O PAICV e a infiltração “gramsciana” na Igreja, ou a eterna obsessão de controlo

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Num texto publicado em 1785 (A Fundamentação da Metafísica dos Costumes), Immanuel Kant explicitou, em termos praticamente definitivos, o tipo de ética que viria a estruturar o moderno Estado de direito democrático.

O Homem deve ser tratado sempre como um fim em si mesmo. E não deve ser instrumentalizado, seja qual for o pretexto.

O ser humano é uma verdadeira “res sacra” (coisa sagrada), como sempre defendeu o Cristianismo.

Não se consente o seu amesquinhamento.

Todavia…

Estive a ler o “Manual de formação” do PAICV (http://paicv.cv/wp-content/uploads/2018/11/manual-de-formacao-paicv-versao-grafica.pdf) e fiquei estarrecido com o tipo de ideologia que ali se recomenda.

É de um fanatismo tremendo!

Trata-se de um projecto político tirânico, que tenta liquidar as autonomias e qualquer esfera livre da sociedade civil.

Tenta-se, à boa moda de Antonio Gramsci, transformar as escolas cabo-verdianas num mero curral de propaganda, numa espécie de distopia obscurantista retratada no álbum “The Wall” do grupo britânico Pink Floyd.

Procura-se também controlar as famílias, os sindicatos e outras organizações similares.

O PAICV não mudou. Continua igualzinho e com o mesmo ADN de sempre.

O que mais me chocou foi, porém, a forma como esse partido de extracção leninista, e cujos dirigentes são todos grandes “camaradas”, pensa relacionar-se com a Igreja.

Transcrevo, por inteiro, uma passagem absolutamente vergonhosa desse tal “Manual” político, editado em 2018 e revelador das intenções cruas da actual liderança paiceviana:

“As entidades religiosas desempenham um papel fundamental de transmissão da moral, dos bons costumes, da fé, de convicções. Daí advém a sua grande autoridade moral na sua paróquia. Daí que, de maneira adequada, até lhes apresentando como exemplo e nunca entrar em conflito ou mostrar alguma animosidade para com os mesmos. Devemos, sim, na base das nossas grandes causas sociais, mostrar-nos aliados da doutrina social da igreja.” (sic).

Inacreditável. Não é uma relação saudável.

O importante, para essa gente, é controlar a Igreja. Politizá-la.

A tentativa de instrumentalização é assaz evidente. Ora, isso é puro Gramsci: a busca da célebre “hegemonia”, com contornos maquiavélicos.

O partido, nas vestes de novo príncipe, ex-surge como a trombeta celestial, anunciando, com júbilo e por todos os cutelos, os “amanhãs que cantam”.

É óbvio que o PAICV jamais será um “aliado da doutrina social da igreja”. Jamais.

Por uma razão bem simples e inultrapassável: o PAICV defende uma ideologia revolucionária, situada, por definição, nos antípodas da fé Cristã.

Isso está, de resto, bem estampado nesse execrável “manual”. 1 + 1 = 2.

Há ali, também, influências claras da “teologia da libertação”, que o papa João Paulo II tanto criticara em vida, por causa dos seus terríveis e malignos desvios, relativamente à inconcussa fé Cristã.

O “Manual de formação” escancara, de vez, a natureza perversa do PAICV.

A sua vocação totalitária continua intacta, ululante.

Valha-nos, então, a santíssima protecção divina:

/Et ne inducas nos in tentationem/

/Sed libera nos a malo/

/Amen/.



