O Paradoxo- Excesso de liquidez das bancas, e o financiamento à economia

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O consumo Público (Gasto e investimento Público do Estado) de uma forma sustentada, contribui para o desenvolvimento económico e social. Mas a “Pedra Angular” para uma economia próspera é, invariavelmente, dependente dos investimentos privados. Entretanto, a materialização sustentável dos investimentos privados é subordinada a taxa de juros.

Segundo, John Maynard Keynes – investimentos privados depende do Animal Spirits (otimismo espontâneo sobrepondo as espectativas matemáticas) – e da sua sensibilidade a taxa de juros. Por sua vez, a taxa de juros é uma função do postergamento do consumo, ou seja, Poupança domestica. Quanto maior a poupança interna, menor a taxa de juros e vice – verça.

Ademais, é preponderante que haja uma harmonia entre a poupança e investimentos, ou seja, uma poupança genuína capaz de facultar sustentabilidade aos investimentos. Pois, quando os investimentos privados são engendrados pela taxa de juros artificialmente baixos, devido as intervenções dos Bancos Centrais, corremos grandes riscos de sofrermos, no longo prazo, com os efeitos microeconómicos, como aumento dos preços dos meios de produção, tais como salários, commodities e juros. Quando assim for, os Bancos Centrais serão forçados a aumentar os Juros devido as pressões inflacionárias (o principal mandato do Banco Central é garantir o poder de compra ou a estabilidade da moeda) e foi exatamente esse, um dos fatores que levou a crise de Subprime em 2007. Os juros tiveram que serem aumentadas para arrefecer as pressões inflacionárias, sendo assim, todos os investimentos que foram induzidos a erros devido a juros artificiais foram, naturalmente, aniquilados. O setor Financeiro ficou sob pressão levando até a queda do Banco de Investimentos LEHMAN BROTHERES.

No entanto, há muito que se dizem que em cabo verde temos excesso de Liquidez – POUPANÇA DOMESTICA REAL – capaz de financiar a nossa economia rumo a prosperidade, porem os agentes económicos advogam dificuldades ou restrições para terem acesso ao crédito ou financiamento na medida de viabilizar os projetos.

Ora, se temos demasia de liquidez, porquê os juros em Cabo Verde são proibitivos ao ponto de inviabilizarem os investimentos? Como justificar o não financiamentos dos projetos? Governador do Banco de Cabo verde Dr. Óscar Santos, defendeu no jornal do Domingo – 01-08-2021 que talvez possa ser a síndrome da subprime mortgage crisis que tem contribuído, de uma certa forma, para uma aversão a riscos dos Bancos. Subscrevo.
Vamos destrinchar os JUROS E RISCOS.

Juros é o custo do dinheiro e o Risco é a probabilidade do retorno do financiamento ou empréstimos não serem concretizados.

Na minha ótica, não necessariamente excedente de liquidez por se só reduziria a taxa de juros, pois há uma correlação positiva entre Juros e Riscos, ou seja, quanto maior o risco maior os juros e o inverso é verdadeiro. Liquidez é sim, de facto, uma variável que determina a perceção e analise de risco, não obstante, não o mais predominante, pois há outras variáveis que influencia o mesmo, como a incerteza ou a confiança.

Na verdade, os excessos de liquidez oferece – nos uma perceção do aumento de disponível, mas não necessariamente, esses liquidez traduzem em financiamento sustentado, todavia, o seu custo depende de outros componentes a serem examinadas, como por exemplo a taxa de juros dos títulos da Divida Publica Interna do Governo que influi sobremaneira os juros aplicados aos privados, pois elas são utilizadas pelos Bancos como referência, bem como, os prémios dos riscos – (Percentual indexada nos juros de um financiamento para cobrir as possíveis perdas caso os empréstimos não sejam pagas) no momento da formação do Spread. Elas são condicionantes expressivos no momento da aplicação da taxa de juros dos financiamentos.

No entanto, considerando que o tempo já demonstrou, que as estratégias que tem sido abraçada em cabo verde são primitivos e ineficientes, então como inverter esses quadros supramencionadas? Primeiramente o óbvio, seria a contenção da Divida Publica Interna, este concebido pelo excesso do deficit público, suprimindo, desta feita, o crowding out.

Acredito eu, que urge um sistema financeiro provido de instituições devidamente especializadas e autorizadas pelos órgãos competentes nomeadamente BCV, cuja missão seria a compra dos “CRÉDITOS MALPARADOS” juntos a Banca. Essas instituições comprariam as dívidas dos clientes (dívidas avaliadas pelos Bancos como perdidos) por um valor inferior do valor global da dívida, reduzindo, assim, as perdas nos balanços dos Bancos, porem a posteriori negociar a sua liquidação com os devedores numa condição muito mais profícuo para os devedores. Ninguém, gostaria de ser inadimplente, muitas vezes a conjuntura (fatores exógenos) não lhe permite honrar seus compromissos nos termos iniciais.

Logico, não existe estratégia que reduziria para zero o risco de inadimplência, no entanto, seria um ganho enorme, visto que não é core business da Banca, negociar as dívidas, ou seja, otimizaria não apenas o tempo, mas também os custos associados na sua prossecução – win win entre todas as partes envolvidas.

Cabo Verde, munida de uma empresa com aquele desígnio, diminuiria excessivamente a probabilidade das perdas por inadimplência, e isso impactaria positivamente na redução do Prêmio e aversão ao risco dos Bancos, incentivando os mesmos a conceder mais crédito e com taxa de juros mais atrativa capaz de viabilizar projetos estruturantes para o Pais.

Por fim, para aqueles que, talvez, acreditem que não seria possível uma instituição com missão supracitada, deixo apenas uma mensagem de Nelson Mandela: tudo é sempre impossível até que uma pessoa consiga faze – lo.