Um olhar compilado sobre a pandemia da COVID-19

Durante este período da Pandemia da COVID-19, produzi algumas reflexões técnicas e pessoais que publiquei, nas redes sociais no âmbito de prevenção e combate à infeção pelo novo coronavírus desde início de março de 2020 e que agora gostava de partilhar convosco em formato compilado

Abstenção de práticas de rituais fúnebres

Face à pandemia por COVID-19, recomendo que sejam instituídas normas rígidas para que durante o período de prevenção e de combate à propagação do COVID-19, os nossos conterrâneos se abstenham da prática de rituais fúnebres, por ocasião da morte, enterro e missas de sufrágio dos seus entes queridos.
Como tem sido propalado por diversas plataformas de comunicação, as formas de transmissão da infeção pelo novo coronavírus é, em tudo, coincidentes com a nossa forma de relacionar com a cultura da morte dos nossos familiares, amigos ou conhecidos.
Contudo, apesar de a perda de um ente querido ser sempre uma ocasião, particularmente dolorosa, não podemos olvidar que é, igualmente, em momentos como estes em que enfrentamos uma batalha contra um inimigo sem rosto, que devemos adotar medidas de prevenção excepcionais. É por isso, que recomendamos a necessária proibição de ajuntamento de pessoas, assim como a abjuração de beijos, abraços e outros gestos próprios de momentos de profunda dor, consternação e comoção, pela perda dos nossos familiares.
Já se sabe que a capacidade fulminante de contagiosidade, disseminação, propagação e a forma de contaminação do novo coronavírus exige, sempre que possível, sejam preparados e equipados espaços extra-hospitalares e extraestruturas de saúde já existentes, para o isolamento e tratamento de infestados que possam surgir.

Espaços de isolamento: exemplo da ilha do Sal

O exemplo da Delegacia de Saúde do Sal em conseguir, preparar e equipar um espaço específico, extra-hospitalar para o isolamento, internamento e tratamento de doentes com o novo coronavírus é um caso paradigmático, que considero bastante positivo e que deve ser seguido por todos os concelhos do país, através do diálogo e cooperação institucional.
Eu próprio vive esta experiência, enquanto delegado de saúde no Concelho de Santa Cruz, aquando da epidemia de cólera em 1994-1995, em que, face àquela situação de contingência, tivemos que recorrer ao Cineteatro de Pedra Badejo para o isolamento e tratamento dos doentes com cólera e devo confessar que os resultados foram altamente positivos. É sempre possível que em cada um dos concelhos encontremos espaços públicos para reforçar a capacidade do país em Infraestruturas de apoio aos estabelecimentos de prestação dos cuidados de saúde que, numa ótica de complementaridade e de aproveitamento sinérgico, possam ter funções específicas no combate à infeção pelo novo coronavírus. Esses espaços podem servir para internamento, tratamento e isolamento, podendo representar, por isso, um grande fator de tranquilidade pública.
Na prevenção e combate à COVID19, temos que ter firmeza, racionalidade, serenidade, tecnicidade e cientificidade baseadas na experiência positiva de outras paragens, assim como previsibilidade e antecipação na tomada de medidas efetivas e com provas dadas. Os EUA são um bom exemplo disso. Muitos estabelecimentos de ensino optaram-se por aulas através da internet. Os estudantes de medicina, por exemplo, com o surgimento de casos da COVID-19 nos EUA, resolveram assistir as aulas on-line em interação com os professores e hospitais. As frequências e exames têm sido feitos através da Internet, a não ser que surjam casos muito direcionados e que obriguem a presença dos estudantes nos hospitais universitários.

