Reflexão Natalícia

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Revisitando um pouco as minhas notas de Filosofia da Religião, eis que partilho com o caro (a) leitor(a) qual o verdadeiro significado do Natal para a reflexão nesta quadra natalícia, pois que se nota que a essência do Natal vem sofrendo alterações profundas e tem vindo a paganizar-se gradualmente e, ainda assim, é possível inverter a situação, porquanto continua a verificar, amiúde, gesto de solidariedade, de partilha, de caridade e de solidariedade dignos de registo.

Para quem é cristão, celebrar o Natal é comemorar o aniversário do nascimento de Jesus Cristo; é saber ver Jesus nos outros, particularmente nos mais fragilizados, nos mais desfavorecidos, daí que a SOLIDARIEDADE seja a palavra de ordem nesta época festiva.

O Natal do Cristão é de solidariedade e não de egoísmo, razão pela qual devemos repartir o que temos com quem não possui o necessário para viver com dignidade, preferencialmente longe dos holofotes! Como se diz na gíria, “Quando doar alguma coisa, não faças tocar trombeta diante de ti como fazem os hipócritas para serem glorificados”.

Será que existe uma responsabilidade moral coletiva para com o vulnerável, o frágil?

Propriamente coletiva não existe. Entretanto, existe sim uma partilha individual de responsabilidades de várias pessoas envolvidas numa mesma causa. Existe, pois, uma co-responsabilidade e, segundo alguns autores, uma responsabilidade solidária.

Existe, por conseguinte, uma responsabilidade solidária atual para com os outros nossos coetâneos e uma responsabilidade solidária para com as gerações futuras.

Porquê uma responsabilidade atual para com o outro?

Se por um lado, na esteira de Paul Ricoeur, temos uma responsabilidade moral atual para com os outros – para com o próximo que se encontra a nosso cargo ou à nossa guarda, para quem é objeto do nosso cuidado, por outro, devido ao facto de usufruirmos, desde que nascemos, dos benefícios da civilização e da organização social, então passamos a ser devedores, contraindo uma dívida cultural para com as instituições sociais; somos, portanto, responsáveis pelo pagamento dessa dívida. Se os outros foram solidários para connosco, logo, somos também responsáveis pelo pagamento de uma dívida de solidariedade.

Este é o momento para o cristão que se preze refletir sobre como viveu durante o ano que está prestes a terminar, sobre a mensagem de Jesus que é o amor, a fraternidade, a paz, a reconciliação, a esperança, etc.

Se cada cristão fizer a sua parte no seio da família, ou seja, pormo-nos no lugar do outro e compreender o que ele faz e o que ele sente, uma pessoa com a qual eu habito o mundo, com a qual convivo, com a qual trabalho, com a qual colaboro nas diversas instituições da sociedade, tenho a plena convicção que teríamos uma sociedade mais harmoniosa, reinaria menos conflito social e, pela certa, teríamos menos criminalidade e delinquência juvenil na nossa sociedade.

Do nosso ponto de vista, falta esta introspeção, este exame de consciência à moda socrática, porque o verdadeiro cristão tem este papel importantíssimo, sobretudo nesta sociedade complexa que estamos a viver e de difícil previsibilidade quanto ao futuro.

Da nossa leitura atenta dos acontecimentos, celebrar o Natal é esvaziar o coração de sentimentos que não deviam existir, quais sejam o ódio, a inveja, a cobiça, a avareza, a malquerença, a maledicência, a má criação, o orgulho, etc. e apostarmos na magnanimidade das nossas ações.

Pessoalmente, gostaria que este Natal de 2022, o Menino Jesus renascesse em muitas cidades, vilas e aldeias ucranianas que estão a passar frio e outras privações, e, de modo particular a nossa urbe, contribuindo para que diminuísse a onda de criminalidade e violência, restaurando a paz e a concórdia no seio das famílias afetadas.

A TODOS E A TODAS UM SANTO E FELIZ NATAL!