Totalmente de acordo com o texto, de uma forma geral. Entrando em detalhes eu diria que o PAICV declarou se em 1981, no seu congresso constituitivo ser o herdeiro do PAIGC e de Amílcar Cabral e ao longo da ditadura do partido único a ideia da simbiose entre a Amílcar Cabral e o PAICV era perfeita. Depois da abertura democrática esta colagem permacultor e aumentou ainda mais, configurando como um trumfo político e eleitoral. Pois mais admiração que tenhamos por todo o percurso heroico de Amílcar Cabral temos de aceitar que ele era um homem, sujeito a erros e não um Deus, logo infalível, que era um marxista leninista e que os seus seguidores trouxeram para Cabo Verde uma ditadura semelhante àquela que havia em Cabo Verde antes do 25 de Abril de 1974, senão pior. A reforma agrária trouxe perseguições e injustiças. Se milhares de Cabo verdianos não olham Amílcar Cabral como um herói de todo o povo cabo verdiano a culpa é única e exclusiva dos que foram seus colaboradores directos.

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