Encerrar tudo para enfrentar a pandemia

Nesta data de 23 de Março de 2020 não tenho dúvidas que, pelo evoluir da pandemia, salvo excepções absolutamente necessárias, tudo deve ser encerrado durante pelo menos trinta dias, com possibilidade de prorrogação. Tudo para prevenir e minimizar os efeitos da propagação de COVID19.
Em antecipação devem ser tomadas medidas drásticas de confinamento obrigatório de todos os cidadãos em todas as ilhas, com exceção do pessoal de saúde, farmácias, e proteção civil. Do ponto de vista da saúde pública, essas medidas são corretas, adequadas e oportunas, sendo absolutamente necessárias para prevenir a pandemia da COVID-19. Com a decisão das autoridades competentes em tomar essas medidas, vamos entrar na fase de implementação rigorosa das mesmas, através de fiscalização, monitorização e avaliação sistemática. As autoridades devem zelar para que as medidas ligadas ao Estado de Emergência sejam cumpridas na íntegra e com o máximo de rigor, permitindo a maximização do efeito de prevenção, combate, bloqueio e possível erradicação da infeção por COVID19. Portanto, devemos aproveitar bem o facto de sermos um país arquipelágico, sem fronteiras terrestres, e de termos o clima com muitas vantagens. Torna-se, por isso, imprescindível o reforço da comunicação relacionada com o cumprimento escrupuloso e integral das medidas imanentes do Estado de Emergência.
Deste modo, aproveito a oportunidade para propor às autoridades competentes, que todas as pessoas que forem submetidas a quarentena fossem submetidas a teste da COVID19, antes de deixarem os estabelecimentos onde estiveram em quarentena. É que a infeção por COVID19 está sendo estudada pela comunidade científica em diversas partes do mundo, não havendo, porém, a certeza do contágio, sobretudo quando temos disparidades na disseminação da infeção em diferentes países. Há países, por exemplo, que se basearam em informações científicas já existentes, para identificar a doença e, mesmo assim, estão numa situação de quase descontrolo quanto a forma atípica como a infeção está a generalizar-se e a propagar-se com consequências nefastas no seio das populações.
Há correntes de pensamento que defendem a realização de testes de forma mais abrangente, precisamente porque não há certezas em relação ao período de transmissão e a capacidade real do tempo de transmissão por parte dos assintomáticos. Segundo um estudo feito nos Estados Unidos da América (periódico Annals of Internal Medicine), estima-se que em cada 100 pessoas que cumprem quarentena de 15 dias, uma delas pode desenvolver sintomas após sair da quarentena.
Daí que o meu entendimento e a minha firme convicção de que a segurança e a antecipação no impedimento da transmissão da infeção por COVID19 requerem que se vá para além daquilo que já se sabe através de evidências constatadas e dos aconselhamentos da OMS.

Caso de infeção da cidadã chinesa

Quanto ao surgimento do primeiro caso positivo de infeção em São Vicente, estou certo de que as autoridades sanitárias vão referenciar e acompanhar todos os contactos da Senhora Chinesa de São Vicente, a fim de tomar as medidas que se imponham em ordem à necessárias prevenção e bloqueio da propagação da infeção.
As eventuais falhas clínicas, epidemiológicas, técnicas e procedimentais no atendimento, acompanhamento e tratamento da paciente chinesa em São Vicente devem ser tratadas pelas autoridades sanitárias com rigor e transparência e, no final do inquérito, estou convencido que os resultados serão tornados públicos e tomadas as medidas que se impõem. Creio que neste caso não há como tentar culpabilizar o governo por eventuais falhas políticas.
A hora é de concentrarmos e mantermos foco na prevenção, combate, bloqueio e na erradicação da infeção por COVID19 para podermos vencer a pandemia. A segurança e antecipação no impedimento da transmissão da infeção por COVID19 requerem que se vá para além daquilo que já se sabe através de factos e evidências constatadas e verificadas. Por isso, sou de opinião que o Estado de Emergência seja prorrogado até dia 30 de abril de 2020.

Encontro com os profissionais de imprensa

Neste processo de prevenção e combate à COVID19, os órgãos de comunicação social têm feito um excelente trabalho e pode ser importante um encontro entre o Chefe do Governo e os representantes dos media como forma de motivá-los, incentivá-los e reforçar os seus desempenhos, sobretudo na área da comunicação, informação e educação em saúde pública. O encontro pode ser no mesmo formato daquele que aconteceu com os Presidentes das Câmaras Municipais.

