Pandemia do Covid-19 faz cair preços do barril de petróleo para valores negativos

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É a primeira vez que na praça de Nova Iorque o barril de petróleo é transacionado a níveis negativos. Ao início da tarde de ontem, o barril valia 12 Dólares

Às 18 horas de ontem, segunda-feira, 20, o petróleo West Texas Intermediate, WTI, medido pela negociação de contratos de entrega futura, para o mês de maio, seguia a -37,63 Dólares por barril, resultado de uma queda de 305,9%. Já chegou a tocar nos -40,32 Dólares no início da noite anterior, naquela que é a primeira vez, desde que o contrato de entrega futura WTI foi criado, em 1983, que o preço atinge um valor negativo.

A meio da tarde do mesmo dia, a desvalorização era de 36,7%, nos 11,55 Dólares na praça de Nova Iorque, atingindo níveis que já não se viam desde 1999. Ao fim da tarde de ontem, o preço tinha descido a menos de 1 Dólar por barril.

O Financial Times, citado pelo Público, explica que parte da queda tão abrupta dos preços do WTI de segunda-feira, 20, prende-se com aspetos técnicos, também decorrentes do excesso de stocks no mercado Norte-americano, a braços com uma crise económica que levou à inscrição de 22 milhões de novos desempregados num mês. O que está em causa são contratos de entrega futura de petróleo, com data de maio, cuja negociação expira esta terça-feira, 21, com a diminuição da procura em cima de um prazo tão curto, o preço só tem uma direção, que é a da descida a pique.

Os contratos futuros de WTI, com entrega em junho, por exemplo, estão também em queda, mas bastante mais reduzida: de 10%, para 22,62 Dólares por barril.

Em Londres, os contratos futuros de Brent, com entrega em junho, estavam com uma queda bem mais suave, na casa dos 7,83%, para 25,88 Dólares por barril.

Com origem no Mar do Norte, o Brent é facilmente transportável em navios-tanque para onde haja procura. As reservas de petróleo Norte-americano, contudo, deparam-se com falta de capacidade de armazenamento dado à ausência de escoamento das reservas, nomeadamente, no ponto de entrega mais solicitado, de Cushing, no Estado de Oklahoma, cujos tanques irão ficar cheios em breve.

Apesar de a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, OPEP, e os seus principais aliados, como a Rússia, terem acordado na passada semana um corte nunca visto na produção mundial, de 9,7 milhões de barris por dia, a medida não foi suficiente para travar a queda da matéria-prima nos mercados internacionais.

Além do FMI ter estimado que haja uma contração da economia mundial de 3% em 2020, pior do que a de 0,1% no pico da crise financeira de 2009, a Agência Internacional de Energia já veio confirmar um cenário mais adverso para o setor.

Citada pelo Financial Times, a Agência prevê que a procura de petróleo registe um decréscimo de 9,3 milhões de barris por dia em 2020, por comparação com 2019, mesmo que os confinamentos nacionais sejam levantados e as viagens voltem a ser permitidas normalmente.

Só em abril, explica a autoridade energética, a procura pode recuar em 29 milhões de barris por dia, quase um terço da procura anterior à crise, de cerca de 100 milhões de barris por dia.