“É em tua casa que eu quero celebrar a Páscoa” (Mt 26, 18)
Fique em casa é a palavra de ordem que repetidas vezes temos ouvido para melhor prevenção e evitar a propagação desta Pandemia que constitui, efectivamente, um autêntico flagelo para a humanidade, ceifando em pouco tempo, milhares de vidas e que está a ter um estrondoso impacto global como nunca antes visto.
Contudo, é interessante – para o nosso caso – esta coincidência: foi em pleno tempo da quaresma, tempo favorável de/para conversão, de preparação para a Páscoa que se verificou os primeiros casos, suspeitos e confirmados, e ainda se recomendou consequentemente a medida “quarentena” e agora há poucos dias decretou-se o estado de emergência nacional.
No acompanhamento e na luta contra esta Pandemia, no nosso País em concreto, considera-se esta semana que hoje começamos e que coincide com a Semana Santa, como particularmente importante e muito significativa. Por isso, seguramente, será vivida com muita expectativa e com forte esperança para que não surjam mais casos, sobretudo, confirmados.
Efectivamente – uma outra interessante coincidência – a Semana Santa, que hoje, Domingo de Ramos inicia-se e vai até o próximo Domingo, dia de Páscoa anual, é para os cristãos, católicos, a semana mais importante e significativa do ano/calendário litúrgico/civil. É considerada e apelidada de Semana Maior, porque nesta semana celebram-se os mistérios mais importantes e fundantes da fé cristã, a saber: a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.
Todavia, mesmo que o contexto em que vivemos esta semana/santa se revista de uma redobrada importância, relativamente a prevenção contra a propagação desta Pandemia e na vida espiritual de um cristão, importa recordar/salientar que esta Semana Santa, considerada semana Maior não tem nem mais dias nem mais horas do que as outras semanas que vivemos. Cientes disso, mais facilmente poderemos sentir o apelo e o desafio de viver nesta semana com maior qualidade – tanto quanto for possível – a nossa vida que tem – como experimentamos diariamente – várias dimensões ( pessoal, espiritual, familiar, profissional, social, relacional …) e consequentemente com múltiplas tarefas. Apostando durante esta semana nesta qualidade ampla de vida, sentiremos a alegria cívica de estarmos a colaborar na prevenção desta Pandemia e, igualmente, sentiremos a alegria cristã de estarmos a viver santamente.
Páscoa / Semana Santa / Pandemia Covid 19, em casa! Não estamos, de facto, habituados a viver assim e por isso é difícil para todos e podemos até sentir um pouco exaustos e angustiados ficando em casa durante tanto tempo assim. É verdade, mas enfim,… paciência! Fique em casa!
A Palavra de Deus que habitualmente escutamos em abundância nesta Semana Santa, anima-nos e neste contexto vem mesmo a propósito para nos ajudar a viver a palavra de ordem desta Pandemia – fique em casa! – com serenidade e benefícios espirituais. Na grande narrativa da Paixão de Jesus, considerada pelos estudiosos da Bíblia “o coração dos evangelhos” é muito interessante que logo no início os discípulos perguntam a Jesus: Senhor onde é que queres que celebremos a Páscoa este ano? E Jesus diz-lhes: Ide dizer a casa de tal pessoa: O Senhor manda dizer:… É em tua casa que eu quero celebrar a Páscoa. Os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa. ( Cfr. MT 26, 18-19.) Temos nesta passagem, sem descurar o seu contexto e o seu significado mais profundos, um argumento bíblico que muito oportunamente, neste contexto em que vivemos, reforça e nos persuade quanto a importância desta palavra de ordem importante para a prevenção desta Pandemia: fique em Casa!. É nesta, em casa, na tua/nossa casa, na tua/nossa vida, no teu/nosso íntimo, na tua/nossa família que o Senhor quer celebrar e que aconteça a Páscoa: a Sua/nossa Páscoa, a Sua passagem pela tua/nossa vida! Jesus Cristo, morto e ressuscitado é, acreditamos e devemos testemunhar a nossa Páscoa, a nossa esperança!
Neste sentido, devemos conscientizar do contexto diferente e complexo que vivemos esta Semana Santa / Páscoa / Pandemia e pedirmos com a firmeza da fé ao nosso Bom Deus esta graça: que estando em casa, vivamos com maior interioridade espiritual esta Páscoa, alicerçados no axioma comum de que “por dentro é que as coisas são verdadeiramente”. Acreditamos e ensina-nos a nossa fé, que tudo passa. Assim sendo, acreditemos e esperamos que esta Pandemia, com a nossa necessária colaboração também passará e voltaremos a partilhar e a saborear de outros momentos de encontro e de comunhão extra nossa casa, família. Possamos nós voltar a esses momentos com renovada gratidão a Deus pelo da vida que Ele nos concedeu e mais conscientes das coisas essenciais, fundamentais que devemos priorizar para a nossa vida neste mundo que é breve e passageira.
Cientes disso, deixemos, criemos as melhores condições para que sintamos e experimentemos na nossa vida, no nosso lar e na nossa família, Jesus Cristo, Ele que por nós, por nosso amor venceu a morte com a Sua ressurreição, Ele que – como nós ensinou na oração do Pai-Nosso -nos livra de todo o mal (o Covid-19 e outros males…). Que, efectivamente, sintamos renovados na nossa fé, fortalecidos no amor e reavivados na esperança, nesta Semana Santa / Páscoa / Pandemia Covid 19. Amém!
Texto publicado no site da Diocese de Mindelo. O Padre Adriano Cabral é Pároco de Santa Isabel e São João Baptista, na Ilha da Boa Vista
