O nosso projeto é baseado em custos reduzidos – Mário Almeida: CV Connect Services

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A Cabo Verde Connect Services, CVCS, é a mais nova companhia que opera voos internacionais para o Arquipélago, e esta semana inaugurou ligações entre Lisboa e a Ilha do Sal, operados pela SATA

Este voo inaugural dá mote para uma entrevista com o Diretor Comercial da companhia que detalhou os objetivos da CVCS. Mário Almeida diz mesmo que a pandemia, que desde março afeta Cabo Verde, veio mostrar-lhes a “importância” do projeto. “Este é o tempo que a gente tem que acreditar para podermos sair desta onda”, adianta, observando que querem sair “desta onda com nova visão”.

Categórico, este gestor vai dizendo que este é também um tempo que lhes faz “perder a visão antiga” sendo que a CVCS é uma empresa “exatamente para trazer esta nova visão, visão centrada num todo e não apenas num só. Precisamos de todos”, vaticina.

Quanto a voos, a CVCS garante ligar Praia e Sal a Lisboa e Paris. Quanto a São Vicente, há dois voos pontuais justificada pela época festiva, mas a companhia compromete-se, após estudos e contatos em curso, anunciar novas ligações com aquela Ilha, tudo indica lá para o Verão, ou seja, de junho em diante.

Neste momento, há duas conexões por semana, entre Lisboa e a Cidade da Praia, uma ligação Praia/Paris e Paris/Praia e dois voos Lisboa/Sal.

A boa notícia é que com a chegada da CVCS, os preços das passagens aéreas despencaram para mínimos nunca antes visto. Operando nos aeroportos do Sal, Praia e São Vicente “acabamos por igualar os preços nas 3 gateways, servindo a todos”, enfatiza o nosso entrevistado

 

OPAÍS.cv – Como é que nasce este projeto da Cabo Verde Connect Services?

Mário Almeida – A Cabo Verde Connect Services nasce de um conjunto de conversas tidas com a AAVT, os seus dirigentes e das nossas diversas deslocações a Cabo Verde, no âmbito de um outro projeto que também temos em Cabo Verde, que é de consolidação aérea junto das agências de viagens e nós, a partir dali começamos a perceber que era necessário ter alguma solução aérea para a mobilidade, permitindo que qualquer uma das Ilhas estivessem ligadas ao mundo através das 3 principais gateways, Lisboa, Paris e Boston, e internamente através das gateways Praia, Sal e São Vicente.

A nossa ideia é que chegando a qualquer uma destas Ilhas, a meio da tarde consegue-se ir a qualquer outra Ilha. É assim que nasce este projeto.

Interessante que começam a operar em tempos de crise provocada pela pandemia da Covid-19. À partida isto demonstra que estão dispostos a desafiar todos os tipos de obstáculos para porem a empresa de pé e a voar?

Sim, é engraçado o tempo.

Na verdade, este projeto iniciou em 2018. Em 2019 era para termos colocado o projeto de pé, no entanto atrasou por diversas razões e a Cabo Verde Connect Services, apesar de estarmos em pandemia, veio a mostrar-nos a importância do nosso projeto.

Quando acontece a pandemia, vimos diversos países ficarem fechados, com a grande diferença que Cabo Verde, se ficar sem transportes aéreos, fica isolado.

a CV Connect Services é uma empresa exatamente para trazer esta nova visão, visão centrada num todo e não apenas num só. Precisamos de todos

Nós participamos em algumas operações para transportar pessoas que estavam em Cabo Verde e nalgumas operações de transporte de medicamentos e isto tudo veio a dar-nos mais força que na verdade era necessário o projeto. Este é o tempo que a gente tem que acreditar para podermos sair desta onda. Saindo desta onda com nova visão. Este é também um tempo que nos faz perder a visão antiga e a CV Connect Services é uma empresa exatamente para trazer esta nova visão, visão centrada num todo e não apenas num só. Precisamos de todos.

O vosso mercado é a conexão internacional…

Sim. Internamente opera a TICV e nós temos os horários dos voos internos e se chegar a Cabo Verde a meio da tarde e sair a meio da tarde, permite às pessoas chegarem ou à Praia, ao Sal ou São Vicente e depois continuar a sua viagem.

