PADRE JOSÉ MÁRIO MOREIRA: O turismo é uma riqueza na Boa Vista

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O turismo não é um problema na Boa Vista, mas o que se quer é “mais e melhor” turismo na ilha e que tenha em atenção a dimensão social que no dizer do Pároco da ilha “é fundamental”

Na segunda parta da entrevista que nos concedeu, por ocasião das festas da Padroeira da Boa Vista, assinalada a 4 de julho, o Padre José Mário Moreira observa que a ilha precisa de investimentos, sobretudo ao nível da saúde, de modo a acompanhar a dinâmica populacional. O Sacerdote insta as autoridades a não pouparem esforços no domínio da segurança e considera pertinente que a Boa Vista desenvolva em harmonia com o seu crescimento.

OPAÍS – Em termos sociais como o Senhor Padre avalia a dinâmica da ilha?

Padre José Mário Moreira – A Boa Vista está a crescer e cada vez mais há gente que chega à procura de trabalho.

As construções multiplicam-se. Não apenas de hotéis, mas também de casas particulares de gente que investe. Percebe-se a “aflição” de gente que, chegando à ilha, não consegue, facilmente, encontrar um apartamento para arrendar. Os preços das casas são elevados.

O fenómeno do Bairro de Boa Esperança – Barraca – é uma realidade que espelha a chegada rápida, e em grande número de pessoas que vieram buscar uma vida melhor. Portanto, a habitação é um problema que ainda persiste.

Por outro lado, é preciso cuidar da segurança pois o crescimento económico versus desigualdades criam oportunidades para desvios, nomeadamente, assaltos e um conjunto de outros problemas conexos.

Já sentimos estes problemas. É preciso que as autoridades não poupem esforços no sentido de corrigir as falhas para que esta ilha não apenas cresça mas possa, verdadeiramente, desenvolver-se.

Até que ponto o turismo é um problema ao nível social. Coloco a questão sabendo, sobretudo, das pessoas que vivem nos bairros pobres e servem nos grandes hotéis de luxo.

Eu não acho que o turismo seja um problema. Acredito que todos queremos mais e melhor turismo na Boa Vista. Claro está que o Governo e os agentes do turismo não devem preocupar-se só com o lucro. A dimensão social é fundamental.

Assim como falamos do déficit da habitação, podemos falar também das condições de saúde, na ilha. Não podemos falar só das evacuações. A ilha deve ser apetrechada de mais e melhores condições de saúde, porque cada vez mais a Boa Vista está a tornar-se num lugar de concentração de muita gente.

Se hoje se fala que a Boa Vista alberga mais de 16 mil pessoas, este número está a aumentar rapidamente, e se tomarmos em conta também os inúmeros aviões que, semanalmente, operam no Aeroporto Aristides Pereira, torna-se sensato que a ilha esteja mais apetrechada de condições de saúde razoáveis que acudam as demandas.

Há um “bom casamento” entre o turismo e a religião na ilha? Coloco a questão de outra forma: o turismo não atrapalha a vivência da fé dos fiéis da ilha?

O turismo não é uma ameaça e nem atrapalha a fé do fiéis na ilha. Aliás, diria que é uma riqueza. Vejo que muitos turistas são cristãos e fazem questão de não apenas visitar as nossas igrejas e deixar as suas ofertas, mas de participarem nas celebrações dominicais, dando assim o seu testemunho de fé.

Há outros que até trocam, em parte, a sua terra natal pela nossa ilha e vivem aqui metade ou até mais que metade do ano entre nós e integram-se na vida paroquial.

Claro que para nós que trabalhamos numa ilha turística, temos o desafio de estarmos melhor preparados nas ciências das línguas estrangeiras, a fim de podermos atender esses fiéis que vêm de fora. Mas considero que o turismo é também uma oportunidade para ainda mais enriquecermos, com a diversidade de povos e cultura que nos visitam.

Dados estatísticos apontam que mais de 60 % da população da Boa Vista é oriunda de outras paragens. A igreja sente esta realidade?

Claramente. Os que chegam à ilha têm uma presença muito forte em todos os segmentos da Sociedade, e a Igreja não foge à regra.

Na Paróquia de Santa Isabel, na Vila, na catequese, catequistas, grupos de jovens, grupos corais, entre outros, nota-se uma esmagadora presença de gente proveniente de outras ilhas. Os boa-vistenses estão também presente, mas em menor quantidade. Meu desejo de pastor é que os “cabrer” – usando uma expressa local – assumam mais o seu envolvimento com a vida da Paróquia, pois quem chega hoje está, mas amanhã não sabemos como será.

Para concluir o que deseja dizer aos seus paroquianos e população em geral?

Creio que sempre se pode tirar mais proveito. Veja que a nível do artesanato, tudo que seja souvenir, são os irmãos do Continente que estão na dianteira da sua promoção e venda.

A nível do fornecimento de hortaliças e frescos, de uma forma geral, a ilha não está ainda à altura da demanda. Contudo, nota-se que gente do Norte, ligada à agricultura, vai ganhando a sua vida com o que produz. Falta mais organização empresarial para conseguir competir neste mercado próprio do turismo.