Tentativa de partidarização da pandemia

A tentativa de partidarização das epidemias ou mesmo das pandemias não traz vantagem política, pelo contrário resulta em desvantagem e tivemos essa experiência em 1995, aquando da epidemia da cólera e em 2009, com epidemia da dengue. Qualquer tentativa de tirar aproveitamento político com doenças desta envergadura está condenada ao fracasso. Por isso, devemos estar todos unidos num enorme esforço para dar combate efetivo à COVID19 por forma a protegermos a saúde e a vida das pessoas.

Quarentena no Riu Karamboa

Considero uma medida acertada, a submissão de todas as pessoas que estavam em quarentena no hotel da Boa Vista ao teste de diagnóstico da COVID19. Para segurança, sugiro que a quarentena seja de 21 dias. A quarentena domiciliária não dá garantias de cumprimento integral da mesma, sem riscos para outras pessoas e como em Cabo Verde, até este momento, não temos grande quantidade de pessoas que tiveram contactos com os infetados ou que tenham frequentado lugares e países com casos de infeção por COVID19, como acontece nos países que estão fustigados pela pandemia, proponho que a quarentena seja feita, obrigatoriamente, em espaços próprios controlados pelas autoridades sanitárias e de segurança.
Em relação a pandemia da COVID 19, não há certezas no que concerne a: contagiosidade, transmissão sobretudo por parte dos assintomáticos, patogénese, período exato de incubação, possibilidade de retransmissão, virulência, fontes de transmissão em não viventes, ou seja, em utensílios etc, resistência do vírus no espaço e no tempo, capacidade de mutação de estirpes virais e outros aspetos patognomónicos e não patognomónicos da infeção.

Prolongamento do Estado de emergência

Considerando a evolução da pandemia e quadro de morbimortalidade é meu entendimento que o prolongamento do Estado de Emergência deve ir, pelo menos, até dia 30 de abril em todas as ilhas de Cabo Verde. Desde que haja explicação sobre o manuseamento correto, sempre defendi e continuo a defender o uso de máscaras em lugares públicos, estabelecimentos de prestação de cuidados de saúde e sempre que haja possibilidade de contacto através de conversas com pessoas fora do domicílio.
O uso das máscaras é uma das formas efetivas de prevenção e combate contra a COVID 19, com sustentabilidade científica. Também sou de opinião que nem o país nem o mundo não podem ficar parados por muito tempo. Vamos ter que voltar paulatinamente à normalidade, cumprindo rigorosamente as possíveis medidas de prevenção e de combate, pois a pandemia vai continuar pelo menos durante um ano e, seguramente, haverá mais casos e vamos ter que conviver com a possibilidade de presença do novo coronavírus, por muito mais tempo.
As medidas de confinamento, isolamento e de paralisação das atividades económicas, tem um papel importante na redução do impacto negativo em termos de incidência, prevalência, mortalidade, de sobrecarga e congestionamento do Sistema Nacional de Saúde. Mas não conseguem eliminar os casos e nem estancar o processo, pelo menos durante um ano ou mais.

Isolamento da Praia e prolongamento do EE nas ilhas de Santiago e Boa Vista

Tendo em conta a evolução de propagação da infeção pelo novo coronavírus na Praia (neste momento, 23 de Abril de 2020), aconselho o isolamento da Praia em relação aos outros Concelhos de Santiago, pois há sempre formas de controlar o isolamento da capital, sem pôr em causa as necessidades sociais e econômicas vitais dos diferentes concelhos.
Ainda sobre a evolução da epidemia na Praia, não faz sentido técnico e nem ético, não divulgarem os bairros afetados por COVID19. Os nomes e as informações das pessoas é que não devem ser divulgadas. O argumento de estigmatização de pessoas faz sentido, mas o de estigmatização dos bairros, não.
Não tenho dúvidas de que um dos fatores que aceleraram e reforçaram a disseminação e propagação descontrolada do novo coronavírus nos países mais fustigados pela pandemia foi e é, justamente, a decisão de tratamento dos infetados assintomáticos e com sintomatologia ligeira e moderada nas suas respetivas residências.
Ainda bem que Cabo Verde não está a seguir esse caminho e espero que não venha segui-lo. Entendo que o exemplo desses países no aspeto acima referido nem sequer merece ser mencionado, devendo ser descartado, liminarmente.
Sobre o prolongamento do Estado de Emergência nas Ilhas de Santiago e Boa Vista, não sei qual foi o aconselhamento das autoridades sanitárias e do Governo nem qual será a decisão do PR e do Parlamento. Porém, eu defendo a prorrogação do Estado de Emergência nessas duas ilhas por mais 15 dias, para maior segurança epidemiológica e da saúde coletiva, sendo certo que é urgente e necessário o reforço da assistência financeira e alimentar às pessoas que necessitam.

