Papa pede atenção às “lepras da alma”

Pedido foi feito durante canonização da primeira santa Argentina

O Santo Padre canonizou, este domingo, no Vaticano, a primeira santa Argentina e pediu atenção às “lepras da alma”, e avisou que a lepra não é uma coisa do passado.

Ao presidir a canonização de Maria Antónia de Paz y Figueroa, a primeira santa Argentina, conhecida como Mamã Antula, uma mulher, que viveu no Séc. XVIII, num contexto de miséria material e moral, e que gastou a sua vida ao serviço dos mais necessitados, o Papa, a propósito do Evangelho que fala da cura de um leproso, alertou para a realidade de hoje em que tantos medos, preconceitos, incoerências e falsa religiosidade são “lepras da alma” que continuam a fazem sofrer os mais frágeis.

“Quantas pessoas sofredoras encontramos nos passeios das nossas cidades! E quantos medos, preconceitos e incoerências, mesmo entre quem acredita e se professa cristão, contribuem para as ferir ainda mais! Também no nosso tempo há tanta marginalização, há barreiras a derrubar, lepras a curar”, afirmou.

O Papa deu alguns exemplos desta “doença” como acontece quando nos distanciamos dos outros para pensar em nós mesmos, quando circunscrevemos o mundo às muralhas do nosso estar tranquilos, quando julgamos que o problema são sempre e só os outros.

“Nestes casos, tenhamos cuidado, porque o diagnóstico é claro: lepra da alma. Uma doença que nos torna insensíveis ao amor, à compaixão, que nos destrói com as «gangrenas» do egoísmo, preconceito, indiferença e intolerância”. E acrescentou ainda que, “tal como na fase inicial da doença com as primeiras manchas de lepra que aparecem na pele, se não se tomar medidas imediatas, a infeção cresce e torna-se devastadora”, referiu.

Francisco não duvida que a única cura para estas feridas e doenças da alma é levá-las a Jesus, através da oração: “Não uma oração abstrata, feita apenas de repetição de fórmulas, mas uma oração sincera e viva, que depõe aos pés de Cristo as misérias, as fragilidades, as falsidades, os medos”.

Deste modo, ”redescobrimos a alegria de nos doar aos outros, sem medos nem preconceitos, livres de formas de religiosidade anestesiante e desinteressada da carne do irmão; retoma força em nós a capacidade de amar, para além de todo e qualquer cálculo e conveniência”, como aconteceu com a nova santa Mamã Antula que se “gastou pessoalmente, por entre mil dificuldades, para que muitos outros pudessem viver a sua própria experiência e envolveu milhares de pessoas e fundou obras que vivem ainda hoje”, disse o Papa.