Ambicionam chegar no mercado doméstico ou está fora de questão nesta primeira fase?

Nesta primeira fase está fora de questão. Neste momento o foco é estabilizar e permitir a ligação internacional, mas como o projeto, tudo tem a ver com a mobilidade e com o turismo, talvez mais tarde podemos vir a ter uma parceria ou criar uma companhia doméstica para satisfazer o mercado interno que gira entre as Ilhas para que se possa criar a mobilidade e economia nas diversas Ilhas com os turistas.

o foco é estabilizar e permitir a ligação internacional

E com o TICV têm uma boa parceria que permite aos vossos passageiros apanhar a conexão para as restantes Ilhas?

Neste momento não temos nenhuma parceria.

Aparelho que realizou voo Lisboa/Sal, na segunda-feira, 15.

Nesta fase estão a voar com aparelhos da SATA no quadro de uma parceria com a Azores Airlines. Calculo que a vossa pretensão é ter aparelhos próprios.

Isto depende. O nosso projeto é baseado em custos reduzidos, ou seja, nem sempre ter aviões próprios significa o melhor para a mobilidade. O projeto nasce para aglutinar tudo o que já existe e que pode ser aproveitado, como é o caso da parceria que fizemos com a SATA.

O nosso objetivo é ligar Cabo Verde ao mundo então fomos à procura dos parceiros. Compro neste, compro noutro, reúno tudo e distribuo com controle total dos custos.

Parceria semelhante com a que têm com a SATA poderá ser desenvolvida com outras companhias?

Com qualquer companhia aérea que nós pudermos ter estes princípios, nós o faremos, até porque temos uma facilidade, temos parceiros que são parceiros IATA, o que permite qualquer transação entre nós e a companhia aérea.

O que fazemos é discutir o que queremos para um todo e depois distribuímos o todo de forma simples e de modo a beneficiar toda a cadeia de valor.

Pode nos quantificar o número de voos e para que aeroportos operam?

Iremos operar dois voos por semana, entre Lisboa e a Cidade da Praia, um às quartas-feiras e outro às sextas-feiras, este com regresso aos domingos a Lisboa. Depois da Praia para Paris temos um voo por semana. Faz Praia/Paris aos sábados e Paris/Praia aos domingos.

Temos dois voos para o Sal, a partir de Lisboa aos sábados e às segundas-feiras.

São Vicente temos um voo por semana e São Vicente é um caso particular, iniciamos a operação apenas agora nesta época natalícia, tendo em conta que é fundamental manter as 3 gateways servidas, porque se nós queremos a competitividade é preciso mobilidade nos 3 pontos. Se apenas mantivermos a mobilidade na Praia e/ou no Sal vai fazer-se com que São Vicente tenha sempre preços mais altos. Operando nos 3 aeroportos acabamos por igualar os preços nas 3 gateways, servindo a todos.

Operando nos 3 aeroportos acabamos por igualar os preços nas 3 gateways, servindo a todos

Servimos São Vicente neste momento porque é altura que achamos que a Ilha precisa de mais voos. São dois voos pontuais no dia 22 dezembro e 5 de janeiro, depois retomaremos São Vicente assim que terminarmos os estudos/contatos com operadores turísticos, DMC’s, o mais tardar no Verão, a partir de junho.

Os voos de e para Cabo Verde são operados com aparelhos A320 e A321 da SATA, o A321 usamos nas ligações com Paris e das segundas-feiras com o Sal.

Tem sido falado de voos da SATA para Cabo Verde, mas na verdade são voos da CV Connect, com aparelhos da SATA.

Sim, são voos da Cabo Verde Connect operados pela SATA. Qual é a diferença? A diferença é que quando somos nós os promotores do voo tudo é controlado. Negociamos com a SATA, sabemos o custo do início até ao fim, definimos as regras tarifárias, os horários e isso permite que o controle não seja meramente da companhia aérea que muitas vezes poderá haver flutuações normais que é o modo de vida das companhias aéreas e passou a ser à nossa maneira que é uma visão global do que é necessário. É por isso que temos uma estreita relação com as agências de viagens, porque são elas que estão no terreno e conseguem atingir o cliente.

