Precisamos Implementar em Angola Departamentos de Psicologia a nível das Divisões e Esquadras policiais

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O compromisso de segurança é um dos direitos básicos que faz parte da Constituição da República de Angola. Porém, é de grande relevância que ela seja exercida por profissionais bem preparados do ponto de vista dos princípios que orientam a vida humana, com vontade de exercerem as suas tarefas, com coragem, energia, robustez física e não só, mais também psicológica para suportarem os acontecimentos inesperados e os problemas de ordem social que ocorrem no quotidiano.

Nos termos da Constituição da República de Angola no seu artigo 210.º é imputada a Polícia Nacional de Angola a responsabilidade da protecção e asseguramento policial do País.

Mas, a par desta responsabilidade que ela possui, a população em Angola tende a não ser profundo na reflexão e deferência do que é necessário para que o Agente ̸ Oficial da ordem pública desempenhe de forma adequada as suas funções. O elemento indispensável para a actividade policial é a mente dos profissionais, daí que para a Polícia ter êxitos nas suas actividades, necessita fundamentalmente de doutrinas psicológicas para o bom resultado da sua missão.

A psicologia pode auxiliar o agente ̸ Oficial da polícia, na sua forma de agir, e se comportar. O contributo fornecido pela ciência do comportamento e dos processos mentais ao polícia é aquela que pode auxiliar na obtenção de resultados mais justos e mais equilibrado na correlação entre tomar as providências certas e a actuação diante das ocasiões adversas e contraditórias.

O trabalho dos profissionais da ordem pública é caracterizado como uma actividade que possui constantemente, fortes elementos que originam o estresse. O policia no exercício das suas actividades trabalha com muita pressão, lida com múltiplas situações da população e que consequentemente essas situações vivenciadas, podem de alguma maneira alterar a sua forma de ser e que da mesma forma pode também vir a afectar a interacção com a sociedade. O Agente ̸ Oficial da ordem pública vive frequentemente o estado de alerta, que consequentemente pode desencadear outro momento de perigo, o ponto elevado do “estresse patológico”. Devemos compreender que há muitos elementos que podem contribuir para que a “Saúde Mental” dos profissionais da Ordem Pública em Angola seja comprometida, visto que passam muito tempo longe, dos seus familiares, são submetidos à certa escala de serviço desgastante, e na folga uns procuram outra actividade para acrescer a renda familiar, a não valorização do seu trabalho por parte da sociedade, muitas vezes a sociedade acaba por esquecer que por trás da farda há um ser humano que consequentemente acaba desmotivando e deprimindo o profissional devido o descontentamento com o seu trabalho, e as próprias relações interpessoais.

Por estas e vários outros problemas que afectam directamente o polícia e dificultam o exercício das tarefas atribuídas aos polícias, torna-se importante a implementação de Departamentos de Psicologia a nível das Divisões e Esquadras de Polícias, no sentido de apoiar os membros das Forças Policiais e auxiliar nos problemas organizativos e insuficiência nos procedimentos da Polícia Nacional de Angola.

Dentro da nossa Polícia Nacional temos muitos Agentes e Oficiais formados em Psicologia nas mais distintas especialidades nomeadamente, a Psicologia Criminal, Forense e ou  ̸ Jurídica, Clínica, Trabalho etc., razão pela qual temos condições a nível dos recursos humanos para avançar com a construção desses Departamentos a nível das nossas Divisões e Esquadras Policiais. Daí a necessidade de começarmos a criar condições para que os profissionais da ciência do comportamento e dos processos mentais exerçam os seus papéis que é de grande importância na vida do ser humano. O que se verifica na verdade não é a ausência de profissionais de psicologia, mais sim a falta de condições para que os psicólogos exerçam a suas funções.

Importante aqui mencionar o pensamento do Comandante Geral da Polícia Nacional de Angola, Dr. Paulo de Almeida que apontava que: as escolas de formação precisam melhorar o ensino da técnica policial virada para o auto-domínio. O Comandante Geral da Polícia Nacional de Angola Dr. Paulo de Almeida numa sua abordagem recente, reconhece que a nossa formação versa mais os aspectos operacionais e temos debilidades no domínio psicológico, o que se reflecte quando vamos para o terreno das operações.

