Os acontecimentos do 25 de Novembro de 1975 podiam mudar a história de Cabo Verde

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Se a independência de Cabo Verde tivesse ocorrido após o 25 de Novembro de 1975, acredito que não teríamos um regime de partido único no país.

Os comunistas e forças de extrema-esquerda de Portugal, em aliança com os camaradas do PAIGC, com ânsia do poder e porque tinham pressa, aceleraram o processo de independência de Cabo Verde. E assim tivemos um processo de independência sob pressão, sem a negociação de um plano económico e financeiro assumido por Portugal, sem uma negociação de linhas de crédito comerciais, sem uma séria negociação de questões cruciais sobre a sustentabilidade, sem uma necessária negociação de um back up da nossa moeda nacional, com um único banco existente e com cofres vazios e muitas outras questões que deveriam ser negociadas e firmadas com acordos com clareza. E como a pressa era tanta, a vontade de tomar o poder não era menos, não se negociou um processo de transição com cabeça, tronco e membros para a independência. Sabem que por divergências nas negociações, MÁRIO SOARES, que na altura era Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, acabou por afastar-se da equipa que negociou a independência de Cabo Verde. Diga-se de passagem que Mário Soares defendia uma espécie de autonomia de Cabo Verde, que frontalmente não foi aceite pelos dirigentes do PAIGC. E ele também defendia a realização de um REFERENDO, que também não foi aceite pelo Paigc!

Num outro ângulo, as questões políticas que estavam sobre a mesa das negociações, não foram cumpridas ou aceites, como era o caso da realização do Referendo. O Paigc, em conluio com as forças comunistas de Portugal, lançou a palavra de ordem: “independência já e imediata”! Enquanto isso, em Cabo Verde se prendiam opositores políticos e enviados para a prisão do Campo de Concentração do Tarrafal! Criando assim um ambiente para a implementação do regime de partido único, com o único partido- o PAIGC – a participar na farsa eleitoral organizada em 1975, para a formação de uma Assembleia Constituinte com base monopolista e monopartidária!

Tudo isto com a santa cobertura dos comunistas portuguesas, que na altura, até o 25 de Novembro de 1975, dominavam o Movimento das Forças Armadas de Portugal. O governo de transição instalado em Cabo Verde foi concedido pelos camaradas comunistas de Portugal e camaradas comunistas do Paigc, tudo em um conluio amplo de entendimento, alta cúmplice e com muita afinidades ideológicas.

Não é exagero a afirmação de que a INDEPENDÊNCIA de Cabo Verde foi negociada num ambiente de amadorismo, com pressa e sem um suporte económico e financeiro. É por isso que alguns especialistas afirmam que a negociação da independência de Cabo Verde foi feita com um grau de amadorismo nunca visto e que o mal maior foi negociar a independência de Cabo Verde com base da UNIDADE da Guiné e Cabo Verde. Essa foi a maior asneira cometida nesse processo de independência de Cabo Verde. Alguns especialistas são da opinião que os negociadores, com o modelo utilizado, puseram em risco Cabo Verde e se não fosse as ajudas vindas de países amigos, podíamos enfrentar uma amargura social. Ao ponto que no dia seguinte à independência, Aristides Pereira, com um ar expectante e incrédulo, voltou-se para o Pedro Pires e disse-lhe:

“E agora Pires, o que é que vamos fazer?”!

Parece que um tempo depois, o Aristides telefonou ao Agostinho Neto de Angola e ao Presidente da Nigéria, que acabaram por ajudar o país com dois ou três milhões de dólares!

Todavia, em Portugal deu-se a reviravolta política e ideológica com os acontecimentos do 25 de Novembro de 1975. As forças comunistas e de extrema-esquerda, com o comando do radical Otelo Saraiva de Carvalho e da COPCOM tentaram um golpe militar para instalação de um regime comunista e radical em Portugal. Mas, tiveram o sector das forças armadas da direita, comandadas pelo general RAMALHO EANES, que acabaram por neutralizar o golpe do radical Otelo, impedindo assim o domínio dos comunistas e puseram fim ao famoso PREC (Processo Revolucionário em Curso), e implementaram a democracia em Portugal. Imaginem se a independência de Cabo Verde fosse negociada depois do 25 de Novembro de 1975?



2 COMENTÁRIOS

  1. A propósito da cadeia de Tarrafal, quando é que a começaremos a corrigir a história desse lugar, símbolo de “não liberdade”, dizendo claramente que o PAICG-CV também meteu lá presos politicos? Sim, José Maria Neves convida o seu homólogo português para a comemoração dos 50 anos do “encerramento da cadeia”, mas omite o facto de o seu partido único ter feito igualzinho ao partido único de Salazar-Caetano. Quando é que se fará a lista completa daqueles que o PAIGC-CV meteu naquela cadeia por motivos políticos?

  2. O meu comentário não tem nada ver com texto do Dr. Maika Lobo com a qual concordo plenamente.
    Quero pedir aos leitores de O País para a desonestidade intelectual que reina neste país, o nosso amado Cabo Verde.
    1. Após a morte, o corpo do Dr. Felisberto Vieira Lopes foi submetido a uma autópsia para se conhecer as causas da morte. A autópsia foi feita e o relatório enviado aos familiares do falecido. Agora surge um tal Jorge Rocha a desconhecer as causas da morte do falecido Vieira Lopes. O Jorge Rocha representa mesmo a família ? Quem o ladeava ao receber a condecoração?
    2. O senhor Luis Fonseca ao falar em nome dos presos políticos do campo de trabalho de Chão Bom do Tarrafal, em nenhum momento se referiu aos presos políticos de Dezembro de 1974, em número muito superior, quando comparado com os cabo verdianos presos pela PIDE/ DGS. O Luis Fonseca foi um dos líderes da ocupação de uma rádio privada em S. Vicente, a rádio Barlavento, também em Dezembro de 1974.
    Estes factos eram sinais de que a ditadura do partido único estava a caminho.
    Quem irá investigar tudo isdo ?

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