Qualquer agência de viagem em Cabo Verde e nos países da nossa Diáspora já vendem os vossos bilhetes?

Sim, qualquer agência nacional em Cabo Verde, qualquer agência internacional em qualquer parte do mundo, seja ela física, agência tradicional de loja, seja online já vende os nossos bilhetes. E esta é uma facilidade porque permitiu-nos num espaço de poucos dias ou horas chegar em todo o mundo. E isso é também importante porque democratiza a distribuição e leva a que a própria agência de viagem possa ter uma visão dinâmica dos seus custos.

Como é que funciona a vossa política de preços?

Tendo em conta o conhecimento que temos do mercado Cabo-verdiano neste aspeto, a primeira coisa que fizemos é: toda a tarifa tem uma bagagem incluída, isto porque o Cabo-verdiano viaja com a sua bagagem. Quando compra o seu bilhete já tem uma bagagem, pode comprar uma segunda, terceira, como pretender.

Toda a tarifa tem uma bagagem incluída

As nossas tarifas, mesmo as mais baixas, que começam em 180 Euros não incluem as taxas de aeroporto nem taxas de serviço das agências de viagem. Depois, toda a nossa tarifa é oneway, quando não há tarifas de 180 Euros, poderá haver uma de 220 Euros, mas no regresso o cliente pode encontrar de 180 Euros, o que quer dizer que ele pode combinar as duas tarifas para ser mais barata. Esta é uma novidade. O cliente pode fazer um percurso connosco e outro percurso noutra companhia.

Esta vossa forma de calcular os preços está a atrapalhar a concorrência. A TAP, por exemplo, desde que surgiu a CV Connect no mercado, os preços daquela companhia despencaram. Estão atentos a isto?

Sim, naturalmente.

O nosso intuito não é entrar em ‘guerras’ de preços com ninguém, mas o que propusemos é refletir os nossos custos e apresentar a melhor tarifa possível para os nossos passageiros. É esta a nossa lógica.

Acreditamos que Cabo Verde é um mercado específico e não podemos ter as mesmas regras ou conceitos que possa aplicar em outros mercados.

Os custos de viagem para Cabo Verde baixaram e isto faz parte do nosso projeto que é criar mobilidade a preços competitivos.

Cabo Verde é um mercado específico e não podemos ter as mesmas regras ou conceitos que possa aplicar em outros mercados

Como é o vosso serviço a bordo?

Servimos uma refeição, neste momento é um snack tendo em conta as contingências da pandemia. Todo o passageiro recebe um kit, com uma sandes, sumo, iogurte e água, é um kit suficiente para um voo de cerca de 3h30 a 4 de duração.

O serviço de catering é Cabo-verdiano?

Nos voos de Lisboa para Cabo Verde o serviço é feito em Portugal, mas nos voos a partir de Cabo Verde, como para Paris, o catering é nacional, tudo feito em Cabo Verde.

Esta fase inicial de operações tem sido estimuladora e gratificante?

Sim, tem sido estimuladora e gratificante. Além dos passageiros em si é gratificante quando nós, de repente, estamos a conversar todos. Estamos a conversar desde a polícia, os aeroportos, os hotéis, os DMC’s as agências de viagens, todos a conversar e à procura de uma solução, todos e cada um a fazer o seu negócio. As pessoas perceberam que todos nós juntos não devemos pensar que somos concorrentes, somos parte de uma cadeia de valores. O que nos diferencia é o nosso serviço ao cliente. E em tempos de pandemia isto é extremamente importante.

O que nos diferencia é o nosso serviço ao cliente. E em tempos de pandemia isto é extremamente importante.

Já podemos falar da criação de postos de emprego por parte da CV Connect?

Neste momento temos em Cabo Verde cerca de 10 postos de emprego direto. Desde 2019 que empregamos pessoas. E indiretamente estamos a permitir que as agências de viagens não fechem portas.



1 COMENTÁRIO

  1. Força lá meu caro conterrâneo. Está provado que, para voar de e para Cabo Verde não são necessários subsídios estatais, mas sim cabeça e muito estudo da Economia.

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