Pandemia- Cisne negro- A nova ordem económica mundial

3

A Covid -19 causou a maior crise sanitária e económica. A pandemia, infelizmente, na fase inicial prescreveu a regra do jogo, até porque não existia uma literatura, até então, sobre o mesmo, assim sendo, obrigou o mundo inteiro com o “fique em casa”

Assim sendo, os governantes, a nível mundial, tiveram que abrir os cordões para dar sustentabilidade ao fenómeno “fique em casa”, ou seja, aumento de liquidez na economia ou expansão monetária. Entretanto, esses incrementos nunca estiveram em sintonia com a produtividade ou produção, aliás, este estava em declino, sobretudo, porque não havia mão de obras disponíveis, e por consequente deparamos hoje com impactos nocivos no que toca os níveis de preços – Inflação.

Na verdade, o SARS –COV -2 demonstra ser uma espécie de câncer que deixa sequelas ou que finge ser vencida e depois recrudesce. A título de exemplo, devido a Covid -19 o mundo enfrenta a maior crise logístico de últimos tempos, o custo para enviar ou transportar um contêiner da China para a costa oeste dos EUA teve um aumento estratosfera conforme o gráfico infra. (https://www.bbc.com/portuguese/geral-58454798)

Fonte: farmenews.com.br

E, como a cadeia produtiva tornou-se muito interligada os preços estão a sofrer aumentos significativos em todo mundo. Ou seja, além dos preços dos bens e serviços estão a aumentar por causa da expansão monetária, o aumento do mesmo também tem sido engendrado pela crise logística. Desta feita, podemos assegurar que a pandemia, é, sim, a nova ordem económica mundial e a causa e efeito pela inflação ressonante e sem precedentes que o mundo enfrenta.

No entanto, terminado o capítulo SARS –COV -2, o mundo também está a ser massacrado com o choque do petróleo, típico de tempestade mais – que – perfeita, causando uma crise energética global. Visto que, com o aumento do preço da energia, o fator de produção mais pertinente, provocada pelo choque do petróleo, toda a cadeia de suprimentos será impactada, o que nos leva a uma inflação galopante e de longo prazo segundo as previsões dos analistas.

Assim, a inferência que podemos tirar é que estamos perante a uma nova onda de coronavírus – a inflação.

A inflação é o maior problema económico que uma Nação possa enfrentar, pois, este roí o poder de compra das famílias e das empresas, empobrece o País e leva o povo, porventura, a depressão.

Todavia, analisando, internamente, estará Cabo Verde preparada para fazer frente as problemáticas supracitadas? Infelizmente, afirmo, categoricamente que não. Mas, porque digo que não? Naturalmente, porque a nossa situação macroeconómica não nos favorece.

Vamos aos fatos:

Cabo Verde possui um deficit orçamental e a dívida publica (154% do PIB) exorbitante.

Ora, como se combate o deficit e dívida pública? O primeiro, deva ser via cortes das despesas, e/ou aumento das receitas fiscais para que as contas publicas possam ser equilibradas. No meu ver, de acordo com o contexto macroeconómico, a dinâmica económica não permitiria incremento das receitas fiscais, nesse sentido, apenas nos resta cortes das despesas significativas.

Por sua vez, a dívida pública há de ser superada através do superavit primário ou crescimento do PIB, com o intuito de reduzir o rácio divida/PIB. Porem, infelizmente, pela “ironia do destino” vejo – o pouco provável. E, se me perguntarem o porquê de tanto ceticismo da minha parte, em relação ao crescimento do PIB para que possamos aumentar as receitas fiscais ou reduzir o rácio? Responderia o seguinte: aritmeticamente ou matematicamente falando é improvável, por questão da identidade do PIB, apesar de não impossível.

PIB= C+I+G+(X-I) onde:

C= consumo das famílias;

I= consumo dos privados;

G= Gastos do Governo;

(X-I) =exportações liquidas.

Desmistificando a identidade, ou as variáveis acima descritas:

Nesse contexto internacional de altas dos preços ou inflação, o poder de compras das famílias foi praticamente aniquilado, assim sendo, queda no consumo, idem para o setor privado C+I).

Por sua vez o Governo de Cabo verde, no meu ver, já não possui munições suficientes para fazer frente a crise, pois a pandemia consumiu, praticamente, todos os recursos, melhor dizendo, queda dos Gastos governamental (G) e por último, de ponto de vista lógico, com a crise logístico teremos uma acentuada queda no comércio internacional, especialmente, no que tange empresas de menor porte, em outras palavras, deficit na balança comercial (X-I) negativo.

Tendo em conta, a análise supra, em 2022 não teremos aumento do PIB necessário, ao ponto de dar sustentabilidade nas receitas fiscais e diminuição do rácio da dívida/PIB por meio da dinâmica económica.

Posto isto, o País carece de sacrifício de todos e todas, principalmente o Governo no que tange a contenção ou rigor nas despesas públicas.

