Políticos populistas e os perigos que representam 

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Hodiernamente para se ganhar uma eleição não basta ser-se competente, o mais preparado para o cargo, pois que com o advento do populismo, das redes sociais, particularmente com as fake news, a paisagem política mudou completamente. Os populistas afirmam que os grandes problemas políticos de hoje podem ser resolvidos com facilidade, quando na verdade sabemos que vivemos na era da complexidade! 

 

Para alguns observadores, era pouco crível que Donald Trump pudesse ganhar a eleição nos EUA; o mesmo aconteceu na Polónia e na Hungria, ou seja, líderes populistas que usaram a mesma cartilha para enfraquecer instituições independentes e para amordaçar a oposição. Quem diria que Bolsonaro poderia vir a governar o Brasil? Enfim, muitos outros exemplos poderiam ser dados. Em suma, os populistas afirmam que os grandes problemas políticos de hoje podem ser resolvidos num click. Trata-se, efetivamente, de um discurso que à partida pode ter uma grande adesão do povo. O problema é o the day after. 

 

Ora, fruto desse populismo bacoco que grassa no mundo atual, Cabo Verde não foge à regra e, hoje, qualquer candidato pode ganhar uma eleição com alguma facilidade, bastando para o efeito, fazer promessas irrealistas, demagógicas e populistas para vencer! Muitos acabam por receber o poder sem saber ler e escrever, e numa bandeja dourada, contando ainda com um bónus: a colaboração interna. Que sorte! Aqui vale a pena lembrar Churchill com a sua frase lapidar: “os nossos inimigos sentam-se ao nosso lado, nesta mesma bancada”, ou seja, os nossos inimigos estão dentro do próprio partido. E isto pesou! 

 

Assim, ganhando a eleição, ou seja, estando dentro do campo para jogar, como o poder caiu do céu, muitos ficam desorientados e sem nada saber fazer com a bola; pudera! Não tendo o domínio do jogo e, logo não sabe passar a bola e tão pouco marcar o golo, fica sempre a arranjar uma desculpa esfarrapada, ora culpabilizando os colegas de equipa, ora o árbitro e ora o VAR! É a sina dos maus jogadores! Estão sempre a chorar, sempre a reclamar. Construir jogadas, não tem jeito, mas fora do campo são os melhores do mundo. 

 

Eis a razão por que se nota um grande descontentamento e desilusão na região de Santiago Sul, com particular destaque para São Domingos e Praia, condizendo com a ideia segundo a qual “a democracia é o sistema político dececionante porque aponta para ideias inalcançáveis”, ou seja, incapaz de manter as suas promessas, fantasmagórica (Mori, 2014).  

 

Utilizando um jargão futebolístico, no passado, quando uma grande equipa jogava com uma lanterna vermelha, nem era preciso jogar, pois já se sabia que era goleada. Hoje, as coisas mudaram, isto é, não há vencedor antecipado e prognóstico só no final do jogo, como dizia o outro. Uma equipa do 2º escalão, pode ganhar uma equipa que disputa o título de campeão nacional. 

 

Na política, hoje, em jeito de atalho de foice, não é preciso ser-se vedeta, isto é, qualquer candidato, mesmo que não tenha um percurso político, porque já não há cânones de conhecimento, já não há percursos obrigatórios, pode ganhar uma eleição em virtude do surgimento do populismo e de um discurso centrado nos mais carenciados «no povo». O resultado é o que se pode observar: não se vislumbra a concretização de nenhum projeto de vulto que tranquilize a população de Santiago Sul. 

 

Nota-se, por conseguinte em muitos sítios, um grande retrocesso e quem fica prejudicado são os munícipes. Esses autarcas passam grande parte do tempo a fazer o périplo pelo mundo fora. Neste particular, é caso para perguntar: Onde anda… Onde anda o Sr. Presidente?  

 

Não tendo resultado para apresentar, começam prematuramente a desculpar-se pelo fracasso, apontando o dedo acusador aos outros, utilizando um discurso anti elite e outras expressões populistas como “Nós somos pela transparência”, e “vocês pela corrupção”, “Nós representamos o povo”, “eu tenho comigo o povo”, etc. Faltava dizer “nós somos Deus” e “vocês o Diabo”. 

 

Ademais, importa referir que a política é uma atividade que se pode melhorar, mas, sobretudo, é algo inevitável. Os populistas ignoram ou ocultam esta inevitabilidade; espalham a desconfiança em relação aos políticos como se fosse possível que a sua atividade passasse a ser desempenhada por quem não seja político ou por aqueles que atuam como se não fossem. 

 

Por tudo isto, os populistas são vistos como fonte de perigo para regimes democráticos. 

 

Finalmente, precisamos de aprender a resistir ao impacto transformador da internet e das redes sociais e desconstruir as narrativas dos populistas antes que seja tarde. 

 

Clemente Garcia 

Especialista em Ética e Filosofia Política 



1 COMENTÁRIO

  1. O artigo é muito bom, embora muito “cozinhado” na defensiva. O autor se utiliza de figuras de estilo, parábolas e comparação impessoalizadas quando poderia se referir a casos concretos entre nós. Ele se refere a líderes mundiais e seus países sem nenhum problema, porém,o mesmo autor não demonstra coragem suficiente para se referir ao presidente da câmara municipal da Praia, Francisco Carvalho, ao presidente da câmara municipal de São Domingos, Isaías Varela, aos presidentes das câmaras municipais de São Filipe Muitas Silva) ou ao presidente da câmara municipal da Boa Vista (Mendonça) ou do Tarrafal. Ora, não se pode contribuir para um debate sério, atacando Trump, Bolsonaro ou Orban e deixar de fora José Maria Neves e seus seus afiliados e crias no paicv.

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