ONU alerta para fome iminente no Tigray e norte da Etiópia

CARE Sudan staff conduct a two days visit to the refugees' site (Um Raquba and Village 8) in Gedaref. CARE will begin health and nutrition services next week, for the 8,000 new refugees. 

A fome é iminente na região de Tigray, na Etiópia, e no norte do mesmo País, disse o responsável da coordenação dos assunto humanitários da ONU, alertando que há o risco de centenas de milhares de pessoas morrerem

Mark Lowcock, Secretário-Geral Adjunto das Nações Unidas para Assuntos Humanitários e Coordenador de Ajuda de Emergência, disse que a economia foi destruída junto com os negócios, as safras e as quintas e não há serviços bancários ou de telecomunicações. “Já ouvimos falar de mortes relacionadas à fome”, disse Lowcock num comunicado divulgado na sexta-feira.

“As pessoas precisam acordar(…). A comunidade internacional precisa realmente dar um passo em frente, inclusive por meio do envio de dinheiro”, declarou. Ninguém sabe quantos milhares de civis ou combatentes foram mortos após meses de confrontos entre o Governo do Presidente etíope, Abiy Ahmed, e os líderes do Tigray, que outrora dominaram o Governo da Etiópia. A Eritreia, um antigo inimigo do Tigray, aliou-se à vizinha Etiópia no conflito.

No final de maio, Lowcock indicou um quadro sombrio de Tigray desde o início da guerra, com cerca de dois milhões de pessoas deslocadas, civis mortos e feridos, violações e outras formas de “violência sexual abominável” generalizada e sistemática, e infraestruturas públicas e privadas essenciais para civis destruídas, incluindo hospitais e terras agrícolas. “Existem agora centenas de milhares de pessoas no norte da Etiópia em situação de fome”, disse Lowcock. “Esse é o pior problema de fome que o mundo viu numa década, desde que um quarto de milhão de somalis perderam as suas vidas na fome em 2011. Isso agora tem ecos horríveis da tragédia colossal na Etiópia em 1984”, disse.

Na desastrosa fome de 1984-85, cerca de dois milhões de africanos morreram de fome ou doenças relacionadas com a fome, cerca de metade deles na Etiópia. “Agora há um risco de centenas de milhares de vidas perdidas ou pior”, disse Lowcock. O responsável da ONU afirmou que levar comida e outros tipos de ajuda humanitária para todos os necessitados está a ser muito difícil para as agências de ajuda humanitária.

As Nações Unidas e o Governo da Etiópia ajudaram cerca de dois milhões de pessoas nos últimos meses no norte da Etiópia, principalmente em áreas controladas pelo Governo, de acordo com Lowcock. Entretanto, o responsável da ONU disse que há mais de um milhão de pessoas em locais controlados pelas forças de oposição de Tigray e que “tem havido tentativas deliberadas, repetidas e contínuas de impedi-los de obter alimentos”. Além disso, existem locais controlados pelos eritreus e outros locais controlados por grupos de milícias onde é extremamente difícil entregar ajuda, de acordo com o Secretário-Geral Adjunto. Lowcock disse que todos os bloqueios precisam ser revertidos e os eritreus, “que são responsáveis por grande parte deste bloqqueio, precisam se retirar”, para que a ajuda possa chegar àqueles que enfrentam a fome. “O Primeiro-Ministro Abiy Ahmed precisa fazer o que disse que faria e forçar os eritreus a deixar a Etiópia”, sublinhou.

Lowcock disse que os líderes das sete maiores nações industrializadas – Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Japão, Itália e Canadá – precisam colocar a crise humanitária e a ameaça de fome generalizada no norte da Etiópia na agenda de sua cimeira de 11 a 13 de junho em Cornwall, na Inglaterra. “Todos precisam entender que, se houvesse uma tragédia colossal do tipo que aconteceu em 1984, as consequências iriam se estender por muito tempo”, afirmou Mark Lowcock.