Contudo, os cenários internacionais e nacionais não são animadores, porem, há que sermos antifragil para transpormos a instigação em causa – florescer ou crescer perante eventos impressíveis. urge sermos ousados para que possamos ultrapassar os impactos da crise.

Não devemos pensar em ser apenas resiliente, pois este significaria resistir ao impacto e permanecer estático e muito menos sermos frágeis, até porque estamos em contratempo, caso contrario será uma década aquém ou muito aquém das expectativas dos Cabo – Verdianos.

Pois, o vento apaga uma vela, mas energiza o fogo, dito de outra forma, veio o vento (crise) há que sermos Fogo.

Temos que ser antifragil, e para isso devemos aceitar a aleatoriedade, volatilidade a incerteza ou a crise pelo qual deparamos, porem só assim conseguiremos ordem em detrimento do pseudo – ordem. É nesse sentido que podemos prosperar ou crescer mediante a crise.

Efetivamente, na política impera aprender o mecanismo de ANTIFRAGILIDADE, para que os decisores políticos possam construir uma guia ampla e sistemática da tomada de decisões não preditiva como: a incerteza, o invisível, o opaco ou inexplicável. O objetivo passa por saber domestica – lo ou até domina – lo e por fim conquista – lo.

Por fim, destaco que quando estamos perante grandes desafios tendemos a sentir inspirado ou motivado, e com isso as nossas mentes ou pensamentos transcendem as nossas grilhetas, as nossas forças e talentos adormecidos despertam e descobriremos que somos muito mais aquilo que acreditávamos ser, ou seja, antifragil e não frágil ou sinonimo de frágil – resiliente.



3 COMENTÁRIOS

  1. Meu caro, posso até discordar da sua abordagem, mas não. Gostei do artigo, do ponto de vista da abordagem da Teoria Económica. Porém, repare que: 1. Governar é dar sinais e emitir orientações. Neste caso, um hipotético agravamento fiscal não visa arrecadar mais somente para resolver a tesouraria do Estado, mas sim, e também dar um sinal à sociedade que não se pode viver além das possibilidades. Isto é importante, porque os nossos parceiros de desenvolvimento precisam saber que não estamos a contar somente com os impostos dos seus contribuintes para resolver nossos problemas domésticos. Que estamos dispostos para sacrifícios. 2. Agravamento do rácio da dívida versus PIB. Ora, aí sua análise peca pelo ser demasiado simplório. Repare que, só pelo facto de o país deixar de crescer, uma contração da economia por causa da covid-19, este rácio agravou-se sem que tenha havido nenhuma operação econométrica. Se eu tivesse que explicar isto aos meus alunos, dir-lhes- ia apenas que mantendo constanteo valor da dívida, retraindo a taxa de crescimento do PIB aumenta o rácio da dívida. O país vive momento de ansiedade, mas é importante emitir sinais. Seu artigo é bom. Grande abraço.

    • Bom dia meu caro, subscrevo o seu primeiro ponto, o mais importante no que tange o equilíbrio das contas Públicas não deve ser apenas aumento das receitas, mas sim passar credibilidades ao mercado, fazendo o que se deve ser feito, independentemente do impacto orçamental, se for 5% ou 10 %, o mais importante seria o Estado dar exemplo, mormente na redução do elenco governamental, que sinceramente o meu QI não consegue entender. Em relação a parte 2- não pode ser mais esclarecedor, pois o artigo ficaria muito longo, porém é claro que mesmo que a divida ou o stock da dívida for estático, e se a economia não crescer não teríamos a redução do mesmo. o mais importante não é o stock da dívida mas sim o rácio Dívida/PIB. Foi por isso que mencionei no artigo que não acredito na redução do mesmo, pois pela minha força de percepção a nossa economia não crescerá ao ponto de!!! solução esforço e ajustes fiscais. Abraço.

  2. Caríssimo, grato pelo debate civilizado que estamos a proporcionar neste jornal. Voltando ao assunto, e se há coisa com a qual a nossa convergência é total, essa coisa é o risco de uma previsível escalada de inflação e seus efeitos desastrosos para todos nós. Eventualmente podemos, noutro quesito, ambos estarmos também de acordo. Repare no seguinte, e voltamos à problemática da gestão dos sinais. Não é crível, na sua opinião, que uma eventual mexida na carga fiscal possa vir a resolver os nomes problemas estruturais, da mesma forma que também eu duvido que reduzindo o elenco do Governo consigamos gerar poupança suficiente para resolver os nossos problemas económicos estruturais, sobretudo, no que diz respeito aos gastos públicos. Mas, podemos ambos concordar que a única saída sustentável, no médio e longo prazo é a nossa economia crescer a níveis que se não forem superior, pelos menos iguais às taxas anuais pré-covid para gerarmos riqueza e bem estar. Um grande abraço.

Comentários estão fechados.