Análise comparada da COVID-19 entre Senegal e Portugal

Numa análise comparada da evolução da pandemia da COVID19 em diferentes países e regiões do Mundo, tomo como simples exemplo Senegal e Portugal. Senegal e Portugal confirmaram os seus primeiros casos de infeção pelo novo coronavírus, coincidentemente, no dia 2 de março de 2020 e neste momento temos a seguinte situação nesses dois países: Senegal com cerca de 15,85 milhões de habitantes, tem 1115 casos confirmados e 9 óbitos. Portugal com cerca de 10,25 milhões de habitantes, tem 25190 casos confirmados e 1023 óbitos.
Apesar de não ser aconselhável a análise comparativa linear neste tipo de pandemia, fatores geográficos, climáticos, genéticos, etários, ambientais e muitas outras, diferentes especificidades podem estar a ditar esta enorme diferença de casos e de óbitos.
Considerando que ainda persistem muitas incertezas em termos epidemiológicos e de saúde pública em relação a COVID19, para além da indicação da OMS de testar, testar, testar (…), eu acrescento investigar, investigar, investigar (…), no que concerne a origem do novo coronavírus, contagiosidade, transmissão, especificidades dos assintomáticos, patogénese, período exato de incubação, possibilidade de retransmissão, virulência, prevenção, tratamento, fontes de transmissão em não viventes ou seja utensílios etc, resistência do vírus no espaço e no tempo, capacidade de mutação de estirpes virais e outros aspetos patognomónicos e não patognomónicos da infeção.
Tendo em conta as incertezas técnicas epidemiológicas e científicas; é meu entendimento que, para salvaguardar a segurança epidemiológica e o bloqueio completo do desenvolvimento da pandemia, os diferentes Estados devem apostar fortemente no reforço do financiamento dos Sistemas Nacionais de Saúde em matéria de pesquisa científica, cortando bruscamente nos orçamentos destinados a ações bélicas e sectores menos prioritários.

*Médico de Clínica Geral, Especialista, Mestre em Saúde Pública e Presidente da Comissão Especializada da Saúde e Questões Sociais do Parlamento da CEDEAO.



1 COMENTÁRIO

  1. O encerramento de quase tudo e os prolongamentos do estado de emergencia por causa do COVID-19, esta mesmo a matar à economia no mundo e Angola não fica atras principalmente que depende-se muito do petróleo aqui.

    O COVID-19, chegou para nos educar bem. Isto me faz pensar que até 2030 maioria das empresas no mundo irão proceder em digitalizarem se cada vez mais. Quem continuar a ignorar o mundo moderno das TICs, verá a sua empresa a fundir. Hoje em dia é praticamente indispensável qualquer empresa ou mesmo qualquer profissional em qualquer àrea (canalizador, eletricista, professores independentes, pequenos, medios e grandes empresários), migrar em ter pelo menos uma website.

    Mais terminar com uma website também já não é sufficiente. Hoje em dia é a combinação de uma website e de como esta site apresenta se pela internet em seu todo que vai dictar o successo. Envolve ter uma site, pesquisar palavra chaves para o site, colocar la na google e outros motores de pesquisa, preparar/auditar as páginas do site para SEO, cadastrar-se nas várias redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter, LinkedIn, Tik Tok etc. etc.), e outras sites relacionada ao mercado alvo que dará sucesso a qualquer um no futuro.

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