5 COMENTÁRIOS

  1. O Dr. Casimiro de Pina, meu amigo, há de concordar comigo que o Paicv, tal como todos os partidos da esquerda (não por acaso, esquerda quer dizer “sinistra” em italiano!!) sempre buscou o controlo da sociedade para a sua própria sobrevivência. Porém, com a queda do Muro de Berlin, a esquerda buscou novas formas de sobrevivência como muito dizia um teólogo brasileiro, um dos maiores estudiosos da teologia da libertação (com minúsculos), aquela praga que invadiu as igrejas da América Latina e que tantos estragos provocou à Igreja de Roma. Há aqui poucos meses, aqui neste jornal, eu demonstrei como é que o Paicv exerce o seu domínio sobre a sociedade, educação, cultura, economia, trabalho, desporto, comunicação social, etc. Naquele comentário, de 7 de agosto de 2020, demonstrei com argumentos, como foi que o Paicv conseguiu dobrar o “Expresso das Ilhas”, até pouco tempo, o único jornal de tendência liberal de Cabo Verde. Escrevi então, que o Paicv fazia panfletos, nos eu gabinete de comunicação, denominado Milícia Digital Tambarina que depois eram retomados pela comunicação social privada e pública, através de atravessadores de boatos, estrategicamente colocados na imprensa escrita e oral. Depois, o assunto seria retomado seja através de conferências de imprensa fantoches, seja no parlamento por deputados, sempre com o argumento “segundo a imprensa”. Mas o Paicv, na atualidade, não estava muito interessado em criar “vítimas e heróis”, que tanto estrago provocou à sua imagem nas décadas de 70 a 80. Assim, o Paicv desenvolveu aquilo que em Física se designa de “smooth pressure”, que é o contrário da pressão e repressão ou “força bruta” muito adotada da década de 70 e 80 para reprimir os adversários, como viria a ser agora provado no Livro de Jose Tomas Veiga. A máquina de pressão e de repressão, que tinha como seus expoentes máximos o JJ, o ex-juiz Rui Araújo, João Pereira da Silva, Silvino da Luz e outros carniceiros e açougueiros do mato visava a eliminação física e psicológica dos adversários. O Paicv concluiu então, que apostar no ataque a destacadas figuras da oposição (como p.e. Frei Fidalgo) ou até mesmo o falecido bispo D. Paulino Evora criava nas pessoas um sentimento de revolta e criava verdadeiros heróis que competiam com os seus falsos heróis trazidos do mato com AP, PP, AB. Esta tese tem em Olívio Pires seu criador que foi acusado de ser o principal causador da derrota do Paicv em 1990. Com a chegada da democracia, a primeira reação do Paicv foi tentar jogar as pessoas contra a Igreja, dizendo que durante as missas os padres pediam votos na trindade M (ãe)- P (ai) e D (eus), os iniciais de MPD. A ideia não deu certo, porquanto ofendeu e que maneira os crentes cabo-verdianos. Duas maiorias qualificadas foi o resultado dessas infâmias. Eis então que JMN se apercebe que atacar a fé dos cabo-verdianos seria uma empreitada fadada ao fracasso. Para refazer do erro, arrebanhou para a sua fileira ex-padres, ex-seminaristas, membros da Legião de Maria, sacristões, catequistas e membros de corais de diversas paróquias. O esquema foi meticulosamente concebido e na Praia, sobretudo em Terra Branca, Platô, São Filipe eles “activistas católicos” dominam toda a vida e acção social da Igreja. São membros e dirigentes das antenas da Caritas, estão na linha de na seleção das pessoas elegíveis a benefícios, e, agora, são responsáveis pelas comissões que trabalham com as paroquias na angariação de recursos para a construção de novas igrejas, um pouco por toda a Cidade da Praia. Fazem romaria às repartições públicas e empresas privadas, onde solicitam ajudas e outras ações. Aos domingos, depois das missas, ocupam os lugares mais vistosos do centro das igrejas para serem vistos, e, também para apresentar os resultados de suas “beneméritas” ações. Se na Europa, a ausência de fieis às missas aos domingos é uma realidade que atormenta a Igreja, em Cabo Verde e também no Brasil onde o Partido dos Trabalhadores do Lula adotou a mesma abordagem, são eles que estimulam as pessoas a procurar a Igreja para ajudar a resolver seus problemas. Chegando às paroquias, não raras vezes são esses ativistas os responsáveis pelas obras sociais nessas paróquias. A Igreja demorou a aperceber-se da maracutaia dos comunistas. Em Cabo Verde, a ousadia foi de tal monta que, na semana seguinte às eleições de municipais de 25 de outubro, um grupo de ativistas do Paicv enganaram um padre a celebrar uma missa de ações de graças, sem um título definido. No final da missa, aproximaram-se do altar sagrado e posaram para fotografia de família, supostamente devota da Santa Padroeira da Praia. Minutos depois a imagem era divulgada nas redes sociais como “missa de ação de graças pela vitória do Paicv na Praia”. O constrangimento da Igreja e do padre que rezou a missão não se fez esperar.
    Do ponto de vista do domínio sobre a atividade económica em Cabo Verde, a engenharia diabólica não poderia ser melhor concebida. Já ninguém escuta o Paicv a ser abertamente contra os pequenos negócios, antes vistos como “burgueses”. O Paicv já não é contra a ação dos privados, nem defendem a estatização da nossa economia. Com recursos dos anos dourados, antigos ministros e dirigentes do Paicv compraram tudo que havia para comprar de terrenos valiosos no Interior de Santiago e noutras localidades. Em público, defendem uma certa privatização, aquela que garante benesses aos representantes do partido, que em público são apresentados como a nata social mais digna, mas empreendedora, mas sábia e, quiçá, mais abençoada pelo alto. Uma casta que dá emprego, enquanto o Governo cria desemprego, dizem enfatizando o carácter benevolente de suas ações. Compram os melhores peixes e não discutem o preço, para o gaudio dos pequenos pescadores. O resultado desta ação de açambarcamento é a retida intencional do bom peixe da mesa dos mais pobres. Uma vez criada a riqueza, e uma vez ganhas as eleições, aí sim, sobem os impostos, as taxas e obrigações, de modo que os empreendedores, uma vez sufocados nos seus negócios são forçados a fazer doações e ajudas “voluntarias” ao Paicv, como reconhecimento pelos gestos do partido. Para quem estiver atento aos escândalos revelados pela Operação Lava Jato no Brasil, foi o que fez o PT de Lula e Dilma e dos outros partidos, não necessariamente de esquerda.

  2. *** O resultado desta ação de açambarcamento é a “retirada” intencional do bom peixe da mesa dos mais pobres.

  3. Obrigado, prezado João Pedro Mendonça. O PAICV tem um instinto predatório e controlador, em todos os sectores da vida social.

    Realmente esse “Manual” é algo SINISTRO e merece o total repúdio de qualquer pessoa minimamente honesta.

    Esse manual de instruções é das coisas mais horríveis que já li ultimamente e mostra-nos, com meridiana clareza, a forma como a sra. Janira Hopffer Almada vê a política e o papel do seu partido na sociedade cabo-verdiana.

    O modelo proposto é tenebroso.

    É horrível.

    Aí temos a “filosofia” política do abutre…

  4. Mendonça, isso é que é chamar as coisas pelos seus nomes. Espero que os lideres da Igreja Católica estejam atentos. Eles saberão como evitar infiltrações indevidas sob a capa da fé e devoção.

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