Obrigado Humbertona

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A notícia do passamento de Humbertona caiu que nem uma bomba. Não porque morreu, pois todos nós estamos de passagem e nunca sabemos o momento da partida. Então porquê uma bomba? Será que um homem que deixou o violão cabo-verdiano, “riba la”, algum dia poderá morrer?

Será possível a quem ouviu os solos de Humbertona, pensar, alguma vez, que esse homem poderá morrer algum dia?

A versão de Sodadi, imitada por todos os que tocam e tocaram violão na terra e na diáspora, alguma vez poderá ser esquecida?

Essa versão de Sodadi, marca indiscutivelmente, uma nova forma de tirar os sons de um violão, uma revolução se assim quiserem entender, um salto qualitativo na forma de explorar os sons de um violão criolo.

Eu diria, provavelmente, muitos não estarão de acordo, mas vou arriscar. Humbertona não era um virtuoso do violão. Ele era mais “ um grandi tocador di violon, ki tá tocava ku alma, ku sentimento, ki ta tocava REI di SABI”, diria mesmo, nunca ouvi alguém em Cabo Verde a tocar tão “sabi” como Humbertona”.

Daí atrever-me a dizer que o que ganhamos e que o Humbertona nos deixou, jamais será esquecido, quer pelos tocadores de violão, quer pelos que tiveram a oportunidade de ouvi-lo a tocar ou mesmo pelos que escudaram os seus LPs.

Foi uma bomba pois os muitos amigos e amigas desse homem do violão, de simpatia ímpar, não estavam à espera, não estavam preparados para simplesmente receber essa notícia pois para eles, o Humbertona é, por e simplesmente, uma companhia eterna. Que a terra lhe seja leve.

À filha e ao filho, mas também a todos os que tiveram a oportunidade de pegar num violão ao lado do Humbertona, à irmã e minha amiga Fatima Bettencourt, um abraço rijo, pois a vida continua e os solos do Humbertona esses também são eternos.

Tober Lopes da Silva 10/08/2023