PADRE JOSÉ MÁRIO MOREIRA: Depois de várias vicissitudes Boa Vista tem estabilidade pastoral

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  • As festas paroquiais de Santa Isabel dão o mote para uma conversa com o Pároco da Boa Vista. O balanço e as dinâmicas pastorais são dois temas em abordagem, ao mesmo tempo que destaca a estabilidade registada a nível de assistência espiritual, nos últimos anos

 

A Boa Vista celebrou na quarta-feira, 4, a sua Padroeira Santa Isabel e na oportunidade conversamos com o Pároco da ilha que nos faz um balanço “francamente positivo” das festas, cujo ponto alto contou com a presença do Bispo diocesano.

Na véspera, dia 3, a festa religiosa estendeu-se ao Bairro da Boa Esperança de onde partiu a Procissão de Velas em direção à Igreja Matriz.

Nas suas declarações ao OPAÍS, o Padre José Mário Moreira discorre também sobre o ano pastoral, praticamente no fim, e considera uma “grande bênção” tudo o que se realizou neste último ano, em que a Boa Vista, com duas Paróquias, é assistida por 2 Sacerdotes e 7 Religiosas, sendo 3 Franciscanas que trabalham em Sal Rei, e 4 Espiritanas que se cooperam no Norte e na Vila

 

OPAÍS. Que balanço faz destas festas paroquiais de Santa Isabel?

Padre José Mário Moreira – Estou muito grato a Deus, aos paroquianos, às instituições, empresas benfeitoras e todos os que colaboraram de uma forma ou de outra para a realização da festa de Santa Isabel. O balanço é francamente positivo. Via-se a alegria estampada na cara das pessoas e nas palavras que expressavam.

Tudo correu como planeado?

Havia um programa alargado de atividades, nomeadamente, a peregrinação da imagem da Padroeira, Rainha Santa Isabel, por todas as localidades desta Freguesia e que nos deu grande alegria. Mas, o ponto alto da festa, era sem dúvida, a celebração presidida pelo Bispo Dom Ildo Fortes.

Havia fiéis de todos os lados da ilha, de tal modo que a Igreja era pequena para caber tanta gente, por isso tivemos de alargar o espaço da celebração, ocupando a via pública, à frente da Igreja, com bancos e tenda, a fim de dar algum aconchego aquelas pessoas que não conseguiram entrar na Igreja. Portanto, correu como estava previsto, desde a procissão seguida de Eucaristia, tudo num ambiente sereno, de particular beleza e solenidade.

A celebração, na véspera, no Bairro da Boa Esperança tem algum motivo especial?

A Missa vespertina que agora se fez no Bairro está enquadrada nas festividades de Santa Isabel. Outras vezes, salvo erro, fez-se, no lugar, a oração do Ofício Divino, Vésperas. Seja uma ou outra, logo a seguir faz-se a Procissão de Velas, com a imagem da Padroeira da comunidade, Nossa Senhora de Boa Esperança, até à Igreja Paroquial.

A meio do caminho, a comunidade do Rabil associou-se à Procissão com a imagem do seu Padroeiro, São Roque, e assim chegamos à Igreja, em número mas significativo.

Queremos com este gesto mostrar que, apesar de as localidades terem os seus santos locais, celebrar Santa Isabel é reconhecer que se trata de uma festa de toda a Paróquia, é celebrar a unidade na pluralidade de uma comunidade paroquial.

Por também que no dia 4, as pessoas das outras localidades mais afastadas como Povoação Velha, Estância de Baixo e Bofareira estão todas presentes, todos sentimos que Rainha Santa é nossa Padroeira.

Dom Ildo Fortes, durante a procissão da festa de Santa Isabel

Qual a centralidade da mensagem deixada pelo Bispo na sua homilia da Eucaristia ontem celebrada?

