O Juramento de Hipócrates no cruzamento da medicina com o PAICV

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Na vida nem tudo pode valer. Particularmente, para quem exerce a tão nobre profissão de médico, cuja missão é cuidar da saúde das pessoas e salvar vidas. Na verdade, o Juramento de Hipócrates comporta uma panóplia de regras de natureza ética e deontológica que impedem o médico de, por exemplo, explorar a pobreza, ignorar o sofrimento, ou considerar qualquer outra prioridade que não seja a de preservar a vida humana.

Eis alguns dos preceitos do supracitado juramento que todos os médicos do mundo fizeram: “Exercerei a minha arte com consciência e dignidade; Manterei por todos os meios ao meu alcance, a honra e as nobres tradições da profissão médica; Não permitirei que considerações de religião, nacionalidade, raça, partido político, ou posição social se interponham entre o meu dever e o meu Doente; Guardarei respeito absoluto pela Vida Humana desde o seu início, mesmo sob ameaça e não farei uso dos meus conhecimentos Médicos contra as leis da Humanidade; Faço estas promessas solenemente, livremente e sob a minha honra.”

Porém, nas nossas ilhas, em alguns concelhos, certos médicos regem-se pelo Juramento do PAICV e secundarizam Hipócrates. Pensam que podem tudo fazer em prol dos interesses do seu partido, colocando de lado o compromisso com a ética e a moral e entrando por caminhos ínvios e miseráveis, emporcalhando tanto a política, como a medicina.

Senão vejamos: É , de facto, deveras lamentável assistir o médico Lúcio Fernandes, militante do PAICV, candidato à Presidente da Assembleia Municipal dos Mosteiros na lista do partido estrela negra nas eleições do dia 25 de outubro, através de uma publicação de 9 de setembro, no seu mural de Facebook, com toda a naturalidade, a dar conta de que submeteu 900 mosteirenses ao teste rápido do COVID-19. À primeira vista, parece tratar-se de um acto nobre de solidariedade para com as gentes do concelho que o viu nascer e que deveria merecer os nossos aplausos. Todavia, uma análise mais cuidada leva-nos a observar que o médico Lúcio Fernandes tem obrigação de conhecer os procedimentos, tanto médicos, como deontológicos, administrativos e legais, intrínsecos à realização de teste rápido do COVID-19.

Nomeadamente, deveria saber que para a realização do referido teste, a entidade que o administra tem de estar certificada para tal e nada aponta neste sentido. Também, é consabido que a Entidade Reguladora Independente da Saúde (ERIS) é o organismo que certifica os estabelecimentos públicos e privados que podem realizar tais testes.

De facto, o médico Lúcio Fernandes submeteu os mosteirenses a testes ilegais, duvidosos, potencialmente criminosos e sem o amparo de qualquer instituição certificada para o efeito.

O quadro em mãos afigura-se um ato de grande irresponsabilidade praticado à revelia da lei, cuja motivação é tão-somente partidária e eleitoralista. Estamos perante um cenário que aponta para uma clara violação da lei e das regras deontológicas do exercício da profissão de médico, quiçá, numa vil promiscuidade entre o homem político e o homem médico, explorando a fragilidade das pessoas em face do monstruoso virús COVID-19.

Neste quesito, julgamos necessário e urgente um claro pronunciamento da Ordem dos Médicos. Aqui o mínimo exigido é a abertura de um inquérito para se apurar as circunstâncias da realização dos testes rápidos pelo médico Lúcio Fernandes sendo, igualmente, mister que a ERIS, como entidade reguladora da saúde, aja no sentido do cabal apuramento dos factos e, sendo necessário, actue em conformidade e com a firmeza que o caso impõe.

Cremos, igualmente, fazer sentido um posicionamento da CNE que, lembramos, deliberou contra a distribuição de t-shirts e máscaras para o período eleitoral que se avizinha.

Este tipo de expedientes não é novo e lembra-nos a barbárie dos atestados médicos emitidos em série nos dias das eleições para condicionar o exercício livre do voto por parte das pessoas idosas.

Convencidos estávamos nós de que se tratava de uma prática do passado, mas, notamos que passa o tempo, mas os métodos continuam os mesmos e a perversão das intenções a mesma. Mantêm-se actuais!

Sabendo que as práticas permanecem imutáveis é natural e justificável que haja alguma apreensão e que se esteja atento à actuação e às movimentações do delegado de saúde dos Mosteiros no que tange a emissão de atestados médicos para efeito de votação. Pois, Mosteiros tem pouco mais de 9000 habitantes e desses 6699 são eleitores inscritos no caderno eleitoral e, em regra, nas eleições autárquicas são passados a volta de 800 atestados médicos a idosos para poderem votar acompanhados. Se juntarmos os 900 testes realizados chegamos a soma de 1700 eventuais situações de manipulação do voto o que representa cerca de 25% dos eleitores. Sim, 25%! Podemos, inequivocamente, estar perante um mecanismo de fraude eleitoral que não pode ser desprezado, nem pela Ordem dos Médicos, nem pela ERIS e muito menos pela CNE.

O direito ao voto e o seu exercício num quadro de liberdade e transparência é fundamental, pelo que a tentação de coagir, manipular, condicionar os eleitores deve ser repudiada, esperando-se que o processo-crime intentado contra o Dr. Sidónio Monteiro sirva de lição aos menos avisados.



4 COMENTÁRIOS

  1. Essa pratica existe desde do tempo da Ditadura pq mesmo que e mentira basta o medico falar que o fulano ta morto ta morto sim esquecendo que o medico muitas vezes e mais politico que medico
    Basta de ser manipulados pelos medicos bandidos pq eles existem
    Eu por exemplo ja nao acredito na classe medica em cv pq descobri que muitos sao mafiosos e bandidos e focam mais na politica que a Medecina

  2. Esse pessoal deseja montar uma sucursal do inferno em Cabo Verde. Esta empreitada, dessa gente macabra, deve ser detida enquanto for tempo. Só denúncias públicas não basta. É necessário o Ministério Público abrir um procedimento criminal. Não há ainda uma semana, essa mesma gente comemorava o sofrimento de centenas de famílias e de pessoas em desespero por causa das chuvas torrenciais que caíram sobre o município da Praia.

  3. É preciso desmontar as farsas e farsantes do paicv. Na Praia, semana passada um sujeito zombava no Facebook das perdas humanas, físicas, materiais e económicas provocadas pelas chuvas torrenciais. Hoje, com maior cinismo o mesmo cara-de-pau aparecer a pedir votos como mandatário da lista do paicv. É preciso o MpD não dar tréguas a esses bons samaritanos.

  4. Emanuel Barbosa a fala da moral nao precisa de respota de ninguem. Basta perguntar-lhe o que ele pensa sobre as construcoes Clandestinas…
    Acho que a CNE dvera apurar todos os casos e decidir em conformidade com os infractores…

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