Por tanto precisamos superar as debilidades do domínio psicológico que os nossos agentes e oficiais da ordem pública possuem, e esta superação faz-se com psicólogos e psiquiatras que são os profissionais da Saúde Mental. Os profissionais de Psicologia podem auxiliar, a transformar a estrutura interna e externa da nossa Polícia Nacional, de modo a adaptar-se a nova realidade social surgida com as transformações políticas, culturais e sociais, necessitamos de fundar condições para que a nossa corporação policial, tenha o polícia que a sociedade exige nos dias de hoje. O polícia que a sociedade exige na actualidade, é aquele que consegue lidar com os problemas de forma a prevenir os conflitos e não aquele que somente vê na coação à única solução.

 Com a implementação destes Departamentos de Psicologia a nível das Esquadras e Divisões Policiais, os psicólogos  poderão:

  1. Sugerir as administrações das escolas policiais, a introduzir a psicologia como disciplina básica nos cursos de formação de polícias.
  2. Indicar o número, natureza e vocação das escolas policiais e determinar o perfil dos seus responsáveis e formadores, para melhoria da qualidade da formação policial.
  3. Poderão aplicar os testes psicológicos com objectivo de identificar os polícias que estão nos limites máximos de estresse, possibilitando que os comandantes das esquadras tomem medidas adequadas para cada caso.
  4. Procurar desenvolver seminários e debates em grupos para tratar de assuntos relacionados ao estresse e outras patologias psíquicas e estabelecer horários de realização de actividades físicas, como forma de diminuir o estresse causado pela actividade policial.
  5. Estabelecer horários de trabalho de modo a evitar conflitos com as demandas e as responsabilidades não relacionadas ao trabalho, como também os cuidados pessoais e de lazer no sentido de permitir ao policia o tempo oportuno para a realização da actividade de forma satisfatória, com a finalidade de melhorar sua responsabilidade e desempenho na actividade operacional.
  6. Auxiliar a melhorar a imagem social da polícia e propor uma melhor qualidade de vida aos sujeitos policiais, através de adequada supervisão e assistência psicológica;
  7. Auxiliar a reduzir os impactos psicossociais nos policiais e naqueles cidadãos (vítimas) que recorrem à esquadra policial por motivos diversos e principalmente, a assistência psicológica que é um aspecto de tamanha importância mais que não temos esses serviços a nível das esquadras.

Por tanto os Psicólogos pode contribuir com uma realidade de Segurança Pública, começando com aqueles que têm a responsabilidade de executá-la. Os psicólogos observam como a realidade funciona e por meio dessa dinâmica poderão subsidiar a potencializar a acção policial na sociedade angolana, inclusive promover a cidadania e o potencial de diálogo e cooperação. A Psicologia em Angola, ainda é um campo de saber pouco valorizada, mas que vai ganhando o seu espaço de forma paulatina. É necessário olhar para importância do papel do psicólogo nesse ambiente em prol de aspectos que sirvam como mediadores para o enfrentamento psicossocial resultantes das citadas problemáticas existente na polícia, no policia e na sociedade. Com a presença de profissionais de psicologia nas Divisões e Esquadras Policiais é possível orientar os polícias para aumentarem seus níveis de autocontrole de impulsos e emoções nas circunstâncias onde não necessidade de usar a força, com efeito, directo sobre a sociedade, permitindo assim,  o aumento da capacidade de empatia e manejo de relações interpessoais, sentido de autoridade com controle, resistência à frustração, objectividade, iniciativa, cooperação com a sociedade, elementos esses que o Agente ̸ Oficial da ordem pública deve carregar nas suas práticas do dia-dia.

Cesário Sousa é Cidadão Angolano, licenciado em Psicologia Criminal, pela Faculdade de Ciências Sociais, da Universidade Agostinho Neto, Angola. É escritor e vice Presidente do Centro de Investigação e Biografias de Angola-CIBA.