É sabido que os grandes feitos da história da humanidade foram preparados e projetados com anos de antecedência e envolveram nações inteiras. Por exemplo, a descoberta do caminho marítimo para a Índia levou muitos anos até a sua concretização. Contou com o envolvimento de todas as esferas da sociedade.
A descoberta acidental do arquipélago de Cabo Verde, algures no meio do caminho em direção à Índia, não estava, à partida nos planos, dos que um dia sonharam com a chegada da Índia, mas por questões estratégicas ligadas ao comércio com a Costa Ocidental africana, tiveram que ocupar para as ilhas, que ao longo de vários anos serviram de suporte à navegação marítima.
No próximo ano, Cabo Verde completará 45 anos como país independente e 30 anos da abertura política. Números importantes para um país que caminha para 600 anos de história. Mas o facto de também abrir um ciclo de 3 eleições, que começa com as autárquicas de 2020 e fecha com as presidências de 2021, acredito que estão reunidos os ingredientes importantes e necessários para pensar o futuro.
Por mais que custe acreditar, a política hoje está cada vez mais descredibilizada. Pelos atores do passado ou do presente, o que é facto é que as pessoas cada vez mais olham para os decisores públicos com desconfiança.
Acredito que as pessoas cada vez menos queiram críticas e barulheira partidária. Querem chegar ao final de uma legislatura e constatar que estão melhores, quer seja nos Transportes, na Saúde e na Educação dos seus filhos. Querem sentir que os políticos, por intermédio da ação governativa, não falham e que estão empenhados em melhorar o futuro.
Não tenho quaisquer dúvidas de que Cabo Verde hoje está melhor que há 3 anos.
Acredito que, terminado algumas infraestruturas de desencravamento das localidades, e fechado com sucessos alguns dos dossiers complicados como são os casos dos transportes marítimos inter-ilhas, a conclusão com sucesso do processo de privatização e restruturação da Cabo Verde Arlines e a redução do desemprego para níveis aceitáveis, estaremos a dar um passo importante na consolidação do processo de desenvolvimento de Cabo Verde.
Porém, para a próxima década os cabo-verdianos merecem outras lutas.
A primeira passará pela regionalização e pelo reforço da autonomia das ilhas. Sem qualquer populismo ou oportunismo, os decisores políticos devem chegar a um consenso nesta matéria. Com mais Autonomia podemos combater as assimetrias na distribuição da riqueza, definir um modelo próprio de educação que permita às nossas crianças conhecer mais a sua ilha, sem que isso as prejudique no acesso ao ensino superior ou ao mercado de trabalho. Mais autonomia poderá permitir ainda o incremento de políticas ambientais mais sustentáveis para a nossa terra, sem extremismos ou dogmas.
Também é necessário repensar o nosso sistema político e fazer uma reforma a fundo na próxima década. Será que vai continuar a fazer sentido mantermos o sistema atual? Ou seria melhor avançarmos para o presidencialismo? Isso implicaria uma revisão constitucional, é claro.
Faz sentido continuarmos a limitar os mandatos do Presidente da República e deixar todos os outros cargos eletivos e não eletivos com mandatos ilimitados? É um debate que forçosamente teremos de fazer na próxima década e implementar as correções necessárias, sob pena de as gerações vindouras não nos perdoarem pelo tempo perdido.
Para fazer estas reformas é necessário um consenso alargado entre as forças políticas, a sociedade civil, academias, etc. O povo tem que estar atento e apostar naqueles que estão dispostos a mudar o statu quo e construir um país melhor. E não apostar naqueles que fazem muito barulho para deixar tudo como está.
O desafio da próxima década é de tornar Cabo Verde num país desenvolvido, com pobreza zero, com bom ambiente de negócio, com uma geração de empreendedores, conectados ao mundo e que criem valores para si e para a sociedade.