A homilia do senhor Bispo demorou 25 minutos, e ele falou de várias coisas, ficam aqui breves ideias que guardei: fez uma resenha histórica de Isabel, referindo que era de Saragoza e ainda pequena foi dada em casamento a Diniz, Rei de Portugal. Bondosa desde sempre, cuidou dos mais pobres e doentes, lutou pela paz na sua família e não só, enfim o Senhor Bispo mostrou que Isabel, apesar de ser uma rainha, era alguém que tinha uma sensibilidade especial em cuidar dos outros. Por isso, rematou o Prelado, é que ela é santa. E desta ideia recordou a ressente Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre a santidade – Alegrai-vos e Exultai -, e convidou os fiéis a serem santos, pois que esta é vocação de todos nós e não apenas de alguns; que o Papa Francisco fala de santos do “pé da porta”, que, como quem diz, gente de carne e osso, da nossa família por exemplo ou então como uma mãe incansável que cuida da sua casa. É preciso que todos sejamos santos, insistiu o Senhor Bispo.

Como vai o trabalho pastoral na ilha abrangida por duas Paroquias?

A pastoral está a ganhar consistência.

Esta ilha passou por várias vicissitudes em termos de assistência religiosa. Sabemos que experimentou períodos em que não tinha nenhum Padre residente. Ora vinha algum da Praia, do Sal, ou então ficava sozinha. Mas hoje não. Há já algum tempo que há estabilidade em fixar Sacerdotes e Irmãs Religiosas na ilha o que permite dar uma assistência continuada dos fiéis. Claro que com a explosão do turismo, a ilha transformou-se e está a transformar-se cada vez mais. E isto também toca a pastoral, principalmente esta Paróquia.

Deduzo que o ano pastoral esteja a chegar ao fim. Podemos falar, já, em balanço?

Certo, estamos na reta final de mais um ano. Temos ainda mais algumas festas em agosto, mas globalmente podemos considerar que estamos a concluir o ano.

Falando em balanço podemos referenciar alguns aspetos. Houve mudança de um colega que trabalhava comigo e que foi transferido para São Vicente e veio um outro, as estruturas das paróquias funcionaram normalmente, faço particular referência aos Catequistas que continuamos a sua formação para melhor transmitirem a fé às nossas crianças; a juventude juntou-se no Norte para celebrar, mais uma Jornada Interparoquial de Jovens; realizámos uma peregrinação paroquial do Rabil à Vila com uma significativa presença de fiéis, mas creio que o período mais intenso e mais rico de todo o ano pastoral seja agora, das festas juninas: Santo António, como sempre muito concorrida; São João no Norte que foi uma festa muito bonita também; as várias festas da catequese como Batismos, primeiras-comunhões, festa do Pai-Nosso e de Avé Maria, Festa da Palavra, Festa da Vida, Festa do Compromisso e, finalmente, os Crismas realizados recentemente no Norte e na Vila. Tudo isso tem sido uma grande bênção para as duas comunidades paroquiais da Boa Vista, pessoas da ilha e tantas outras que nos vistam.

A nível de recursos humanos as duas comunidades paroquiais estão bem servidas? Refiro, em concreto, do número de Catequistas que fez referência há instantes?

Temos que reconhecer, de facto, que as duas comunidades paroquias andam a ritmos diferentes. Enquanto que a Paróquia de Santa Isabel, na Vila, tem mais recursos, a Paróquia de São João Baptista, Norte, tem menos. Mas isto não é por acaso. Tudo tem a ver com a viragem que o turismo gerou nesta ilha. Ou seja, algum desafogo que se nota na Vila tem a ver com gente que veio a Boa Vista para procurar melhores condições de vida. Ora, vindo como cristãos empenhados que são, integram a Paróquia como Catequistas, leitores, cantores, grupos de jovens, etc.

Enquanto que no Norte este fenómeno não se regista, pois as pessoas que vêm de outras ilhas poucas são as que vão aí fixar. Face à esta realidade, a leitura que faço é esta: apesar da Vila se mostrar mais pujante não se pode concluir que a fé esteja aí mais enraizada, pois, se houver algum colapso no turismo aqui na ilha, e esperemos que não venha a acontecer, a pastoral na Vila vai ressentir imediatamente.

O Norte é estável. Apesar de ter as suas limitações, as pessoas que assumem a Paróquia é gente da ilha. Entretanto ali precisamos de mais dinamismo na catequese, na juventude, entre outros, porque só manutenção não chega.