Páscoa não é coisa do passado. É um acontecimento sempre do presente

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Afirmação é de Dom Ildo Fortes, Bispo de Mindelo, em entrevista ao OPAÍS.cv por ocasião da festa maior dos cristãos

No dia que inicia o Tríduo Pascal, o Bispo de Mindelo explica o sentido destes dias fortes da Igreja e não esconde alegria de se poder celebrar com a presença de fiéis nas Igrejas, ao contrário do ano passado em que as Igrejas estiveram de portas fechadas. “Vamos poder celebrar a Páscoa com o povo nas igrejas”, revela, ao mesmo tempo que reitera os apelos às necessárias medidas de contenção à propagação da pandemia.

 

OPAÍS.cv – Dom Ildo Fortes, entramos na Semana Santa, como devemos refletir sobre o verdadeiro sentido e significado da Páscoa?

Dom Ildo Fortes – A Páscoa é a mais importante festa dos cristãos. A melhor maneira de refletir sobre Ela é tentar acompanhar a própria liturgia destes dias. As orações, os textos bíblicos que se leem durante as celebrações e também temos muita doutrina e catequese sobre a Páscoa que podemos ir buscar e acolher. Ajuda-nos também, ter presente que a Páscoa não é coisa do passado que recordamos, mas é memorial da morte e Ressurreição de Jesus Cristo. É um acontecimento sempre do presente. Os efeitos da morte de Cristo fazem-se sentir no hoje da nossa vida.

O que faz a Semana Santa ser tão especial e diferente das outras épocas do ano para um cristão?

Esta semana é chamada santa, porque os acontecimentos mais significativos e decisivos da vida de Cristo, os celebramos nesta semana. Quinta-feira santa, na Ceia do Senhor e Lava-pés, celebramos a Instituição da Eucaristia, Sexta-feira, a Paixão e Morte de Jesus. Não há Eucaristia em parte alguma do mundo, porque o Senhor morreu. O rito mais significativo deste dia é a Adoração da Cruz de Cristo. Cruz é expressão do maior amor. “Não há prova maior de amor do que dar a vida pelos amigos”, dizia Jesus e assim fez mesmo. Sábado Santo, pela noite, na grande Vigília Pascal, celebramos a vitória da vida sobre a morte: a Ressurreição. Foi nessa noite que Cristo passou da morte à vida. Domingo é o Dia de Páscoa. Dia da boa notícia: o sepulcro está vazio, Cristo Ressuscitou como havia dito.

Estamos num ano pandémico, assim como no ano passado sob restrições. Neste ano, felizmente se pode celebrar com fiéis nas Igrejas ao contrário da última Páscoa. Naturalmente que há um sentido especial…

Sim, este ano a nossa alegria é grande, pois apesar de não estarmos livres da pandemia e da necessidade de especiais cuidados no modo de celebrar, vamos poder celebrar a Páscoa com o povo nas igrejas. A nossa fé tem uma dimensão comunitária muito grande, por isso, celebrar com o povo tem um sentido especial. Quando se batiza alguém, após a profissão de fé, o Sacerdote conclui: Esta é a Fé da Igreja que temos a alegria de professar em Cristo Jesus. Ser batizado, ser cristão é passar a pertencer a esta família. A fé que celebramos é da Igreja, é da comunidade. Como tal, a celebração adquire maior significado quando é celebrada em comunidade.

Qual é o significado exato da liturgia da Quinta-feira e Sexta-feira Santas, chamadas de lava pés e “Adoração da Cruz”, respetivamente?

Já falei um pouco disso mais acima, mas acrescento que na Quinta-Feira Santa, celebramos o dia em que Jesus, na última Ceia com os seus discípulos, instituiu a Eucaristia e mandou que fosse celebrada em sua memória. Sempre que celebramos a Missa, celebramos a Páscoa, a Morte e Ressurreição de Cristo: pegando no pão, Jesus dizia: Este é o meu Corpo entregue por vós; depois, tomando o cálice, diz: este é o Cálice do meu Sangue, o Sangue da nova e eterna aliança que será derramado por vós e por todos, para a remissão dos pecados. Fazei isto em memória de Mim. Foi nesse mesmo dia que o Senhor deixou o mandamento novo do amor. Amar como Ele nos amou. O Lava-pés, é o símbolo do amor e do serviço. Cristo lavou os pés aos seus dando o exemplo que deveriam seguir: ser servidores, amar os irmãos, exercer a caridade. Essa Quinta-feira é assim, também o dia em que nasceu o sacerdócio na Igreja. Um ministério de serviço à maneira de Cristo.

A Sexta-feira foi o dia em Jesus morreu na Cruz. Nesse dia o elemento central é a Cruz. Adoramos a Cruz, veneramos a Cruz, porque Ela é sinal de amor e fonte de vida. A Cruz de Cristo faz-nos unir a todos os que sofrem hoje por injustiças e desamor. Ela desafia a nossa conversão a uma vida mais humana e solidária. Cruz é chamada também árvore da vida, precisamente porque do lado aberto de Cristo na Cruz, nasceu a Igreja e os sacramentos. A morte de Jesus, é uma morte especial, porque redentora.

O que fazer para levar os fiéis a participarem e celebrarem esta Páscoa mesmo com as restrições?

Esperamos que os nossos fiéis, cada vez mais estejam conscientes da sua fé e das suas obrigações e que saibam discernir o quão importante é participar nestas celebrações, as mais sagradas do ano. Todavia, agora e também já antes, procuramos apelar as pessoas para o dever e a importância de viver a Páscoa de forma intensa nestes três dias do Tríduo Pascal.

Sobre a maneira como devem participar, já há muitos meses que temos vindo a falar e a incentivar à participação tendo em conta as devidas medidas de segurança: uso obrigatório da máscara em todas as celebrações e atividades da Igreja, guardar distanciamento nos lugares e ao deslocar na igreja, higienizar as mãos com frequência, etc. Notamos felizmente que os nossos fiéis, acatam com serenidades as medidas de prevenção da Covid-19 e por exemplo, alguns já vêm à Igreja como o seu álcool-gel.

Que mensagem, naturalmente, aos Cristãos nesta ocasião.

A Páscoa é em sim mesma uma grande mensagem: Deus e a vida têm a última palavra na história. Por isso, a melhor notícia que alguma vez correu no mundo é esta: o Sepulcro de Cristo está vazio, Ele ressuscitou. E se Ele está Vivo, então tudo é diferente. A nossa vida tem outro sentido. É possível a esperança.

Nestes tempos difíceis, precisamos muito de acalentar a esperança. E a fé pascal é motivo de muita esperança. Deus que não abandonou o Seu Filho na Cruz, antes veio ao Seu auxílio, também não nos abandona, Ele vem ao nosso encontro e faz-se Luz no nosso caminho e nas nossas vidas. Precisamos de ser uns para os outros, com palavras e gestos concretos essa presença de Cristo Ressuscitado.